Como é possível mudar tudo isso?

Foto: Saopaulofc.net

Após anos e anos colecionando derrotas, eliminações e decepções, o torcedor são-paulino, assim como páginas, blogs e sites, vem postando e destacando os erros de gestão no Tricolor que geraram esta fase terrível que passamos.

Comentar, apontar essas falhas e não deixar os erros cairem no esquecimento, são coisas que não podem parar. Precisamos sempre evidenciar isso, para aprendermos com o que passou, embora o comando do clube repita os erros.

Como a crítica é sempre algo mais fácil do que uma proposta de solução, resolvemos elencar alguns pontos que consideramos serem a causa disso tudo, mas vamos sugerir algumas ações que, ao nosso ver, poderiam ajudar o clube a voltar aos trilhos das conquistas.

Nossos leitores sempre nos perguntam quando e como o São Paulo pode sair dessa maré de fracassos.  Não há mais paciência com as falhas (com razão) e os resultados tem sido cobrados de forma imediatista.

O que fazer? Como fazer?

Pensando nisso, resolvemos elencar algumas ideias que poderiam, em nossa opinião, ser aplicadas no São Paulo, para começar a arrumar a casa:

Separar o social do futebol

O futuro do clube hoje é definido por 240 conselheiros eleitos por sócios da área social do clube. Destes 240 conselheiros, 160 são vitalícios e todos estes, elegem o presidente do clube. Desta forma, até associados que não torcem para o SPFC, tem direito a voto e elegem conselheiros, que definirão o futuro do clube.

Ao separar a área “Social” do Futebol do clube, a politicagem, troca de favores, e indicação a cargos por amizade, podem diminuir drasticamente.

O São Paulo iniciou um processo que prevê um estudo sobre esta separação. O documento dá um prazo de 12 meses a Leco, contados a partir da posse, para que o processo fosse iniciado. Os passos seguintes incluem a possível contratação de assessorias externas remuneradas, que precisam ser aprovadas pelo Conselho de Administração, a constituição de um Comitê Especial de Acompanhamento e as avaliações finais dos dirigentes e conselheiros sobre a transição. Um longo caminho pela frente, pois tudo precisa passar pelos atuais donos do poder.

Como garantir que alguém que detém algum poder no clube, faça um estudo isento para perder estes benefícios?

Profissionais de mercado em setores do clube

Como dissemos acima, o fato do futebol ser gerido por pessoas ligadas ao âmbito social do clube, causa uma necessidade de gestão política, preocupada em criar alianças por votos e indicações a cargos, não necessariamente por competência, mas por favores ou busca por votos. Isso não é uma particularidade do São Paulo, mas de quase todos os clubes do Brasil, que são administrados como asssociações de bairro.

O estatuto atual do clube permite a contratação e remuneração de pessoas nestes cargos, mas isso não impede que o presidente indique pessoas que são fortes politicamente para cargos que poderiam contribuir muito para uma gestão mais correta e profissional no clube. Quando você remunera um profissional, você pode e deve exigir resultados, e não é isso o que ocorre no São Paulo, mesmo após a dita “profissionalização” dos departamentos.

Diversificação de receitas

Extremamente dependente da venda de jogadores, o São Paulo sofre com dívidas e antecipação de cotas de TV para saldar juros e encargos. O Programa Sócio-Torcedor, não é uma renda que garante uma boa receita e a obtenção de verba com patrocínios, depende muito do momento em campo, para atrair marcas que tenham interesse em investir, mesmo com a economia do país retraída.

Como os clubes europeus fazem para diminuir seus riscos financeiros? Criando fontes de renda diversificadas. Bilheteria, negociações de jogadores, sócio-torcedor e TV, não podem ser as únicas fontes de renda de um clube de futebol profissional.

Licenciamento de Produtos

Uma das maneiras mais viáveis para aumentar os ganhos, é o licenciamento de produtos oficiais. Logicamente, o Brasil é um país com um dos índices mais altos de pirataria e o custo de uma camisa oficial nem sempre é atrativo aos torcedores, mas o departamento de marketing do São Paulo precisa continuamente trabalhar para licenciar novos produtos, com custos variados para atender todas as classes sociais.

Até há pouco tempo, o departamento de marketing do São Paulo estava abandonado, sem gestão e muitas vezes no passado, administrado por pessoas que não eram desta área de trabalho, ocupando cargos por pura e simples indicação, como citamos mais acima.

Morumbi

Nossa casa ficou pra trás em alguns sentidos. Logicamente é um estádio privilegiado por ser gigante, um orgulho em nossa história, mas precisa entrar no século XXI. Não é porque há torcedores com o pensamento retrógrado e são “contra o futebol moderno” ou que acham que “arena é para bois”, que o Morumbi precisa ficar parado no tempo. Há dez anos, era uma das principais fontes de receita do São Paulo com shows, aluguel e venda de camarotes e festas corporativas, mas hoje tem a concorrência do Allianz Parque neste sentido e conta com vários espaços vazios ou sub utilizados.

Continuidade no trabalho

Você se lembra qual foi a última vez em que o São Paulo teve um mesmo treinador do começo ao fim do mesmo ano? Foi Muricy entre 2013 e 2015.

É impossível obter resultados com tantas mudanças, como as que vem ocorrendo no Tricolor. Postamos há alguns dias um quadro, revelando 24 trocas de treinador (contando a entrada dos interinos) no comando do São Paulo desde 2009. O resultado foi de apenas 1 título conquistado (e muito pela genialidade de Lucas Moura). Para efeito de comparação, o Corinthians no mesmo período, teve 9 trocas de treinador e colecionou 10 títulos.

Ok, nem sempre era possível manter os treinadores que passaram, mas por quê então foram contratados? Que critério foi usado?

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Responsabilidade fiscal

Este talvez seja um dos itens mais importantes nesta lista, pois como um presidente ou gestor, pode deixar uma dívida astronômica para o próximo a assumir sua cadeira e não ser responsabilizado de forma alguma?

Contratações caríssimas, sem qualquer responsabilidade com os cofres do clube, adiantamento de cotas de TV e empréstimos com juros abusivos, apenas para acalmar a torcida ou fazer impactos imediatos com conselheiros e depois, largando a conta para o próximo presidente tentar arrumar a casa. Há que se encontrar uma forma de punir quem faz este crime com os cofres do clube.

 

Mas como isso impacta no campo e na conquista de títulos? Grana!

Um clube saudável financeiramente, sem depender de algum patrono que queira fazer o que bem entende, tem capacidade para investir em contratações e se tiver profissionais capazes em sua administração, saberá investir.

Basta ver como hoje perdemos contratações quando competimos com outros, justamente por não termos os cofres em ordem e com dívidas tirando o sono da gestão do clube. Enquanto este for o cenário, esqueça contratações de jogadores que chegam para resolver.

 

https://www.youtube.com/watch?v=zJcMo6iCOW8

 

É preciso arrumar muita coisa dentro de casa, nos bastidores e departamentos do clube para termos capacidade de obter resultados melhores com frequência.

Administrações ruins ao longo dos últimos 10 anos, foram minando o clube que era pioneiro em diversos sentidos. Deixamos de ser o clube-modelo do país, para cair na vala comum e repetir erros de nossos rivais, que costumávamos criticar.

 

Por Ricardo Senna

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