Se por um lado Julio Casares anuncia que o São Paulo fechará o ano com déficit financeiro, esportivamente o São Paulo termina o ano no superávit. Um título conquistado e muito mais boas notícias do que más. É claro que poderia – e deveria – ser melhor, mas depois do que se anunciava no início da temporada, com Dorival nos abandonando e com o ainda cru Carpini assumindo a bronca, chegamos no fim do ano melhor do que o esperado. Dorival deixou o clube no momento mais crítico em termos de planejamento, às vésperas da estreia na temporada e depois do time se azeitar na sua mão.
O fiasco James Rodriguez ocupou o noticiário e o imaginário dos torcedores durante todo o período Carpini e o treinador teve dificuldade na gestão do elenco, além daquela fatal e fatídica mão no ouvido no Novelli Junior, quando o São Paulo conseguiu se classificar pro mata-mata do Paulista na bacia das almas. Um começo horrível no Brasileiro e uma estreia amaldiçoada em Córdoba abreviaram o trabalho do Carpini, que parecia não saber o que fazer com o material que tinha em mãos. Escolhas como Diego Costa em vez de Alan Franco ficaram difíceis de engolir e a chegada de Zubeldia mostrou que era, sim, possível fazer mais com esse elenco.
Seis meses depois, o São Paulo foi eliminado na unha por dos times melhores que ele. Falar que o Galo não é melhor que o São Paulo é um negacionismo da bola: a dupla de ataque deles é Paulinho e Hulk, que seriam titularaços no Tricolor. O lateral-esquerdo deles é melhor, o goleiro é melhor, os volantes são melhores. Ainda mais depois da paulada que foi perder Pablo Maia no segundo jogo de Zubeldia e Alisson logo na sequência. Zubeldia perdeu o pilar do time e teve que reconstruir o eixo, dando oportunidade pra todo mundo – inclusive o esquecidíssimo Liziero. Não podem acusar Zubeldia de não tentar resolver essa bucha. Luiz Gustavo se consolidou com uma ótima temporada, apesar da falha crucial contra o Botafogo, Bobadilla se tornou o jogador mais valioso do elenco e Marcos Antônio ganhou sequência recentemente – aguardem antes de queimar o cara, mostrou ter qualidade e pode ajudar muito no ano que vem.
No ataque, Zubeldia teve que lidar com momentos ruins de Lucas, Luciano e Calleri, às vezes isoladamente, às vezes simultaneamente. Calleri faz sua pior temporada pelo São Paulo, Luciano embora decisivo foi mais irregular do que costuma ser e Lucas só voltou a jogar o fino nas últimas rodadas do Brasileiro. Foram culpa dos protagonistas, aliás, as eliminações para Botafogo e Galo, com erros inacreditáveis. É claro que a gente pode discutir se o sistema utilizado contra o Botafogo foi o correto, se o William Gomes deveria ter começado os dois jogos, se o Galoppo não deveria ter entrado pra bater a disputa de pênaltis. O trabalho de Zubeldia tem erros, evidente, principalmente na insistência com alguns jogadores e com a falta de sequência para outros. O sistema 4-2-4 ainda provoca calafrios, especialmente quando ninguém está num bom dia tecnicamente. O time acaba dependendo muito de lampejos de Lucas, luta do Calleri e poder de decisão do Luciano. Em vários jogos, nenhuma das coisas aconteceram e o São Paulo perdeu pontos preciosos. Jogos contra Vasco, Inter, ambos contra Cuiabá, Criciúma e Bragantino foram de doer, mas ao mesmo tempo tivemos ótimos jogos, como contra o Cruzeiro, Grêmio, Flamengo, ambos contra o Bahia e Vasco.
Não é simples ficar o campeonato todo entre os seis melhores colocados. Tanto não é que a torcida não sabia o que era isso nos últimos quatro anos. Poucas coisas são tão broxantes do que ver seu time transitando entre o 14º e o 10º lugares, que foi nosso calvário de pontos corridos ultimamente. O foda é que a expectativa passa a ser ilusão em um minuto e, em alguns momentos, acreditávamos que esse time poderia brigar por algo maior nesse campeonato. Mas a realidade é que para a coadjuvância absoluta desse elenco, com jogadores tão decentes quanto limitados, o sexto lugar tem o nosso contorno.
A janela do São Paulo no meio ano foi letárgica e pouco precisa, o que acende um alerta para essa próxima. A austeridade financeira e o déficit provocado por Casares prevêem que esse elenco pode piorar com as vendas, além da falta de grana pra contratar. Segundo consta, as prioridades são um lateral-esquerdo, um lateral-direito e um meia. Na opinião deste colunista, teriam de ser dois laterais esquerdos (Jamal e Patryck não mostraram futebol suficiente para serem reservas confiáveis) e eu ainda incluiria um goleiro melhor (Rafael é bom, mas vem num viés de baixa e teve temporada irregular falhando nos jogos decisivos). De qualquer forma, o São Paulo terá que ser um sniper na contratação desses jogadores: não dá para trazer jogadores discutíveis, apostas arriscadas e nem torrar dinheiro em posições menos importantes. Além disso, precisa usar o Paulistão pra observar os moleques da base. Ferreira e Hugo estão prontos. Kauã Lucca, Alves e Ryan podem ser testados para ganhar musculatura. Literalmente, inclusive.
Por tudo isso, acho a temporada positiva. Muito mais positiva do que negativa. Mas o ano que vem me preocupa. O que nos resta é fazer o que fazemos de melhor e em 2024 mostramos mais uma vez: torcer.
Lucca Bopp é escritor e host do podcast Boppismo, que recebe grandes personalidades do esporte e do entretenimento. São-paulino fanático, Lucca defende as cores do Tricolor no podcast “Os 4 Grandes” e é responsável por redigir textos publicitários para campanhas de grandes marcas.
Confira minhas colunas anteriores aqui no Arquibancada Tricolor.
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