Ontem, São Paulo e Portuguesa se enfrentaram em um clássico que misturou tradição, rivalidade e a emoção de ver um adolescente brilhar em meio a veteranos experientes. O jogo, ora chato ora insuportável, terminou com o São Paulo vencendo por 2 a 1 e tendo a melhor campanha em pontos perdidos no Paulistão. Mas a noite tem ontem nome composto: Ryan Francisco.
O jogo começou com uma lambança em sequência de Bobadilla e Jandrei, um goleiro que não deveria estar no São Paulo desde o minuto que chegou. Nunca teve nível para isso, sua carreira revela isso. É ruim com as mãos, ruim com os pés e ontem escorregou de forma bisonha para tomar o gol. Bobadilla também conseguiu errar um passe de 3 metros, aliás não fosse a assistência para Ryan, sua partida teria sido tétrica. Paraguaio voltou mal esse ano. Fora isso, Sabino parece voltar a jogar a bola que não jogava antes do São Paulo e Ruan, embora seja bom, não se compara com Arboleda, Alan e Ferraresi. Esse último, aliás, é mais confiável e completo que Igor Vinicius, suposto titular da posição. Entendemos porque Santiago Longo não recebe chances, Marcos Antonio dinamizou o meio de campo mas precisa ser mais vertical e Patryck precisa respirar novos ares. Depois de abrir mão de Moreira e William Gomes, o São Paulo poderia cavar uma transferência pro lateral a algum clube português distraído. André Silva é bom, mas falta sangue, verve, gana. Se tivesse um pingo do apetite do Calleri, seria titular. Ferreira me fez lembrar Dumbledore que, a respeito de Voldemort, disse que “certa vez conheceu um menino que tomava todas as decisões erradas.” É impressionante como Ferreira se equivoca nas escolhas e erra, erra, erra. Quando é pra passar, dribla. Quando é pra chutar, passa. Quando é pra driblar, chuta. E ainda saiu putinho depois de ser substituído. Por mim, já pode virar última opção até cair em si. Erick também não jogou nada, mas o pênalti saiu de um cruzamento dele. É menos habilidoso que Ferreira, mas é mais inteligente. O que não quer dizer muita coisa, convenhamos. E pontas improdutivos me irritam especialmente.
O jogo se encaminhava para um modorrento e esquecível 1 a 1 quando Zubeldia botou Ryan na partida. No primeiro toque na bola, uma colherinha para Calleri. No segundo, um tapa de primeira de bate pronto pra Enzo Dias. O moleque ganhou confiança.
E aí o Pacaembu, palco de tantas histórias, testemunhou mais um capítulo emocionante na noite de ontem, quando São Paulo e Portuguesa se enfrentaram em um clássico que já nasceu com gosto de nostalgia. E falo Pacaembu porque Mercado Livre Pacaembu é um acinte em forma de naming rights, fora que o produto veio com defeito e dá vontade pra pedir pra trocar. Ainda assim, o estádio, envolto naquele clima mágico que só os templos do futebol são capazes de proporcionar, viu Ryan Francisco virar herói no time profissional pela primeira vez na vida. E as primeiras vezes ficam pra sempre.
O moleque, que ainda carrega no rosto a timidez da adolescência com ficou escancarado na entrevista pós-jogo, entrou no segundo tempo e o destino pareceu – e parece — conspirar a seu favor. Um domínio de veterano, uma ajeitada de quem já fez isso antes, um tapa de quem conhece. Ryan parece meio anacrônico, citou Romário como inspiração e isso dá a medida de que sabe bem o que pode fazer. Depois de perder duas promessas de Cotia a troco de pinga, ver um talento da base garantir os 3 pontos num jogo encardido foi um tapa com luva de pelica nessa diretoria.
Enquanto a torcida cantava seu nome e o estádio parecia abraçá-lo, Ryan correu para o abraço dos companheiros, como quem corre para o futuro. Ali não estava apenas um jogador, mas a promessa de que o futebol, mesmo em tempos duríssimos, ainda é capaz de nos presentear com momentos de alguma poesia.
Por menos de 100 milhões de euros, nem abre conversa.
Nada menos do que isso.
É Ryan e nada mais.
Lucca Bopp é escritor e host do podcast Boppismo, que recebe grandes personalidades do esporte e do entretenimento. São-paulino fanático, Lucca defende as cores do Tricolor no podcast “Os 4 Grandes” e é responsável por redigir textos publicitários para campanhas de grandes marcas.
Confira minhas colunas anteriores aqui no Arquibancada Tricolor.
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.
Pois é, Bopp: assim como na Copa do Brasil Sub-20 e na Copinha e todos os campeonatos de base, sabíamos que Ryan Francisco sempre foi matador e já começou criando boas chances nas estreias que teve no Brasileiro e no São Paulo e curiosamente com 2 times de nome Botafogo hahaha.
Depois, Ryan ainda fez estrago na Copinha contra o Criciúma, mas poderia muito bem em vez da Copinha – que foi merecidamente campeão e artilheiro -, ser titular contra Guarani e Corinthians e teria massacrado os 2 facinho.
Fez um golaço contra a Portuguesa e fará mais contra outros times – tem tudo para conseguir ser titular rápido, conseguir artilharia e se time não amarelar, já ser campeão logo que subiu.
Ele merece!