A (des)governança Tricolor!

Por Fernando Michelutti – Papo de Arquibancada

Não é de hoje que você e eu, caro torcedor são paulino, sabemos que o Tricolor mais querido do mundo, que auto-intitulou-se SOBERANO há alguns anos atrás, não ostenta mais esse título. Eu particularmente nunca gostei do mesmo, apesar de que como torcedor apaixonado achar sim que o São Paulo Futebol Clube é o maior clube brasileiro. Credito isso a nossa rica e curta história no cenário futebolístico: somos o clube mais vitorioso e o mais jovem! E eu nunca creditei tal fato as péssimas administrações que se sucedem desde 2009, como os aproveitadores que criaram o título acreditavam, que eram os intocáveis da administração futebolística!

Como eu não tenho rabo-preso com ninguém posso declarar: O São Paulo Futebol Clube está perdido. A (des)governança é TOTAL!

Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança, Governança Corporativa é:

“O sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. 

As boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum.”

Você enxerga algum traço da definição acima no ATUAL São Paulo? Aquele clube que outrora foi modelo de gestão?

A despeito de termos mais de vinte e poucos milhões de torcedores espalhados Brasil a fora e termos um orçamento multi-milionário envolvido, o São Paulo Futebol Clube é uma instituição privada sem capital aberto a investidores e/ou seus pitacos. É um clube social como está no nome desde a sua fundação, e que é controlado pelo mesmo grupinho há anos e anos a fio. Não existe governança ou gestão profissional e nem existirá enquanto formos apenas “um clube”. Contas maquiadas e escândalos vão continuar acontecendo visto que não existe cobrança. Eu e você não podemos fazer nada! Essa é a triste realidade.

Abro aqui um parêntesis aos mais críticos: O novo estatuto do Tricolor é um engodo! Apesar do texto parecer bom e prever: a criação de um Conselho de Administração, o fim da reeleição dos presidentes, a criação de uma diretoria profissional remunerada, com três a nove integrantes, o fim dos vice-presidentes amadores, e a mudança da data da eleição de abril para dezembro, ISSO NÃO FAZ DO SÃO PAULO UM CLUBE COM GESTÃO PROFISSIONAL, UMA VEZ QUE TODOS OS CARGOS FORAM PREENCHIDOS NA BASE DA POLITICA E NÃO DA MERITOCRACIA!

O próprio Leco em entrevista recente, ao ser questionado sobre o motivo de não colocar profissionais claramente reconhecidos pelo mercado em suas devidas posições, disse que precisava indicar quem fosse de confiança dele e que conhecesse os bastidores do São Paulo, ou seja: a velha política impera! Ou alguém aqui duvida que o perfumista Vinícius Pinotti, por exemplo, é o nome ideal para ser o diretor de futebol do São Paulo? O que ele conhece desse meio? Qual sua formação? Qual sua experiência prévia? A resposta passa por um gordo empréstimo feito ao clube para adquirir jogadores altamente questionáveis e que nem mais no clube estão.

A gota d’água veio ontem: portais publicaram aos quatro ventos que a maior torcida organizada do clube (que para mim não tem nada de organização) e mais alguns blogueiros e outros torcedores DITOS COMUNS (escolhidos pelos organizados), participaram de um nova reunião com a diretoria para entregar um caderno de “encargos” que eles deveriam seguir para executar um bom planejamento para 2018. É mole? Aqui vemos um claro exemplo do que se tornou o São Paulo: o rabo abanando o cachorro!

Algumas bizarrices me saltam aos olhos sobre o tal encontro. Gostaria de compartilhar algumas delas com vocês:

