A TRIbuna do Braga é escrita pelo Rodrigo Braga em todas às sextas.
Muito se fala atualmente nos prejuízos financeiros do clube. Que por ter sido eliminado logo de cara na Libertadores e na Copa do Brasil, o São Paulo deixou de faturar muitos milhões de reais. Sim, é verdade. Até pela facilidade com que as informações trafegam hoje em dia, torcedores viraram especialistas inclusive nas finanças dos seus clubes.
Da minha parte, honestamente, os balancetes pouco importam. Sou são-paulino desde que eu nasci, e isso faz tempo. Provavelmente era até antes disso, por influência do meu pai que era torcedor daqueles que iam apanhar em viagem pra Argentina para acompanhar o Tricolor nos primórdios da Libertadores, lá nos anos 60 e 70. E pelo São Paulo fazer parte da minha vida inteira, não é o cofre do clube que me importa nesse momento. Ao menos não esse tipo de patrimônio. Me dói muito mais acompanhar sem reação, sentado no sofá diante da TV, conformado, mais uma eliminação vergonhosa na quarta-feira, em Salvador. Apenas mais uma, foram 22 desde 2013. Já nem faz muita diferença, e é aí que mora o problema.
Eu vivi todos os principais momentos do São Paulo Futebol Clube.
Provavelmente fui a criança e o adolescente mais feliz do mundo com o futebol, porque era a época que o meu time ganhava tudo e os meus colegas eram alvos constantes de zoação. Era um privilégio ser são-paulino, uma sorte, uma bênção que eu agradecia ao meu pai. Nos acostumamos a vencer de tal modo que as raras derrotas eram absorvidas com maturidade. Minha filha mais velha nasceu em 2007, 25 dias depois o São Paulo foi pentacampeão Brasileiro. Óbvio que ela estava lá comigo, bebê de colo, vestida com uma roupinha Tricolor assistindo ao jogo do título. Meu sonho ainda é levá-la ao Morumbi comigo e passar todas aquelas sensações de estar lá adiante na família. Mas hoje ela me pergunta sobre o São Paulo quando me vê acompanhando os jogos meio que com pena do pai dela. Sim, exatamente isso. Pena. E eu sinto que ela até fará questão de realizar os meus desejos e vai me acompanhar em jogos, vai ficar feliz por mim. Mas são-paulina, de coração, de alma, eu não vou conseguir fazer ela ser. E eu sinto que a culpa dessa derrota não é só minha.
Com a eliminação de quarta-feira, 2019 já é (não oficialmente, mas na prática) mais um ano perdido. O São Paulo pode até fazer boa campanha no Brasileirão, seria espetacular se conseguisse ficar no G-4, mas sou bem honesto em afirmar que não brigamos por título. Não esse ano. Então, vamos encerrar mais uma temporada sem taças no futebol profissional. Mais um ano perdido em uma década perdida. E, de novo, é aqui que está a questão primordial. Qualquer clube está sujeito a ter um ano péssimo. Muitos já tiveram, bem piores que os nossos, inclusive. Porém, um clube gigantesco como é o São Paulo Futebol Clube jamais poderia ter tido uma década perdida. Jamais! Mas é isso que temos hoje diante de nós: uma obra trágica concluída, uma década inteira jogada no lixo.
E isso traz muito mais do que mero prejuízo financeiro, ainda que ele também faça parte do pacote. Quantas gerações de torcedores o São Paulo está perdendo para os rivais? Quanto vale isso? E quando pergunto o valor, me refiro também a valor financeiro (sócio-torcedor, venda de camisas e produtos, contratos de patrocínio, de transmissões de jogos, enfim). Mas, principalmente, ao valor que realmente importa: qual o tamanho do prejuízo para a instituição, a marca São Paulo Futebol Clube? Encolhemos por incompetência de nossos gestores? Me dói no fundo da alma responder essa, mas a resposta é sim.
E dá para consertar todo esse estrago? Claro que dá! Primeiro, é preciso reconhecer a situação, os muitos erros e as dificuldades para sair do atoleiro. E tirar de uma vez por todas do caminho quem só fez o São Paulo andar de marcha-ré nos últimos anos. Sem se importar com egos, com apegos a cargos e/ou posições. O clube é maior que tudo e que todos. E precisa ser preservado. Se seguirmos nesse caminho, temos por aí muitos exemplos do futuro sombrio que nos aguarda.
Receita
Não tem muito segredo, falando da situação atual, sobre o que precisa ser feito para recolocar o time nos trilhos para ao menos concluir de forma digna a temporada (que nem chegou ao meio ainda, mas que para nós já tem cara de fim de feira).
1) Cuca precisa ser cobrado firmemente. O time desandou completamente nas mãos dele, e isso está muito claro. Demissão de forma alguma, é preciso dar tempo e confiança ao trabalho. Mas cobrança, sim. O rendimento até aqui é ridículo e precisa melhorar pra ontem.
2) Departamento Médico precisa se explicar. O número de contusões nesta temporada é assustador. O que está acontecendo afinal? Por que enquanto outros times estão voando o São Paulo se arrasta em campo? Por que Pato e Hernanes estão tão abaixo (só o fator China explica ou tem mais)? Por que tantos jogadores machucados e que custam a retornar? Isso tem ligação com a decisão desastrosa de fazer pré-temporada festiva na Disney? Precisamos saber.
3) A barca precisa passar. Cuca já deu a deixa, são vários os jogadores que serão dispensados, mas sei lá por qual razão ainda não foram. Jucilei, Bruno Peres, Nene (?), Willian Farias (que nem deveria ter vindo) e alguns outros. Reforços virão pra suprir carências do elenco, e aí não haverá mais espaço para desculpas pela falta de rendimento decente.
4) Ainda sobre dispensas, um caso à parte é Reinaldo. O lateral-esquerdo faz algum tempo que deixou de jogar seu futebol feijão com arroz para virar galinho de briga. Sempre esquentadinho, arrumando confusão e jogando muito pouco. Esquentar um banco para esfriar a cabeça é o mínimo. Se pintasse uma oportunidade de despachá-lo para algum clube chinês, árabe, sei lá de onde desses marcados que pegam qualquer coisa, eu iria até no aeroporto dar tchauzinho.
5) Raí e Lugano trabalham no clube? A pergunta é pertinente, já que as funções (principalmente do uruguaio) não são muito claras. E a falta de brio desse time, o conformismo com as derrotas, não combinam em nada com que a dupla representa na história do clube. Ensinar e cobrar pelo exemplo. Passou da hora.
6) A molecada precisa ser poupada e preservada ao máximo de críticas e outras medidas. Eles são o futuro do clube, está claro que o caminho certo é através da valorização deles. Não podem, de forma alguma, entrar no bolo e serem tragados por mais uma crise.
Pra terminar
Ah, antes que eu me esqueça: Fora, Leco!
Rodrigo Braga. Tenho 40 anos, sou um paulista, paulistano e são-paulino radicado em Santa Catarina, onde há mais de 20 anos atuo como jornalista. Fui editor de esporte e participei de coberturas de Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos e outros eventos internacionais. Sou louco por futebol, mas, principalmente, sou louco pelo São Paulo Futebol Clube.
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
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Foto: Rummens