Agonia sem fim | OPINIÃO

Foto: Paulo Pinto / São Paulo FC

A data de 15 de setembro de 2021 passa para a história do São Paulo Futebol Clube como o “Dia da Confissão Tardia”.

Com muito drama e um quê de comicidade, o presidente Júlio Casares afirmou em entrevista ao Blog do Menon, do jornalista Luis Augusto Simon, que este é o “Ano da Agonia”.

Desnecessário esclarecer para o torcedor que o reconhecimento da situação de emergência financeira, incapacidade e gestão temerária vem com uma década de atraso. Já o sucateamento da estrutura de tratamento e recuperação de jogadores, segundo admitido pelo diretor de futebol Carlos Belmonte ao canal de Arnaldo Ribeiro e Eduardo Tironi do YouTube, só é oficialmente revelado após DUAS décadas de desatualização.

Aquilo que alguns profissionais de imprensa – por vezes agindo como Relações Públicas –, chamam de “transparência” só acontece depois de seis meses de questionamentos e críticas pesadas de torcedores e jornalistas mais atentos (e
independentes) aos departamentos médico e fisioterápico do clube, diante do acúmulo de desfalques por lesões musculares que parecem eternas.

E mais: a admissão de degradação estrutural e decadência aconteceram DEPOIS das seguidas demonstrações de insatisfação de Hernan Crespo. O desfecho constrangedor foi o próprio treinador tornar-se porta-voz do discurso de “reconstrução” alinhado com a diretoria.

Lembremos que os dirigentes que apenas nas últimas semanas expõem o óbvio acompanharam essa trajetória descendente e, em muitos momentos, integraram a administração. Na prática, são oriundos do mesmo “Criador”: Juvenal Juvêncio, cujo terceiro mandato, sabidamente espúrio, violentou o estatuto, feudalizou definitivamente a política do clube e é a gênese de todo o cataclismo que nos transformou em coadjuvantes – e dos mais débeis – no futebol nacional.

Neste momento em que se assume publicamente a decadência do São Paulo e sua defasagem em relação aos rivais e mesmo a “camisas” de menor expressão histórica, é oportuno lembrar de algumas passagens:

  • Já em 2011 Luís Fabiano, contratado por €7 milhões, chegou lesionado, e o departamento médico previu 15 dias para recuperação. Foram 7 MESES. E, como se sabe há tempos, o “Fabuloso” não tinha mais condição de atuar em nível sequer próximo ao de sua primeira passagem. Obviamente, de duas uma: ou tivemos um grave problema de imperícia dos profissionais que avaliaram e chancelaram a contratação, ou eles foram pressionados a omitir a verdade por conta de interesses… questionáveis. A partir do “caso” Luís Fabiano, tornou-se ‘tradição’ no São Paulo negar à imprensa estimativas sobre prazos de recuperação;
  • Em 2012, Rogério Ceni, AINDA NO GRAMADO, durante a comemoração do título na Sul-Americana, afirmou que aquele não era o nível de título ao qual o clube deveria aspirar e que muita coisa tinha de ser revista;
  • Em 2013, após a esperada derrota para o Corinthians na Recopa Sul-Americana, o mesmo Ceni afirmou que o São Paulo havia parado no tempo. Nos anos seguintes, reiterou em vários momentos a necessidade de melhorias. Não por acaso, antes de ser contratado pelo Fortaleza, certificou-se de que o clube investiria em estrutura, descreveu o que era necessário, e o clube cearense colhe frutos até hoje.

Os problemas, bem se sabe, são antigos, e a atmosfera de arrogância e acomodação, sobre a qual falamos desde 2011/2012, contribuiu (e ainda contribui) para reduzir a importância e manchar a história do São Paulo Futebol Clube ano após ano.

Quando me sentei para redigir este relato-desabafo, veio-me a nada original ideia de buscar fatos históricos relacionados à data para fazer analogias com o tema tratado. Assim o fiz.

Dois eventos históricos ocorridos num 15 de setembro chamaram a atenção: o mais próximo, em 2008, foi a quebra do Lehman Brothers, marco do colapso bancário do subprime nos Estados Unidos, atingindo em cascata os mercados globais; o mais remoto foi a descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928.

No cinzento 15 de setembro de 2021, em que a queda humilhante para o Fortaleza somou-se à nossa interminável lista de vexames, só nos resta lamentar a ganância e incompetência que trouxeram o São Paulo a esta situação pré-falimentar e torcer muito, mas MUITO, para que algum abnegado encontre uma cura no meio do mofo que se acumula na instituição.

Por Dario Campos@AgoniaTricolor


*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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