Da soberania à soberba

Foto: Montagem AT

Por Aluisio Antonio Maciel Neto – Via Facebook

A história recente do São Paulo Futebol Clube poderia ser contada como qualquer tragédia greco-romana: um império em queda, em ruína pela incúria, pela incompetência de seus imperadores.

Mas nada aconteceu por acaso. Não foi o infortúnio do destino que separou, nos últimos dez anos, um passado de glórias de um presente decadente. Foi, pelo contrário, uma sequência de gestões equivocadas, de posturas arrogantes, do acometimento de uma cegueira administrativa desvariada a “queimar” todo patrimônio de conquistas que nos orgulhava.

Se fizéssemos um regresso até o ano de 2008, encontraríamos um clube reconhecido por todos, e invejado por seus rivais, por sua organização administrativa.

Havia uma comissão técnica fixa, com o competente Carlinhos Neves a chefiar a preparação física. Havia o Reffis como referência mundial na recuperação física, coordenado pelo inquestionável Luiz Alberto Rosan. Na fisiologia, Turibio Leite de Barros se destacava no desenvolvimento físico de cada atleta.

As contratações não eram feitas ao acaso, mas devidamente planejadas ao final de cada ano. Em regra, contratava-se jogadores que estavam em busca de desafios, que tinham “fome”, mais operários do que estrelas; contratava-se ao final de seus contratos, sem grandes aportes financeiros. Havia um rumo.

Ao final de 2008, o São Paulo Futebol Clube havia se tornado tricampeão Mundial, da Libertadores e Hexa-Brasileiro.

Os títulos alcançados tiveram o respaldo de toda estrutura delineada, a impulsionar o clube na direção de suas glórias e a torná-lo soberano. Não soberano nas palavras, nos discursos; soberano pelo reconhecimento de seus feitos.

Todavia, a partir de 2009, o São Paulo Futebol Clube alterou a rota do seu destino. Seus mandatários julgaram-se maiores do que a instituição, mais importantes do que os profissionais e jogadores que lá estavam.

A comissão técnica fixa se esvaiu. Carlinhos Neves, Rosan e Turibio deixaram o clube, sem que houvesse a contratação de outros profissionais a altura. Aliás, diversos preparadores físicos passaram pelo clube nos últimos anos e sequer deixaram a lembrança de seus nomes.

As contratações não mais foram planejadas. Não mais se optou por jogadores que tinham “fome” de vitória, por “Mineiros”, “Luganos”, “Josués”, “Aloísios”; jogadores simples, mas de garra descomunal. Este perfil foi substituído por jogadores renomados, estrelas, que chegaram com altos salários, se encostaram e tiveram brilhos raros, insuficientes a conduzir o clube a novas conquistas.

O estatuto foi ilegalmente alterado a fim de impedir o surgimento de novas lideranças e a asfixiar novos pensamentos, novas posturas a reconduzir o clube à vanguarda do futebol.

Os erros administrativos foram justificados tão e simplesmente pelas demissões periódicas de treinadores, como se estes fossem os responsáveis exclusivos pela perda de nossa soberania.

Ídolos do passado foram e ainda são usados como escudos para encobrir a incompetência de seus gestores, para “dar seus rostos”, suas reputações a cada novo tropeço, enquanto aqueles se refugiam das luzes das câmeras e se escondem da cobrança dos torcedores.

Hoje, o São Paulo Futebol Clube segue a sua rota decadente, de um clube que não está à altura dos demais, que não acompanhou a evolução administrativo-financeira de seus rivais; que se tornou presa fácil em clássicos, que não mais disputa títulos e que se resume, ano a ano, a se livrar do descenso.

Hoje, resta um clube que exalta a sua “soberania” apenas nas palavras, nas reuniões de seus conselheiros alienados e nos cânticos, de uma torcida apaixonada, que ecoam nas arquibancadas de um estádio obsoleto.

Hoje, não se percebe que resta apenas a soberba de um presente inexpressivo e que se resume às lembranças de um passado cada vez mais distante…

Aluisio Antonio Maciel Neto
Torcedor acima de tudo.

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