Espaço do Torcedor – O time grande que parou no tempo!

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Falta para o Goiás quase na entrada da área. Cartão amarelo para Jorge Wágner. Apesar de o lance ser perigoso, a torcida são-paulina presente no Bezerrão, em Gama, já comemora, mostrando os seis dedos que representam o hexa-campeonato. O Goiás cobra a falta rifando a bola para o abafa, Ceni espalma espanta o sufoco e deixa a torcida eufórica com a posse retomada. O juiz apita! O São Paulo é tri-campeão seguido, Muricy entra para a história e o clube cai em êxtase com a mágica sequência de títulos.

E esse foi o último grande feito do São Paulo Futebol Clube. Era tudo tão perfeito que chegava a ser inacreditável. Enquanto o Tricolor do Morumbi assumia o posto de maior vencedor de brasileiros, o seu rival estava amargando a disputa da segunda divisão. O futebol brasileiro parecia incrédulo ao vivenciar um período onde um time gigante praticamente tornava sem graça um campeonato de pontos corridos, fazendo gerar discussões na mídia sobre a volta do mata-mata.

Veio a soberba. Os cartolas do clube – os que deveriam, pois, dar o exemplo que vem de cima – esbanjam arrogância e começam a esnobar o relacionamento com outros times. Há uma autoproclamação de “Soberano”, apelido que deu nome até a um filme sobre a glória do hexa da instituição, rendendo ressonância na torcida, que realmente acreditava dominar o país do futebol. “Torcer para o São Paulo é uma grande moleza”, voltava a dizer Milton Neves. E o Tricolor assumia uma postura que refletiria fatalmente no que seria o futuro do clube.

O Corinthians lidera explicitamente um boicote nas relações com o São Paulo. Disso, há o conflito de declarações e interesses que resulta na preterição do Morumbi à Copa de 2014 no Brasil. Um grande baque para o Tricolor, que, ainda assim, reservou-se no direito de se achar maior que os outros. Enquanto isso, os rivais, que assistiram impávidos o colosso do Tricolor correm para se organizar, entendendo a situação. Na contramão, o São Paulo se acomoda e volta seus investimentos para o CFA de Cotia, que, segundo Juvenal, presidente à época, faria com que o time jogasse com onze jogadores formados em pouco tempo. Era um devaneio em meio à arrogância.

Pouco a pouco, o torcedor do São Paulo ia assistindo a todos os seus pilares de orgulho caindo. Os rivais se modernizaram, construíram estádios, investiram em estrutura e ampliaram a visão de seriedade na condução dos clubes. De repente, o São Paulo já não era mais hegemônico de títulos nacionais (com um “quê” vingativo da CBF, é verdade). Os mata-matas viraram pesadelos intermináveis, com seguidas eliminações, muitas delas para clubes inexpressivos. O “Soberano” parecia mergulhar na própria soberba e, a partir de então, de papa-títulos virou sobrevivente e chacota. Não cair e ficar no azul viraram prioridades.

Cotia, a “menina dos olhos” de Juvenal, transformou-se no reduto final de salvação do clube. Não mais se forma craque para dar retorno em títulos, mas sim superávit financeiro. A formação de elenco com jogadores do CFA de Cotia, sonho do ex-dirigente (in memoriam), era posto de lado em detrimento de contratações duvidosas e questionáveis. O Morumbi se tornou obsoleto perto dos estádios rivais e nem mesmo o REFFIS, grande orgulho e pólo atrativo de profissionais, sobreviveu como alento.

A verdade é que o São Paulo, hoje, é um clube que vive do passado. Um time que tem em seus grandes feitos antigos o seu único alicerce de sobrevida em rodas de torcedores. Aliás, ressalva seja feita à torcida: essa jamais abandonou o time, mesmo em um período tão sombrio de retrocessos. A triste realidade demonstra que dificilmente o clube consiga sair da situação alarmante que se encontra, tendo em vista que, claramente, para os dirigentes, o São Paulo continua moderno.

Sofre o torcedor, sofre a imagem do clube. E o que resta, para o fiel são-paulino, é reviver os grandes momentos de um time tão acostumado a vencer, mas que, hoje em dia, mostra-se incapaz de reagir a sua própria implosão. Torcer para o São Paulo atual é uma grande batalha, com o clube passando de motivo de orgulho a piada constante – e olha nem os rivais têm força para “zoar”, em vista de tantos regulares vexames.

A história demonstra claramente que grandes ambições exigem parcimônia e humildade. O aprendizado do Império Romano e da era napoleônica é bastante elucidativos para isso. O São Paulo conquistou o topo, tornou-se vitrine, exemplo de gestão e, de repente, parou no tempo, sendo algoz de sua própria grandeza. E o poderoso “Soberano” se reduziu a comemorar títulos de sua base e a expor seu lema de que “time grande não cai” – até quando? – como resquícios de um passado glorioso distante. Salvem o Tricolor Paulista!


Matheus Conceição.

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