Rodrigo Nestor não é mais jogador do São Paulo. Aliás, contratualmente ainda é, mas onde importa – no campo – vai vestir as cores do Bahia em 2025. Empréstimo com obrigação ou opção de compra ou qualquer gatilho negocial pouco interessante numa folha de papel. Fato é que o autor do gol do título da Copa do Brasil não jogará mais pelo clube onde cresceu. E essa prosaica movimentação da janela de transferências tem mais implicações do que imaginamos à primeira vista. Nestor nos convida a olhar para a finitude; para as histórias que terminam. Muitas vezes sem que seja uma escolha consciente, elaborada. As coisas simplesmente acabam, mesmo aquelas que parecem durar pra sempre.
Ninguém começa a namorar pensando na DR que dará um ponto final no amor. Ninguém começa um trabalho novo ensaiando a carta de demissão – a não ser que você seja James Rodriguez. Ninguém bota uma música pra tocar querendo que chegue o fim. Temos considerável apego ao início, ao vislumbre, ao que será que vem por aí? Nestor, cria de Cotia, sempre foi uma promessa. E essa palavra, linda, anda vulgarizada no futebol – sendo colada em jogadores com potencial, esportivo ou financeiro. Mas uma promessa é um acordo, um compromisso de duas partes, um dedo apontado pro futuro sem tirar o pé do presente. Portanto Nestor não foi só uma promessa, Nestor cumpriu uma promessa. A promessa.
Quando Rossi deu aquele soco pra fora da área do Morumbi em cruzamento do (também marcante) Wellington Rato, a paulada de canhota de Nestor transformou a bola em um míssel teleguiado com direção na rede lateral do gol e só percorreu esse caminho entre adversários e companheiros porque havia ali uma promessa a ser cumprida. Por muito tempo, parecia que a porra da Copa do Brasil não se encontraria com todas as outras taças na galeria de troféu do Morumbi. Mas precisávamos de um herói improvável que entendesse e encarnasse a transformação da palavra promessa na palavra redenção.
“Eu amo vocês, porra!”, disse Nestor chorando e olhando para mais de 60 mil alucinados.
Emendar uma declaração de amor com um palavrão é um atestado de veracidade do sentimento. Nestor amava a gente e talvez essa declaração fosse um pedido para ser amado de volta na mesma medida. Naquela tarde, foi amado como foram também Raí, Rogério, Telê e outras figuras mitológicas do São Paulo. Naquela tarde que teima em não acabar, afinal nos lembramos onde estávamos, com quem estávamos, o que sentimos, como comemoramos, Nestor foi amado. E aí, uma lesão escrota e uma volta hesitante, com desempenhos abaixo do que poderia, a despedida que parecia algo inimaginável passou a ser algo bastante razoável.
Num dia comum, como são comuns os dias do término de um casamento ou de uma demissão, Nestor saiu do São Paulo. Assim, em um tweet desimportante, nos despedimos do autor do gol mais importante em 15 anos. O gol mais importante da vida de milhares novos são-paulinos e são-paulinas. Acho que precisamos voltar a cuidar das despedidas. Prestar atenção nelas. Acho que o ciclo do Nestor estava perto do fim, mas o que ele fez vai durar pra sempre. Sua história está protegida de opiniões, estava escrito. A promessa tinha que escrever a promessa. O moleque tinha que chutar o tabu pra puta que o pariu e estufar a bola na rede.
Nestor tinha que ser o que foi: redentor. Rimou porque é verdade.
Obrigado e volte sempre, a casa é sua. E lembre-se: te amamos, porra.
Lucca Bopp é escritor e host do podcast Boppismo, que recebe grandes personalidades do esporte e do entretenimento. São-paulino fanático, Lucca defende as cores do Tricolor no podcast “Os 4 Grandes” e é responsável por redigir textos publicitários para campanhas de grandes marcas.
Confira minhas colunas anteriores aqui no Arquibancada Tricolor.
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
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Verdade, Bopp: o Nestor sai em grande estilo! Heroi do título inédito da Copa do Brasil, um jogador que demorou a engrenar, a cair nas graças do torcedor e muitas vezes cobrado de forma exagerada porque demorava a conseguir fazer gols, mesmo não sendo artilheiro.
O Nestor ainda chegou a renovar contrato ainda em 2023, que antes ia até 2024 e renovou por 4 anos, dando tempo para ser campeão de um título tão importante e inédito que os rivais zoavam mesmo diante dos nossos tris brasileiros, da Libertadores e do Mundial.
A ida dele ao Bahia, inicialmente por empréstimo, iniciará um novo ciclo para ele e isso pode ser muito bom – respirar novos ares, ter novas experiências, além do reencontro com Rogério Ceni, com quem teve seu melhor momento -.
O fim é real… nem sempre belo, nem sempre feio… somente algo que não se pode fugir… e para sempre teremos aquele gol improvável ao final do primeiro tempo para nos emocionamos…