Dívidas, comissões e hemorragia financeira

Foto: Reprodução / Facebook do São Paulo

Não é novidade nenhuma que a pandemia do Covid-19 arrebentou com as receitas de todos os clubes de futebol do mundo e fez as dívidas aumentarem.

Porém, nos últimos dias foram publicadas diversas matérias sobre o prejuízo financeiro que o São Paulo vem sofrendo, com dívidas de diversas origens.

Após o São Paulo ter divulgado seu balanço financeiro de 2019, foi possível identificar o déficit de R$ 156 milhões, sendo que R$ 81 milhões dessa conta total, representam acordos sobre dívidas trabalhistas antigas.

Gestão deficitária há anos

É preciso separar algumas coisas antes de criticar apenas a gestão atual por esse rombo nos cofres, pois como citamos acima, quase metade do valor está relacionado a prejuízos antigos.

Ricardinho, ex-meia do São Paulo
Ricardinho, ex-meia do São Paulo

Um exemplo, foi o acordo de R$30 milhões sobre uma dívida do clube com o ex-meia Ricardinho que se arrastou por 15 longos anos e foi gerada ainda na gestão de Marcelo Portugal Gouvêa.

Os juros e encargos ao longo de todos esses anos, elevaram a dívida ao absurdo valor mencionado acima.

Ter dívida não é problema. O problema é não pagar

Ano após ano, o clube vem acumulando pendências de gestões passadas e por volta e meia, é obrigado pela justiça a quitar os débitos ou buscar acordos.

Nas apurações realizadas, a cobrança das dívidas pelos atletas, na maioria dos casos, são justas e o clube ou deixa a desejar na elaboração dos contratos ou na resolução dos casos, fazendo os cofres sangrarem.

Comissionamentos imorais

No mundo dos negócios é comum ver empresas pagando comissões para intermediários de transações. Isso é juridicamente legal, desde que respeitadas regras de conformidade.

O problema vem quando os valores praticados estão acima da média e quando há um pagamento muito recorrente ou frequente para o mesmo intermediário. Isso pode passar a sensação de favorecimento, algo totalmente anti-ético.

Aidar e Cinira | Arquibancada Tricolor
Carlos Miguel Aidar e sua namorada, Cinira Maturana, que receberia comissão por negociações

O caso mais emblemático talvez seja o do ex-presidente Carlos Miguel Aidar e sua namorada Cinira Maturana, que representava uma empresa chamada TML Foco Consultoria, que em 2015 receberia 20% de comissão sobre qualquer contrato de patrocínio que fechasse para o clube.

Meses antes, ainda em 2014, segundo apuração do LANCE!Net, uma negociação já fechada com a Puma para fornecimento de material esportivo ao clube, foi desfeita quando a empresa se recusou a pagar comissão a Cinira.

Ainda nessa linha de intermediação para negociação de atletas (que volto a dizer, não é ilegal do ponto de vista jurídico), o Globoesporte.com publicou um levantamento de todas as empresas com as quais o São Paulo tem pendências:

Intermediação | Arquibancada Tricolor
Lista completa das pendências financeiras por intermediação de atletas que o São Paulo mantinha até 31 de dezembro do ano passado – Globoesporte.com

Pressão por títulos, endividamento aumentando

O aumento das dívidas com intermediação na negociação com atletas nos mostra também como a gestão do clube lida com a pressão por títulos em seu último ano no comando.

O São Paulo que apresentou um balanço com superávit (lucro) de R$ 7,2 milhões em 2018, teve um crescimento também nas despesas operacionais que saíram de R$ 397,5 milhões em 2018 para R$ 554 milhões em 2019.

Na necessidade de diminuir as críticas dos torcedores e também internas, a gestão Leco abriu os cofres para investir mais pesado em jogadores, porém, sem um plano estratégico adequado.

É preciso investir, claro, e nomes como os de Daniel Alves, Tiago Volpi, Tchê Tchê, Hernanes, Pato e outros, custam dinheiro, mas agregam valor e qualidade técnica.

O problema é o alto valor investido em jogadores de nível duvidoso e que não mostraram nada ao clube como Éverton Felipe, Calazans, Biro-Biro, Maicosuel e tantos outros.

maicosuel | Arquibancada Tricolor
Maicosuel, mais de R$ 1 milhão em salários e encargos

Poucas fontes de receita, falta de criatividade e venda de atletas

Com grandes gastos e dívidas, o caminho natural seria trabalhar para diversificar fontes de receitas, certo? Não no São Paulo de Leco.

O clube basicamente depende de receitas que vem da venda dos direitos de TV (algumas vezes com cotas já antecipadas) e especialmente, da venda de atletas.

Nos últimos anos, o clube loteou mais espaços na camisa (cada vez mais parecida com um macacão de Fórmula 1), mas viu os valores pagos pelas empresas, cada vez menores.

As receitas do Morumbi também vem caindo ano a ano, assim como os valores arrecadados com publicidade, propaganda e com o programa Sócio-Torcedor.

Programa ST | Arquibancada Tricolor
Programa Sócio-Torcedor: Irrelevante para torcedores e na arrecadação de receitas

Logicamente, em uma melhor fase de títulos e conquistas, tudo dá certo e funciona melhor. O São Paulo já vendeu até pedaços da grama do Morumbi e das redes dos gols na época do Tricampeonato Brasileiro.

Mesmo assim, é nesse momento que o clube precisa se reinventar, mas mostra muito pouco, especialmente em seu departamento de marketing, que só vem na memória dos torcedores quando veem os copos comemorativos à venda nos jogos.

Muito pouco para um clube com mais de 18 milhões de torcedores-consumidores.

Último ano da gestão Leco

Não há dúvidas que o momento econômico prejudica e muito na manutenção de contratos e criação de novas receitas, mas bem antes disso, o clube fazia pouco para se destacar.

Leco
Leco tem seus últimos meses como presidente do São Paulo

Com os últimos meses da gestão do presidente Leco, é possível cravar um balanço negativo, já que dos 8 anos sem títulos, 5 deles foi com o atual mandatário.

O saldo é negativo e muito abaixo do esperado, pois quando assumiu a presidência em 2015, Leco dizia que sua administração teria um foco na redução de dívidas.

Isso até aconteceu no começo, mas como já foi passado acima, os gastos aumentaram muito. Coincidentemente, por ser o último ano da administração do presidente, a sensação que fica é que a bomba será deixada de presente para o próximo que vier.

Como isso se resolve?

Não há um remédio rápido, mas se um dia os gestores forem responsabilizados fiscalmente por suas ações no comando do clube, poderia gerar uma consciência maior daqueles que só acumulam dívidas e problemas.

Mudar o sistema de eleição do clube que perpetua no poder os mesmos grupos políticos, seria uma saída. Sócios e alguns conselheiros que pulam de um lado político para o outro também colaboram para o momento.

Esperamos poder entrevistar os candidatos à presidência do São Paulo para entender e mostrar aos torcedores, quais são os objetivos de cada um para o clube.

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Um abraço!

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