TRIbuna do Braga – A culpa é de quem?

Foto: Rummens

A TRIbuna do Braga é escrita pelo Rodrigo Braga em todas às sextas.

Eu tinha muitas coisas para dizer neste post. Por isso foi bom esfriar a cabeça, contar até dez, como dizem, antes de começar. Quarta-feira, 13 de fevereiro, ficará marcado como um dos dias mais vergonhosos da história do São Paulo Futebol Clube. E não só por ter nos torturado com uma das atuações mais patéticas do Tricolor desde sempre. Mas principalmente, e obviamente, porque não foi uma tragédia esportiva isolada, foi uma soma de intermináveis erros que levaram a uma eliminação vexatória na fase preliminar da Libertadores para um time médio da Argentina (que jogou melhor e mereceu).

Não foi a primeira vez, Defensa Y Justicia e Colón, nos dois últimos anos já deveriam ter soado o alerta. As 20 eliminações em mata-mata desde 2012, muitas para times inexpressivos, também. Mas não soou alerta algum. Porque o São Paulo atual não acorda de um transe que já dura uma década, no qual seus dirigentes vivem em uma realidade paralela, sob a fleuma do tal “Soberano”, enquanto o mundo gira e os rivais disparam. Quanto aos erros que levaram a essa situação, dá pra destacar aqui a saída de Diego Aguirre nas cinco rodadas finais do Brasileiro (ninguém garante que seria melhor, mas a condução foi desastrada), a escolha de André Jardine (o homem certo) numa hora completamente errada, em que a pressão e o risco de entrar na Pré-Libertadores, e depois que entrou de pegar um adversário difícil já logo nos primeiros jogos do ano, exigia outro planejamento e outra postura. Sem falar da ida à Flórida Cup, da insistência em um meio-campo lento, da liberação de Luan para “ser visto” no Sul-Americano Sub-20, enfim… A lista realmente é grande e triste. E o que tudo isso tem em comum? Sim, você acertou! São decisões chanceladas pelo presidente Leco. Só que, para desespero meu e seu, enquanto a roda do futebol gira, como sempre acontece, o verdadeiro culpado segue sentado em sua confortável cadeira, como se nada fosse.

Triste legado

Leco não será eternizado apenas como um presidente péssimo, de resultados horríveis e responsável pela maior seca de protagonismo da história do São Paulo. A seguir sem ser importunado, acabará por ser aquele que encolheu o gigante São Paulo Futebol Clube, o transformando em um clube intermediário, sem perspectivas de títulos importantes. Parabéns aos envolvidos!

Gambiarra

Ok, manter Jardine no comando era bem difícil, para não dizer impossível. Ele também em nenhum momento se ajudou para isso. Mas a solução encontrada pela diretoria, convenhamos, foi bem discutível. Cuca é um ótimo treinador, sem dúvida, mas está doente e impedido por razões de saúde de assumir agora. Chega no fim de abril, se os médicos liberarem, e até lá o clube na maior crise de sua história será dirigido por um interino – que ao chegar para ser coordenador disse que não assumiria o time em hipótese alguma. Ah, e o ex-treinador seguirá no clube, sem função definida a princípio (tomara que saiba fazer um bom café). Bizarrices que só são possíveis em um clube que está sem rumo. É de chorar.

Perguntas inevitáveis

E se Cuca não for liberado? E se for, mas até lá o time sob o comando de Mancini empilhar vitórias e conquistar o Paulista, como faz? E se seguir com atuações horrorosas no Estadual, vão esperar até abril mesmo? E Jardine, como vai se comportar? E o elenco de cobras criadas, que já coleciona técnicos derrubados, vai reagir como a toda essa improvisação? A única certeza que eu tenho é que, apesar de tudo isso (e me perdoem pela repetição), Leco seguirá lá, tranquilo e fleumático, sentado na sua cadeira de presidente.

Fator zika

Não bastasse a coleção de lambanças, as últimas diretorias deveriam esquentar os pés. O São Paulo é hoje, disparado, o clube mais azarado do país. Sim, sorte é importante no futebol, podem acreditar. Exemplos não faltam. O Corinthians em 2017 apostou no ex-auxiliar Carille, preparado na base. A imprensa torceu o nariz, a torcida idem, e o início foi um horror. Só que no primeiro jogo decisivo, na estreia da Copa do Brasil contra o Brusque (SC), o time escapou da eliminação (e Carille da evidente demissão) porque um zagueiro do time catarinense desperdiçou o pênalti decisivo mandando uma bomba no travessão. Dali em diante, conseguiu reverter não só aquela decisão, mas teve tempo para ajeitar o time e o resto já conhecemos. Quer outro exemplo? Internacional em 2018: apostou em Odair Hellmann, ex-treinador da base, e após um início cheio de tropeços, se viu obrigado a não apanhar no Gre-Nal para se manter no cargo. Segurou um 0x0 sem nenhuma vergonha (naquele jogo que Renato Gaúcho disse que o Inter jogou como time pequeno), mas depois disso arrumou o time e fez campanha surpreendente no Brasileirão. E tem ainda um terceiro exemplo recente, um pouco diferente: o Atlético-MG teve sorte no sorteio da Pré-Libertadores, e mesmo suando sangue para passar por um adversário bem mais fraco, vai pegar outra baba na fase seguinte porque o Barcelona de Guayaquil foi eliminado por escalar jogador irregular contra o Defensor, mesmo vencendo com tranquilidade os dois jogos do confronto. Assim, mesmo com o time longe da melhor forma e jogando mal, ganhou uma mãozinha do destino para chegar à fase de grupos. Já o São Paulo… Tirem suas próprias conclusões. É como dizem: a sorte ajuda os competentes…

Pindaíba

A eliminação na Libertadores não doeu apenas no ego são-paulino. Ainda vai doer, e muito, no bolso. Sem as cotas da Libertadores, dificilmente chegarão mais reforços de bom nível (talvez só Pato porque dizem já ter um pré-acordo), e as propostas pelos garotos serão vistas com outros olhos pela direção. Para tentar remediar isso, o São Paulo vai ter que apostar todas as fichas do ano naquele que é seu grande calcanhar de Aquiles: a Copa do Brasil e suas premiações milionárias.


Rodrigo Braga. Tenho 40 anos, sou um paulista, paulistano e são-paulino radicado em Santa Catarina, onde há mais de 20 anos atuo como jornalista. Fui editor de esporte e participei de coberturas de Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos e outros eventos internacionais. Sou louco por futebol, mas, principalmente, sou louco pelo São Paulo Futebol Clube.

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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Foto: Rummens

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