São Paulo e o efeito Marlos: até quando?

Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Por Fernando Michelutti – Papo de Arquibancada

Hoje, no dia dos mortos, fiquei de escrever aqui no papo de arquibancada. Iria falar sobre a final da Taça Libertadores e o renascimento do Grêmio, que apesar do vexame ontem em Porto Alegre, chegou a mais uma final do maior torneio sul-americano de clubes. Fato importante pois desde a vitória do Atlético MG em 2013, o futebol brasileiro não emplaca um finalista. Porém isso terá de esperar. Meus amigos do blog que me perdoem a quebra de pauta porém agora pela manhã, como de costume, olhei as páginas esportivas dos grandes portais e me deparei com as seguintes manchetes:

Nada de Jesus ou Firmino. O brasileiro que brilhou na Champions foi Marlos.

Marlos brilha, ‘zebra’ Shakhtar vira e põe pé nas oitavas da Liga

Sim caro torcedor São Paulino, é ele mesmo: Marlos Romero Bonfim, mais conhecido como Marlos (São José dos Pinhais, 7 de junho de 1988) foi aquele jogador que você aprender a odiar entre 2009 a Janeiro de 2012 e agora virou machete na Europa e aqui no Brasil.

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Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Marlos foi revelado pelo Coritiba e, em 2009, chamou a atenção do então auxiliar Milton Cruz. A contratação foi da maneira que o São Paulo mais gosta, ou seja, sem pagar nada pelo passe, já que o atleta ficou sem contrato com a equipe paranaense. No Morumbi, no entanto, o jogador nunca rendeu o esperado. Sua passagem foi marcada pela irregularidade. Alternava momentos de fraco futebol com grandes partidas. No total, Marlos disputou 135 jogos, obteve 65 vitórias, 29 empates e sofreu 41 derrotas. Nesse período, marcou 13 gols.

O caso de Marlos é emblemático! Ele era simplesmente odiado porém chegou cheio de expectativas, tanto por parte da diretoria, quanto por parte dos torcedores. Qualquer um que frequentou o Morumbi nesta época comemorou a sua venda como um verdadeiro milagre! Ainda mais lembrando que o tricolor embolsou 50% dos US$ 5 milhões, pagos pelo Metalist, da Ucrânia. Até o finado Juvenal Juvêncio que acreditou, e muito, no futebol do meia, comemorou sua venda:

Vale aqui a rápida lembrança: Juvenal ficou marcado como bom vendedor! Lucas saiu para o Paris Saint-Germain por 43 milhões de Euros na época. Foi a maior venda da história do futebol brasileiro. Pagou o investimento em Cotia e liquidou parte das dívidas bancárias do clube. Além dele, Hernanes, Diego Lugano, Ilsinho, Josué e o próprio Marlos, foram alguns dos que saíram por valores altos. Além do caso Douglas, que em 2014 foi parar no Barcelona – pior do que a história da vaca em cima do poste. Esse tópico ainda merecerá um post a parte, pois na opinião deste que vos escreve, esse foi o melhor negócio feito em toda a história do clube!

Voltando ao caso Marlos, depois de 2 anos no pequeno Metalist, ele chamou a atenção e foi comprado pelo maior clube ucraniano da atualidade: o endinheirado Shakhtar Donetsk. Junto com uma trupe de brasileiros seu futebol decolou. Nesta temporada, Marlos tem 18 jogos, 8 gols e 2 assistências. Desde que chegou ao Shakhtar, o brasileiro realizou 149 partidas, fez 32 gols, deu 34 assistências e conquistou seis títulos: Campeonato Ucraniano (2017), Copa da Ucrânia (2016 e 2017) e Supercopa da Ucrânia (2014, 2015 e 2017).⁠

A fase é tão boa que além de ser eleito o melhor jogador do clube em enquete promovida pelos torcedores também foi eleito o melhor jogador do campeonato ucrânio na temporada 2016. Ele é tão bem cotado no clube, que o Shakhtar Donetsk rejeitou uma oferta de 12,5 milhões de euros (R$ 50 milhões) do Tottenham pelo meia-atacante. Acreditam ainda que ele poderá ser mais valorizado no futuro e continuar buscando títulos pelo clube. E se depender do icônico Andriy Shevchenko, o céu será o limite! O ex atacante do Milan, Chelsea e Dínamo de Kiev, agora técnico do selecionado ucraniano, convocou o atleta para defender a seleção principal apenas 2 dias após ele obter a cidadania ucraniana.

Marlos explicou o motivo de ter optado em defender a seleção ucraniana.

“Moramos na Ucrânia há seis anos e sempre fomos muito bem tratados por aqui. Muitas das nossas conquistas foram possíveis por causa das oportunidades que me deram no país e a decisão está tomada. O (técnico) Andriy Shevchenko já tinha conversado comigo e passou toda a confiança em mim e no meu futebol. Mas essa decisão em nada muda o carinho que temos pelo Brasil. Somos brasileiros, assim como nossos filhos, e amamos o nosso país.”

