Na noite desta última quarta-feira (29), as mídias sociais dos são-paulinos se agitaram com o anúncio que o Ministério Público acolheu uma denúncia apresentada em junho sobre lavagem de dinheiro e corrupção no São Paulo.
Além do ex-presidente Carlos Miguel Aidar, sua ex-namorada Cinira Maturana, o advogado José Roberto Cortez, Maria Eugênia Cortez, Keila Cristina da Silva Nascimento e Bruno Rafael Minelli, encontramos os nomes de Douglas Schwartzmann (atual secretário-geral do São Paulo FC) e Leonardo Serafim (ex-diretor jurídico, mas atuante hoje no clube, segundo fontes internas).
A situação liga um alerta sobre muitas pessoas que estiveram ligadas a gestões do clube nos últimos anos e pode desencadear outras denúncias, caso a apuração e investigação siga seu curso sem alterações.
A chance de fazer uma limpeza
O São Paulo tem aqui uma grande oportunidade de ir a fundo nas investigações e mostrar ao mercado e torcida que tem interesse em mudar de patamar.
O compromisso com a honestidade e lisura deveria ser uma obrigação, mas em uma instituição com modelo associativo, as entranhas ficam restritas a poucas pessoas, assim como a fiscalização por eventuais problemas e prejuízos.
Temos bons exemplos recentes sobre esse modelo de gestão, que vem corroendo dois gigantes do futebol: o Cruzeiro e o Barcelona.
Se a diretoria atual tem interesse em reorganizar o clube, essa seria a hora ideal para colaborar com todas as investigações.
O que preocupa?
Como torcedor, alguns pontos me preocupam em tudo isso. Especialmente o fato de termos integrantes da gestão atual, indicados na investigação, além de terem participado de gestões anteriores.
Fora este caso, a presença de pessoas que tiveram problemas com a justiça, tem sido comum em grupos e ações da gestão atual.
Um exemplo é a ação anunciada pelo São Paulo para comandar a reformulação do REFFIS. Será criada a Divisão de Excelência Médica (DEM), que vai reunir e coordenar os departamentos médicos do clube em todos os esportes do clube.
A comissão que chefia o DEM, reúne três nomes da área de saúde (Turíbio Leite, Fernando Fernandes e Marcos Nobel), três conselheiros e um grupo de ‘notáveis’, que tem o ex-jogador Kaká e outros profissionais da área.
Porém, entre os três conselheiros que foram nomeados, (Dorival Decosseau e Jaime Franco, que “pulou o muro” nas eleições, deixando de apoiar Natel e decidindo apoiar Casares, algo que acaba sendo normal no clube), há o nome de Daurio Speranzini Junior, executivo da GE, preso em 2018 em operação da Polícia Federal, que investigava um esquema de fraude em licitações para o fornecimento de equipamentos médicos e hospitalares no Estado do Rio de Janeiro.
A justiça é responsável por condenar ou inocentar os réus e não cabe à minha pessoa fazer qualquer juízo sobre os citados, porém, como comentei acima, fico preocupado como torcedor.
Como isso é visto por patrocinadores, investidores e o mercado em geral? Há confiança em trabalhar com o clube que tem pessoas ligadas a situações como essa?
Profissionalização e Clube Empresa
Recentemente, uma entrevista do executivo Abílio Diniz, gerou comentários de torcedores, que sempre lembram de seu nome para investir no São Paulo ou comandar algum tipo de profissionalização.
Porém, uma profissionalização ou transformação do clube em um modelo de gestão semelhante a de uma empresa, não é simples e precisa justamente ser executada por quem perderia o poder no modelo atual. Ou seja, bem provável que jamais saia do papel.
Transformar o clube em empresa também não é garantia alguma de sucesso, mas possibilita auditorias sérias, fiscalização externa e responsabilização criminal a quem lesar a instituição, se o processo for bem feito.
O próprio Abílio Diniz, acompanhou de perto muitas das decisões certas e erradas tomadas em gestões anteriores, sem se manifestar ativamente nas redes sociais, talvez por sua amizade com Juvenal Juvêncio. Qual a garantia que eu, como torcedor, posso ter que um executivo investidor, não queira interferir em escalações, decisões técnicas que não cabem a ele, como muitos especulavam que aconteceu no passado?
Justamente por esses motivos, é necessário implementar um modelo de gestão de uma empresa, na qual cada um fique em seu quadrado, sem interferir nas decisões de outros por hierarquia, com metas e objetivos claros, remunerações devidas, prestações de contas e tudo aquilo que o mercado corporativo chama de ‘compliance‘.
Quais os próximos passos?
Em relação à denúncia acolhida pelo MP, os réus tem dez dias à partir do dia 24 para apresentarem suas respectivas defesas.
Preventivamente, até como demonstração de colaboração às investigações, entendo que o São Paulo DEVE afastar todos os nomes indicados, que estejam atuando no clube.
Para seguir uma remodelação, seria vital que o estudo para separação do futebol e área social do clube evoluísse, mas ao que parece, tudo parou em 2019.
Recentemente, o Conselho Deliberativo do São Paulo, criou um perfil no Twitter para se aproximar dos torcedores e fornecer informações sobre suas atividades. Chegamos a perguntar sobre o ponto acima, mas não tivemos respostas.
Como sempre, vamos acompanhar o desenrolar de tudo isso, pois aqui do lado de fora, nós torcedores só podemos cobrar por lisura, idoneidade e prestação de contas.
Tá vendo como os problemas do clube não se resumem a xingar o desempenho de jogadores e trocar treinadores?
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