Rogério Ceni e a aconselhável cautela dos gigantes | OPINIÃO

Foto: São Paulo FC

Com todo respeito e cuidado que o tema e o ídolo merecem, vamos abrir aspas para o que disse Rogério Ceni em entrevista à TV Globo no último dia 21/2:

“Eu trabalhei no São Paulo durante tantos anos e é um clube de massa, de presença do torcedor. Mas aqui, assim, é uma atmosfera diferente. Ser Flamengo… Primeiro, eu não tenho um conhecimento muito grande do Rio de Janeiro. Tinha menos ainda antes de vir morar. Mas você vê que isso é uma razão de vida, principalmente essa parte da cidade onde existe uma pobreza maior, onde a única vitória que muita gente tem aqui é a vitória do Flamengo”.

Continua:

“É muito mais uma inserção social, é você estar inserido naquela tribo, naquele grupo que tem como Flamengo a vitória da sua vida. A vitória do Flamengo é a grande vitória que é possível ele ter na sua vida. É especial e diferente poder trabalhar aqui”.

Para ver a entrevista completa clique aqui.

É, Rogério… Você é o maior ídolo da história do São Paulo. Muito mais que as vitórias e derrotas que vivemos juntos durante mais de 20 anos por aqui, a gente via (e vê) em você uma porrada de exemplos: o cara que vem do interior do Mato Grosso e venceu num clube gigante. Aquele que superou muitas dificuldades dentro dessa trajetória e que, um ano após ser chamado de pipoca e amarelão por uma parte da torcida, ajoelhou e agradeceu a Deus após atuação brilhante no Mundial, em 2005. Você e aquele grupo bordaram mais uma estrela em nossa camisa. E eu poderia aqui escrever no mínimo 50 episódios que me ajudaram, inclusive, a gostar de futebol, a amar o São Paulo, a escolher minha profissão. Assim foi pra milhares de são-paulinos por aí.

A vida seguiu, você encerrou a carreira como atleta e passou a ser treinador. E cara, acredite: a maioria dos são-paulinos torce pelo seu sucesso. Foi traído no próprio SPFC pelo pior presidente de nossa história (Leco) até agora. Porém, suas colocações nessa entrevista demonstram, no mínimo, algum desconhecimento sobre o clube que você representou tão bem.

Entre os quase 20 milhões de torcedores do São Paulo, milhões vivem a mesma situação que você quis valorizar no seu clube atual. Pra ficar em um exemplo, a poucos metros do estádio do Morumbi temos a favela de Paraisópolis. Quantos são-paulinos vivem ali a mesma situação?

Torcedores tricolores de Osasco, Franco da Rocha, Itapevi, Diadema, Taboão da Serra, Santo André, enfim, muita gente que conta o dinheiro pra poder ver um jogo do São Paulo no Morumbi, que passa por enorme dificuldades financeiras. Se antes o São Paulo era um clube de elite (e não há nada de errado nisso), a geração do Raí e depois a sua fizeram nosso número de torcedores explodir e, claro, se popularizar entre todas as camadas.

Se aceitar um conselho de mais um são-paulino que tem em você uma referência, Rogério: tome cuidado e pense muito antes de se referir ao São Paulo. Você será perguntado eternamente sobre o clube e sua história no Morumbi, e uma palavra mal colocada pode sim abalar essa relação de tanto respeito entre ambos.

Pelé para o Santos, Zico para o Flamengo, Maradona para o Boca Juniors… Esse é o seu tamanho em nossa história, Um dia, certamente, você vai voltar a ser nosso técnico. Por tudo isso, o respeito, a cautela e a gratidão devem sempre nortear suas palavras e ações sobre essa torcida que, cá pra nós, acaba de passar pela pior temporada de sua história, está há 9 anos sem títulos e sequer pode ir ao estádio ver seu time jogar há quase um ano.

Talvez você seja campeão no Morumbi na próxima quinta-feira. Se ocorrer (o que é possível, levando em conta o elenco de derrotados que temos – com raras exceções), é seu direito comemorar e valorizar essa conquista, que é gigante, bem como o Flamengo também é. Só o que esperamos é que você respeite ao máximo a torcida que o idolatrou (e ainda idolatra) por tanto tempo.

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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Foto: São Paulo FC

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