Memórias de um Tricolor – A história se repete

Memórias de um Tricolor é a coluna do Thiago Francisco, sempre publicada às quartas-feira. Muitas memórias passarão por este espaço!

Como o leitor já deve saber, sou formado em história e trabalho como professor nessa área. Quando entramos na faculdade ou quando vamos iniciar o ano, sempre iniciamos com a velha pergunta: por que devemos estudar história? A resposta quase que unânime é que devemos estudar para não repetirmos os mesmos erros do passado. Mas será que isso está dando certo? Será que estamos aprendendo? Para focarmos na coluna, será que a torcida do São Paulo está aprendendo com a história?

Nossa torcida é uma torcida extremamente exigente, e não é para menos, temos que ser, porém temos como uma mania nossa encontrar culpados, essa história se repetiu no inicio dessa temporada: já estamos buscando nossos culpados, a maioria dos torcedores que estão na internet são jovens, eu também já fui um jovem, também já crucifiquei meus culpados um dia, mas posso dizer que hoje aprendi com a história, se vocês aceitam um conselho de um burro, vamos analisar nossa história e, depois se vocês acharem que é história para boi dormir podem continuar passando o ano em busca dos culpados para apedrejar.

O ano era 2002, passávamos mais ou menos pelo que estamos passando hoje, nosso último título de grande porte tinha sido o Mundial de 1993, depois disso só ganhamos Paulista e nem conseguíamos classificação para a Libertadores. Tínhamos um ótimo ataque e uma defesa não lá muito segura, historicamente como podemos perceber em qualquer pesquisa rápida no Google, o tricolor sempre que é campeão, é com uma defesa sólida, esse é nosso “DNA”.

Voltando ao ano de 2002, o time tinha um ataque arrasador, uma defesa sofrível, chegamos assim a final do torneio Rio-São Paulo e ao mesmo tempo a final da Copa do Brasil, jogamos esses jogos contra o mesmo rival, na época ninguém poderia adivinhar, mas era um dos melhores times já montados por eles, o inevitável aconteceu fomos eliminados pelo mesmo time na mesma semana, como bom tricolor que era e assim como toda torcida, elegemos nosso culpado pela derrota, apesar do ótimo ataque do ano o culpado foi ele, um garoto, há dois anos no profissional, isso mesmo,culpamos o Kaká por toda a frustração da derrota, quando digo “culpamos” me coloco nessa lista, por um tempo na minha vida eu odiei o Kaká, ele era o culpado de tudo que acontecia, um menino virou o culpado de uma fila, mas o pior ainda estava por vir.

No ano de 2003 vinhamos meio que capengando, mas no fim com uma dupla de técnicos conseguimos a classificação para a tão sonhada Libertadores, Kaka já tinha ido embora para a Itália, a gente achou que nossos problemas tinham se resolvido e, que o ano de 2004 seria só de vitórias, pois terminamos o ano bem, no São Paulo ou estamos no céu ou no inferno, terminamos o ano no céu, mas pisando em uma casca de banana e pronto para escorregar.

O ano de 2004 começou, com ele veio a tão sonhada Libertadores, trouxemos o Cuca de técnico e um pacote de reforços, a zaga finalmente se encontrou, mas mata-mata a gente sabe como é né? Na semifinal, um jogador dos caras impedido, recebendo um lançamento de um jogador dopado acabou com nosso sonho, acabou também o céu do são-paulino, como bons tricolores que somos fomos eleger nossos culpados e é aí que começa um evento que eu me envergonho até hoje, porém que me ensinou para a vida toda.

Após a eliminação, teve clássico no Pacaembu, era o início da internet, a torcida combinou de todos irem com camisas amarelas ao estádio, jogaram pipoca no treinamento, chamamos o Rogério Ceni de frangueiro, sim o Rogério Ceni! Não fizemos a mínima análise da semifinal, só achamos o culpado e fomos lá atacar o cara.

Hoje eu me arrependo amargamente disso, mas eu tinha 18 anos na época, assim como muitos de vocês que estão hoje no Instagram procurando culpados por uma derrota, mas calma gente, nenhum time faz 80 jogos bons no ano, nenhum time com tantas mudanças vai jogar um ano todo sem oscilar, não haja com o fígado, não se monta um time campeão do dia para a noite… Vocês não têm ideia de como eu queria voltar no tempo e esquecer aquele dia, mas como é impossível, pelo menos eu conto o que aconteceu.

E se um dia o Rogério ler essa coluna, eu só queria pedir desculpas.

Thiago Francisco. Sou da Zona Leste de São Paulo e professor de história desde 2014, tenho 34 anos, frequento a arquibancada amarela do Morumbi, sempre atrás da bandeira do escanteio do lado da azul, não acredito em superstição, mas quando eu não tô lá naquele lugar sempre algo dá errado…

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.

Compartilhe esta notícia