Carrinhos e Firulas – Ofensivismo ou defensivismo: o dilema tricolor

Foto: Rummens

A coluna Carrinhos e firulas é escrita pelo Victor Oliveira e sempre será publicada às sextas, contendo muitas análises sobre o Tricolor!

Há 10 anos, o São Paulo oscila seu comando técnico entre profissionais que privilegiam a defesa ou o ataque.

Com a demissão de Muricy Ramalho em 2009, o time deixou de ter o padrão de jogo dos 4 anos anteriores: três zagueiros fortes fisicamente e imbatíveis no jogo aéreo. Dois alas com excelente chegada ao ataque e fôlego para recompor defensivamente, quando necessário. Dois volantes com pegada e boa saída de jogo. Um jogador fazendo a ligação com o ataque, com constante chegada na área. Um atacante de velocidade caindo pelas pontas e um centro-avante trombador fixo na área. No gol, o mito Rogério Ceni.

No decorrer deste período, os jogadores mudaram, mas o time não deixou de ter esse estilo de jogo. Os jogadores contratados sabiam que precisariam se adaptar ao estilo de jogo do tricolor, caso contrário teriam dificuldades para serem titulares. O time apresentava variações táticas dentro do mesmo jogo, além de diversidade de jogadas no ataque. Ao mesmo tempo, conseguia manter a consistência defensiva.

Entretanto, após a saída de Muricy Ramalho, não houve mais um período hegemônico de um padrão de jogo definido no time. Pelo contrário, imperou o caos ao longo desses anos. Em alguns momentos, o time mudava radicalmente de estilo de jogo dentro de uma mesma temporada. Por exemplo: em 2015, após a saída do colombiano Osório, um técnico arrojado e que colocava o time para jogar ofensivamente, a diretoria trouxe Doriva, um legítimo retranqueiro para seguir o trabalho. No ano seguinte, quando Edgardo Bauza, também reconhecido por armar ferrolhos defensivos, deixou o clube, o São Paulo contratou Ricardo Gomes, técnico que privilegia a posse de bola e as jogadas envolventes.

Já no ano passado, a diretoria trocou Dorival Junior, reconhecido por privilegiar o ataque após montar aquele Santos de 2010, por Diego Aguirre, uruguaio e com vocação defensiva pelos times em que passou. Por fim, trocou Aguirre por Jardine, técnico que também gosta de armar times leves e com bastante ofensividade, como fez ao longo de sua passagem pela base tricolor. No início de 2019, Jardine mantém a ideia ofensiva e arma o time com três atacantes leves e dois laterais com chegada forte ao ataque.

Os sucessivos recomeços ao longo dessa década atrapalharam demais o São Paulo, contribuindo para o período de ausência de títulos. A falta de um padrão de jogo definido faz com que os times sejam constantemente alterados de acordo com as características dos jogadores e a preferência do treinador, além de não colocar um norte na formação de jogadores nas categorias de base, para que cheguem ao profissional cientes do papel a desempenhar em campo. Felizmente, no período, atletas da base tiveram boa adaptação e obtiveram sucesso em transferências para a Europa, como nos casos de Lucas, David Neres, Luiz Araújo e mais recentemente Eder Militão.

Pode-se citar como exemplo de clube que mantém um mesmo padrão de jogo por anos e continua no topo dos campeonatos europeus o Barcelona. Todavia, não precisamos atravessar o Atlântico para tal. Podemos olhar nosso rival de Itaquera, o Corinthians. Desde 2008, com a chegada de Mano Menezes, o time corintiano tem um mesmo estilo de jogo: uma linha de quatro defensores sólida, um volante cão-de-guarda e outro com melhor qualidade no passe; um meia de ligação, dois pontas com fôlego para recompor a todo momento e um centro-avante. No período, foram marcantes as passagens de três técnicos: Tite, Mano Menezes e Fabio Carille, que havia sido auxiliar dos dois primeiros. Por alguns momentos, a diretoria tentou contratar técnicos com outra filosofia de jogo e o resultado acabou sendo desastroso (vide as passagens de Adilson Baptista, Cristóvão Borges, Jair Ventura e Oswaldo de Oliveira).

Enquanto o São Paulo só ganhou a Copa Sul-Americana e cansou de amargar eliminações seguidas em torneios mata-mata, os corintianos conquistaram três campeonatos paulistas, três campeonatos brasileiros, uma Libertadores, um Mundial de Clubes, uma Copa do Brasil e uma Recopa Sul-Americana. Jogadores de nível mediano conseguiram se encaixar no esquema corintiano e ter destaque, como no caso do paraguaio Romero.

O São Paulo tem profissionais, estrutura e capacidade para definir um projeto de longo prazo para o futebol, baseado em um estilo de jogo, o qual norteará a política de formação de atletas na base, a contratação de jogadores e a chegada de técnicos. A tendência é voltar a disputar os títulos com mais frequência e não apenas em alguma temporada específica em que as peças se encaixaram momentaneamente, como ocorreu na conquista da Copa Sul-Americana, em 2012 ou no vice-campeonato brasileiro em 2014, quando o time contou temporariamente com o quadrado mágico formado por Ganso, Kaká, Pato e Luis Fabiano. Aliás, este último time dá uma pista sobre qual deveria sempre ser a ênfase do São Paulo Futebol Clube.

Victor Oliveira. Tenho 26 anos, moro em São Carlos-SP. Sou Engenheiro de formação e trabalho como Analista Financeiro. Sou apaixonado pelo Tricolor desde pequeno, quando comecei a acompanhar os jogos pela TV. Neste espaço, farei análises fortes como carrinhos, carregando a sutileza de uma firula.

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.

Foto: Rummens

Compartilhe esta notícia