  1. Ficou claro que foram recebidos devido ao medo que estes dirigentes, que não honram as calças que vestem, tem do tal grupo. O episódio que ocorreu em 2016, parece que marcou os cardeais do Morumbi de tal maneira, que se prezaram a esse papelão, visto que proibiram os organizados ou eles mesmos, de comentar qualquer coisa depois de ocorrida a reunião.
  2. O que uma torcida dita “organizada”, que não consegue ter um cadastro de seus próprios torcedores para punir seus associados em tantos casos de violência que já aconteceram, ou expor suas contas publicamente e não depender de ajuda do clube para financiar eventos como o carnaval e etc, pode realmente acrescentar em termos de gestão? Se você caro leitor, já trabalhou em alguma empresa de médio ou grande porte, vai entender melhor o que estou falando ao ver as fotos do tal memorando que rolam na internet…É NO MÍNIMO RÍDICULO!
  3. A promiscuidade que esse tipo de encontro gera. Ou alguém duvida que ingressos e outras benesses ainda não são destinadas ao torcedor organizado COMO FORMA DE AJUDAR O CLUBE? Ou seja, o mesmo grupo que vai cobrar depois recebe ajuda lá na frente? Como fica esse claro conflito de interesses?
  4. Quando um “petit comité” tem que “dar a solução” algo muito errado está acontecendo. São esses 20 e poucos torcedores que estiveram ontem no CT da Barra Funda mais importantes ou melhores esclarecidos que os outros 20 milhões restantes?
  5. Como disse, o São Paulo é uma marca gigante. Se quisessem uma consulta a opinião popular efetiva, não seria mais fácil por exemplo fazer isso através de alguma plataforma de mídia social? Começando talvez por uma pesquisa com aqueles que pagam o programa de Sócio-Torcedor por exemplo? As reivindicações feitas até são legitimas, porem podem ser vistas em qualquer fórum de torcedores ou em páginas ligadas ao clube no Facebook por exemplo. Não precisa ser especialista para saber que precisamos de dois laterias, manter a base do atual elenco, fazer uma limpa nos acomodados e deficientes tecnicamente, contratar bons nomes para 2018, melhorar a transparência divulgado balanços melhores elaborados e cuidar melhor de programas como o próprio Sócio Torcedor.
  6. E por último e mais bizarro de todos é o seguinte: ISSO SÓ ACONTECEU PARA INGLÊS VER! Se tivéssemos ganhado títulos durante o ano, ninguém ia querer saber de nada! As cobranças só acontecem na crise. Porque não houve reunião semelhante na época do terceiro mandato de Juvenal Juvêncio? Porque as organizadas se calam quando é conveniente?

Para finalizar, o excelente portal Arquibancada Tricolor, recentemente fez uma imagem que “desenha” a bagunça que vivemos em termos de gestão:

arqtricolor | Arquibancada Tricolor

Obviamente eu sou um apoiador do #ForaLeco porém apenas isso não irá resolver nada, afinal desde o finado Juvenal Juvêncio, estamos no 3° presidente e o que de fato mudou? Nada! E nem irá mudar. O clube não tem um ambiente saudável para ter uma oposição forte e que fiscalize o que é necessário.

Seria muita presunção minha dar uma solução definitiva para o clube, porém com certeza isso passa pelo que estamos cansado de ver na Europa, e elogiamos a plenos pulmões nas conversas de bar: a formação de um Clube-empresa!

Clubes empresa são comuns no esporte norte-americano e em diversos países da Europa, mas ainda são raros no futebol sul-americano. Novamente, não sou o bastião da verdade, e sei que mudanças como essa passam também pela estrutura do futebol nacional e precisam de apoio de outros players, sejam clubes, entidades, jogadores e etc.

Por exemplo a criação do sistemas de ligas, onde essas ligas esportivas profissionais locais atuam sob a forma de franquias, onde cada clube é uma empresa que detém um percentual das ações da liga, que é, por sua vez, uma empresa maior, que gere as competições entre suas afiliadas. Exemplos como Premier League, MLS e Lega Serie A, na Inglaterra, Estados Unidos e Itália respectivamente, são modelos a seguir.

Outra fator de mudança que é vital: sócios torcedores adimplentes deveriam poder votar e quiça até se candidatarem a posições dentro do clube, desde que comprovadamente fossem competentes para tal! Não sei exatamente como isso poderia ser legalmente casado com um clube empresa, porém não podemos deixar decisões de eleger conselheiros e afins na mão de mais ou menos 3 mil sócios, que muitas vezes frequentam apenas a parte social do clube.

Deixo aqui um convite caro leitor: Se você que estiver lendo entender mais do “juridiquês” e quiser escrever um texto explicando como o São Paulo poderia se tornar um clube empresa e se separar da sua parte social, fique a vontade! Terei o maior prazer em publicar e divulgar sua coluna neste espaço!

Precisamos resgatar as tradições do São Paulo Futebol Clube. É  impossível pensar que na década de 90, estávamos anos luz de nossos rivais, ao fazer coisas básicas, porém impensáveis na época, como por exemplo: pagar os jogadores em dia, investir em CTs de categoria de base, ter um estádio próprio, investir em bons profissionais extra campo como médicos, fisiologistas, realizar ações de marketing e etc. Todos os nossos grandes rivais ou já nos ultrapassaram nesses quesitos ou estão no minimo no mesmo nível.

Tudo na vida evolui e  precisamos de mudanças estruturantes, e não ficar reféns de membros notáveis da diretoria, que irão surgir de 20 em 20 anos para colocar a casa em ordem! O São Paulo Futebol Clube é grande demais para ser refém do acaso.

E você torcedor, o que acha?

Deixei suas opiniões e sugestões nos comentários abaixo! Quem sabe alguém da nossa amada diretoria resolva ler esse texto e pensar fora da caixa trazendo o São Paulo novamente ao protagonismo nacional?

Ou será que apenas 20 cabeças continuarão a dar idéias aos nossos dirigentes?

Um abraço,

Fernando Michelutti

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