Convidamos o André Sales, criador do ‘Macacast’, o Podcast da Ponte Preta, para trazer algumas informações e opiniões sobre a nova contratação do São Paulo, Bruno Rodrigues. Confira:
Esses dias escrevi no meu Twitter que o Bruno era uma das melhores pessoas que eu conheci através do futebol. Não que tenham sido muitas, e é um meio bastante turbulento, mas foi nele quem eu encontrei mais verdade. Fora e dentro de campo. Fazia questão de se manter em contato com a torcida, participava das lives do podcast Macacast. Doou camisetas, estava sempre disponível. E em conversa pessoal, foi muito aberto e 100% sincero ao detalhar a situação do clube com os jogadores – que vinham de recente protesto – e declarou seu desejo de ficar em Campinas.
Imagem tamanha até capaz de não deixar essa minha impressão se abalar pela novela imensa da sua saída (não renovação) com a Ponte Preta. Todo esforço que a Macaca fez para manter o seu principal nome na temporada 20/21 foi em vão, já que ela nunca chegaria ao patamar do que ofereceu o São Paulo. E lá se foi o atacante. Justificando, inclusive, o jogo duro dos empresários do jogador. Sabiam o nível de negócio que poderiam encontrar pro futuro dele e conseguiram.
Características
Bruno Rodrigues é um atacante de beirada, que joga do lado invertido ao seu pé. Como é destro, costuma jogar pela esquerda. Adora ter espaço e a possibilidade de usar a sua velocidade para cortar para o meio e tem criatividade para na zona frontal a área tomar a melhor decisão: finalizar ou encontrar um companheiro melhor posicionado com um passe ou cruzamento. Tem excelente visão de jogo.
É veloz para puxar contra-ataques e fazer a transição, tem bom drible no um contra um para ultrapassar adversários.
Bate bem na bola, cobra bem faltas diretas ao gol, cruza bem e finaliza com qualidade. Apesar de não ser tão alto, tem ótimo posicionamento dentro da área e até se especializou em marcar gols de cabeça.
É extremamente intenso e dedicado. Talvez sua principal característica seja a raça e o empenho que dispõe pelo clube. Veste, respeita e se doa pela camiseta. Demorou certo tempo para se firmar. Um desconto? O Paulistão da Ponte foi um dos piores das últimas décadas. Se encontrou quando perdeu peso e ainda deu tempo de virar salvador da pátria.
Trajetória na Ponte Preta
A chegada de Bruno Rodrigues a Campinas foi discreta, não cresceu o olho do torcedor em geral. Eu, particularmente, fiquei bem curioso de vê-lo jogar, já que as estatísticas o indicaram como um dos melhores dribladores da Série B 2019, quando vestiu a camisa do Paraná.
Começou bem o Paulistão, deu sua primeira assistência contra o Botafogo em Ribeirão, fez seu primeiro gol, de cabeça, contra a Inter em Limeira. Mas continuava discreto no um contra um, aparecendo pouco, perdido numa equipe que se mostrava uma das piores do campeonato. Desabou como todos até a parada para a pandemia.
E aí veio a virada. O que o atacante mesmo assume como a reviravolta da vida dele. Durante a paralisação, Bruno pegou pesado nos treinos. Emagreceu mais de 8kg, cortou a batata frita – um verdadeiro herói – e voltou voando. O que precisávamos. A Ponte Preta tinha que vencer seus dois últimos jogos no campeonato pra escapar do tenebroso rebaixamento para a Série A2, o que seria, na atual conjuntura, um dos maiores vexames da história do clube.
Mandante contra o Novorizontino, em Barueri, Bruno abriu o placar – de cabeça – em contra-ataque puxado por Apodi e a Macaca venceu por 2×0. Visitante em São Bernardo, a Ponte venceu a sensação do campeonato Mirassol, por 1×0. Gol de quem? Bruno. Adivinha como? De cabeça. Com 1,77m, Bruno Rodrigues comprovou que não é preciso só altura pra ser um matador em bolas aéreas. Sabe se posicionar, sobre no tempo certo e tem categoria na hora de caprichar na cabeçada.
Nas quartas, contra o Santos, o gol de empate ele fez de cabeça pra não perder o costume. Mas Bruno mostrou que tinha mais que isso. Solto na Vila, numa exibição de gala da Ponte – talvez a melhor do ano – o atacante aproveitou os espaços para bater a vontade pro gol. E a virada chegou numa de suas jogadas características pela ponta esquerda, cortando pro meio e batendo forte. O goleiro não segurou e Moisés fez no rebote. A Macaca venceu por 3×1.
A Série B de 2020 foi uma enorme decepção pra Ponte Preta. A Alvinegra montou um time forte, elenco recheado, gastou o que não tinha para contratar jogadores de sucesso recente que infelizmente não deram o resultado esperado em campo. Matheus Peixoto, Zé Roberto, Osman, Camilo, Oyama e cia se juntaram a João Paulo, Apodi e Bruno Rodrigues. O panorama era positivo. Mas ficou só na expectativa.
Desorganizada nos bastidores, sem planejamento técnico e tático, troca de treinadores sem sentido e a contratação do caro, contestado – e parado há dois anos – Marcelo Oliveira, boicotaram o time de Campinas durante todo o campeonato. De postulante ao acesso e até ao título, a Macaca teve de se contentar com a metade superior da tabela é certa distância do G4.
Só uma coisa era certeza: Bruno estaria lá. Dando seu sangue pela camisa que vestia, talvez sua maior qualidade seja a briga, intensidade, interesse e disposição. Não tem bola perdida pra Bruno Rodrigues.
Além disso, o desequilíbrio técnico e um oásis de qualidade de futebol em meio a um deserto de ideias. O atacante foi capaz de tirar jogadas da cartola e conquistar pontos pra sua equipe onde as vezes já se era inimaginável.
Exemplo: a Ponte empatava em 1×1 com o Confiança, no Moisés Lucarelli. Aos 30 do segundo tempo, Bruno cobrou uma falta a la Dicá para virar a partida e garantir os três pontos.
Contra o Figueirense, a Macaca também perdia em casa quando Bruno recebeu do goleiro Ygor Vinhas ainda no setor defensivo esquerdo, disparou na velocidade, cruzou em diagonal todo o campo de defesa catarinense em facão, driblando os adversários e serviu Guilherme Pato para empatar. A virada veio num rebote em mais uma diagonal de Bruno e chute forte ao com, com a colaboração do goleiro Sidão nos pés de Apodi.
Contra o Cruzeiro, também em Campinas, Bruno cruzou na área e o goleiro aceitou o gol da virada da Macaca.
E contra o América, em BH, o tento de empate saiu numa jogada de Zanocelo em contra-ataque e assistência primorosa de Bruno Rodrigues. Repare como ele aproveita cada pedaço da sua especialidade: dispara pela esquerda, corta para a direita e espera o tempo certo, exato, perfeito para efetuar o cruzamento em ponto futuro pra Pato empatar a partida.
O acesso não veio e não viria se dependesse de apenas um jogador. Faltou aos outros atletas do elenco o mesmo empenho e desempenho de Bruno. Por isso ele foi um oásis no deserto do 2020 caótico da Ponte Preta. E merece muito sucesso na carreira, esperando que siga no mesmo nível da sua melhor temporada da carreira que fez com a nossa camiseta.
Confira a entrevista de Bruno Rodrigues para a SPFCtv:
Texto: André Sales
Twitter: @dehproco
Instagram: @dehproco
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.
Foto: Érico Leonan / São Paulo FC