As perguntas que ficam no ar torcedor São Paulino são as seguintes: Onde erramos? De quem é a culpa?

Marlos é mais um daqueles casos que não conseguiu se firmar no nosso amado tricolor. Chamo isso de efeito Marlos! Fato que se repete bastante desde o tricampeonato brasileiro. Junior Tavares, é a nova bola da vez. Vindo da base gremista a peso de ouro, deixou o bom futebol de lado e atualmente recebe sondagens para ir embora no final da temporada. Não duvido que será um novo Marlos, Casemiro e tantos outros…

Eu credito esses insucessos a três fatores principais:

  1. Fase atual do clube.
  2. Pressão da torcida, dirigentes e etc.
  3. Maturidade do time jogador.

Primeiro: a fase atual do clube é péssima e isso influencia no rendimento dos jogadores. Desde 2009, no fatídico terceiro mandato de Juvenal, metemos os pés pelas mãos e já tivemos dezenas de treinadores e centenas de jogadores que chegam e saem sem obter sucesso. Exceto pelo título da Copa Sulamericana ou o vice campeonato brasileiro em 2014, não temos bons momentos para recordar. Cotia virou um Resort de Luxo: os poucos que são aproveitados já sobem com a mentalidade de serem vendidos. Luiz Araujo, David Neres e tantos outros confirmam esse pensamento. Os escândalos são constantes que acompanham os dirigentes, sejam da situação ou da oposição. Senão fosse nossa amada torcida, já teríamos sido rebaixados até mais de uma vez, apesar de na minha opinião (que pode ser lida aqui) já fomos moralmente rebaixados.

Segundo: muitas vezes, algumas delas com razão, pegamos demais no pé dos jogadores e os dirigentes de menos. Jogadores são humanos e sentem o clima em ambos os lados. Se a torcida pega demais no pé, fazem corpo mole e saem do clube na primeira oportunidade, como eu disse aqui. Já pelo lado dos dirigentes, os jogadores sabem que estes não gozam de prestigio e como diria o limitado intelectual Vampeta: – “Eles fingem que me pagam e eu fingo que jogo!”.

E por último, mas não menos importante, muitas vezes o jogador é que não tem a maturidade adequada, e na primeira oportunidade sai do clube, achando que é intocável, que não tem que “ralar o bumbum na grama” para ter a oportunidade de ser titular no tricolor. Veja o exemplo do próprio Marlos, onde ele mesmo declarou isso em uma entrevista recente a ESPN:

“O São Paulo é um clube que aprendi a gostar muito. Pelo clube que é e pelo profissionalismo das pessoas que trabalham por lá. Ainda tenho amigos e acompanho sempre. Minha passagem [pelo São Paulo] foi boa. Se não tivesse sido boa, não estaria na Europa. Se hoje estou jogando o que estou jogando, é porque no são Paulo eu mostrei alguma coisa para os clubes europeus. Pode não ter sido [uma passagem] tão proveitosa por falta de sequência, de jogos. Mas acredito que fiz um bom trabalho. Lógico que, se fosse hoje, seria muito diferente. Hoje eu tenho um perfil para ser um líder, um jogador importante. Naquela época, eu era um jogador de elenco, jogava uma sim, outra não. Hoje estaria preparado para assumir um papel mais importante.”

Infelizmente hoje o futebol Europeu está em outro nível, seja em dinheiro, infra-estrutura, tática ou beleza. Qualquer grande jogador que se preze, e não apenas os brasileiros, sonha em atuar por lá no grandes centros da Itália, Espanha, Alemanha e até mercados antes periféricos como França, Portugal e o próprio Leste Europeu hoje roubam talentos mais precocemente. Com exceção do Mito – o último romântico no futebol, os jogadores trocarão os clubes por aventuras internacionais cada vez mais cedo. Ou seja, os jogadores realmente vão encontrar o seu ápice, tanto físico quanto mental em terras européias, aprendendo a dosar talento e tática num ambiente 100% profissional, porém eles tem o dever de render aqui antes de ir para lá. Vide casos de Lucas, Neymar, Gabriel Jesus e cia limitada, que deixaram seus clubes após obterem sucesso e identificação com os mesmos (ainda que essa janela aconteça cada vez mais e mais rápida).

Desejo sucesso a Marlos e a nós! Que 2018 possa ser um ano de mudança e o #ForaLeco aconteça. Espero que possamos voltar a ser um clube equilibrado dentro e fora dos gramados. Nunca iremos acertar todas pois isso é utopia, afinal quem apostaria na dupla Mineiro/Josué quando chegaram ao CT da Barra Funda? Enfim, deu no que deu e hoje somos tri-campeões mundiais – chupa FIFA! Porém cabe aos dirigentes e a nós torcedores minimizar as chances de erro apoiando os jogadores, enquanto os mesmo honrarem a camisa do clube mais vitorioso do pais.

Um abraço,

Fernando Michelutti.

Fonte: Papo de Arquibancada

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