Tabelinha Tricolor – Qual seu critério, Leco?

Foto: Igor Amorim/saopaulofc.net

A coluna Tabelinha Tricolor é publicada às segundas-feira pelo Thiego Goulart e aproveita para quase sempre fazer um resumo da rodada do final de semana. Confira o índice da coluna aqui.

O São Paulo acaba de anunciar João Fernando Rossi como novo diretor de marketing. Ele substitui Luiz Fiorese, demitido do cargo. 

João Fernando Rossi estava, até 2018, comandando a Liga Nacional de Basquete (não é a NBB), quando recebeu o convite para gerir o novo projeto de basquete do SPFC.

Em uma rápida pesquisa na internet, encontro no site da ESPM uma breve descrição do historico profissional de João:

“Um dos fundadores e atual presidente da Liga Nacional de Basquete, João tem uma longa relação com a modalidade. Foi diretor de Basquete da FMU e do E. C. Pinheiros, entidade onde depois foi conselheiro e diretor de esportes. Como atleta, jogou basquete entre 1972 e 1984, defendendo o E. C. Pinheiros e o Continental Parque Clube.”

João parece ser um bom profissional em seu setor e construiu uma carreira muito digna. Agora me pergunto, o que é necessário para ser o principal executivo de marketing de uma empresa (sim, relaciono o tamanho do SPFC com uma grande empresa) de R$ 500 milhões de faturamento?

No entanto, não vi nenhuma relação da carreira do João, com os desafios que um executivo de marketing que precisa posicionar a marca do clube novamente no mercado, cuidar das relações com os torcedores, melhorar o programa de sócios, melhorar, e muito, a forma de compra de ingressos. Criar ações de relacionamento com parceiros, cuidar do contrato com a fornecedora atual de material esportivo, fazer a gestão dos patrocinadores atuais e buscar novas alternativas de receitas com o estádios e nas demais plataformas do clube. Ou seja, o desafio é gigante e não entendi o critério.

Em minha atividade profissional, convivo com muitos executivos de marketing das principais empresas do mundo e de uma coisa eu sei, para chegar e se manter nesta cadeira é preciso ralar muito e ser muito fora curva.

Profissionais de marketing, de todos os níveis, estão cada vez mais ligados a tecnologias, startups, mídia programática,  conteúdo crossmedia,  CRM, Business Intelligence, performance, branding e transformação digital. Ter um patrocínio a mais ou a menos na camisa é a pontinha do iceberg.

Cuidar de uma marca, como a do SPFC, é muito mais do que saber de esporte. É entender comportamento, mercado, tendências, ferramentas, gestão e liderança.

O São Paulo Futebol Clube parou no tempo, rasga as ideias revolucionárias de seu estatuto, todos os dias. Ri da cara do torcedor. Sua gestão é a várzea da várzea, no sentido mais literal possível.

Agora, pensa comigo, vamos fazer um exercício, uma empresa de meio bilhão de faturamento está em busca de um profissional de marketing, área que é muito importante para seu negócio, pois lhe expõe a patrocinadores, lhe coloca em contato direto com seu cliente (torcedor), lhe traz recursos, novos produtos e, consequentemente, mais arrecadação. O que você, caro leitor, faria se fosse o presidente desta grande empresa?

1 – Pediria a Deus que iluminasse seus caminhos.

2 – Pediria alguma dica para o porteiro do seu prédio.

3 – Colocaria seu sobrinho que fez um curso de design pelo Youtube para assumir a cadeira.

No mundo real, em uma grande empresa, com este tamanho de faturamento, estrutura e desafios, o processo seletivo seria super minucioso, se levaria tempo e, antes de tudo, se contrataria uma importante consultoria para buscar os melhores executivos do mercado, gerir o processo e lhes dar insumos para a melhor decisão.

O executivo, por sua vez, teria que passar por algumas entrevistas e em todas elas apresentar seu histórico profissional e cases comprovados. Afinal, ele vai assumir a cadeira de uma empresa com 18 milhões de clientes.

Portando, todo este processo seria a certeza do sucesso? Obvio que não, mas a chance de acerto é mil vezes maior que a do erro.

Este é o bêabá de qualquer grande empresa. Na empresa que você trabalha deve ser assim, também.

No São Paulo Futebol Clube não funciona desta forma. Lá é por indicação. O Zé da piscina diz que o João da lanchonete tem um conhecido. O sócio do clube conversa com o conhecido, passa um “zap” para algum conselheiro, que o encaminha para o presidente. O presidente manda um áudio de 1 minuto e meio para o “candidato”, explica a função e diz dia ele deve começar, ponto. Com isso, bastou meio dia e algumas mensagens por celular e o SPFC tem seu novo contratado – com alta remuneração, por sinal. Anuncia para a imprensa, faz coletiva, foto e 6 meses depois o processo se repete. 

Isso vai do Vice-Presidente ao camisa 9 do time.

Essa ilustração da tamanha falta de profissionalismo que ronda o São Paulo é a marca da gestão Leco. A falta de critérios na tomada de decisão, desde a escolha de jogador, de treinador a um executivo de marketing é que faz do São Paulo um clube antiquado e com sério risco de perder importância no cenário nacional em médio prazo. Uma pena, pois vivi dias de ver este clube ser pioneiro e espelho para outros tantos neste país.

Por dias melhores.


Thiego Goularte. Publicitário, paulistano e, acima de qualquer coisa, fanático pelo Tricolor mais querido do mundo!! Escrevo sobre o olhar de um mero torcedor de arquibancada, mas que teve um ídolo que vestiu a camisa 01 e que lhe mostrou que homens não somente podem voar, mas também serem protagonistas. Me siga no Instagram: @thgoularte.

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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Foto: Igor Amorim/saopaulofc.net

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