Dos últimos tempos, em um recorte de década, talvez seja o atual São Paulo o mais competitivo. Após um intervalo em que virou uma espécie de chacota dos rivais, pela escassez de títulos importantes, por manter uma estrutura obsoleta e por não ser nem sombra do que havia sido outrora, o Tricolor conseguiu emplacar algumas conquistas – Paulistão, Copa do Brasil e Supercopa-Rei – que o soergueram do ostracismo e o recolocaram na prateleira dos principais clubes nacionais. Com isso, a torcida pôde voltar a sonhar com horizontes positivos e a galgar o orgulho ferido a um status diferente – ainda que em desvantagem nítida em relação a outras agremiações fortes dos novel momento do esporte nacional.
É que o São Paulo tem uma aura incontestável. Nos últimos torneios, conseguiu eliminar seguidamente o seu rival Palmeiras, com certa propriedade – ao passo que com elenco inferior -, além de emplacar uma sequência de resultados positivos contra o Corinthians, tendo o eliminado na semifinal da alhures citada Copa do Brasil. Muito disso se deve às categorias de base de Cotia, que, nitidamente, consegue compensar a vulnerabilidade econômica com a qualidade de “joias” formadas em casa. Não à toa, o gol do título mais importante do período recente foi justamente de um egresso de lá – o meia Rodrigo Nestor.
A despeito de ser essa grande fonte de sobrevida do São Paulo, Cotia parece ser preterida em detrimento de um malfadado contexto de contratação de jogadores duvidosos, tais quais Orejuela, Wiliam, Jhegson Mendez, André Anderson, Nahuel Bustos, Erison, Raí Ramos e Andrés Colorado. Todos esses citados têm por coincidência, além do fracasso como atletas do clube, o fato de terem sido adquiridos pela atual diretoria – justo a que, por intermédio do diretor de futebol sui generis, informou que era passado o período em que o Tricolor vendia por necessidade. E a outra similitude é a de tirarem espaço de jovens promessas.
Veja bem: o ano de 2024 é muito elucidativo. Depois de conquistar a Supercopa do Brasil sobre um rival, o clube demitiu o técnico, manteve a política de contratações em “oportunidades de mercado” e, com isso, rifou a possibilidade de almejar grandes títulos. Ao final da temporada, tendo como consolo a classificação direta para a Libertadores de 2025 – com auxílio externo, frise-se -, o São Paulo teve recorde de público e arrecadação em seu estádio, e a dívida do clube, paradoxalmente, aumentou nesse interregno. Segundo dados do Globo Esporte, o montante saltou de R$ 666 milhões para R$ 886 milhões. A falta de explicação para isso decorre justamente daquilo que mais se pregou em campanha: a transparência (in casu, a sua ausência).
A grande efervescência da vez se deu com a venda de mais duas promessas da base: William Gomes e Moreira. Ambas as negociações se deram após um final de semana “perfeito”, em que o São Paulo bateu duas vezes seu rival Corinthians, sendo uma delas com a conquista da Copinha. Não houve tempo para maiores comemorações, uma vez que esses anúncios provocaram ira em grande parte dos adeptos, que utilizaram as redes sociais para invadir as do clube e deixar recados nada agradáveis para a diretoria. Alguns corajosos chegaram a ir à frente da reunião do Conselho Deliberativo, no afã de demonstrar a insatisfação. Vão-se as jovens promessas, chegam os medalhões duvidosos. É um ciclo infinito, que abala o psique do torcedor.
Segundo o dicionário Aurélio, o vocábulo “tirania” possui como significado um excesso de poder. Pode, ainda, ser entendido como um governo eleito de maneira democrática; ainda assim, entretanto, exercido com alguma despotismo. Tirania, pois, seria uma espécie de governo de um contra todos. Apesar dessa pecha ser atribuída constantemente ao que ocorre no São Paulo atual, creio que nem de longe seria o termo mais escorreito. Já a oligarquia, por sua vez, é entendida como um regime político exercido por um pequeno grupo de pessoas. Existe, nesse sistema, a preponderância de um mesmo núcleo de pessoas no poder, que se arrogam nas benesses do comando e dilatam sua vigência ao longo de uma alternância aparente de mandatos. Dado o histórico, talvez essa imputação, mui respeitosamente, seja mais adequada, em se tratando do que se vê no clube.
O São Paulo é um time gigantesco, com conquistas absurdas e uma fanática torcida de mais de 20 milhões de brasileiros. Ainda assim, permanece como um dos clubes mais fechados no quesito de poder, haja vista que as tomadas de decisões ficam à mercê dos conselheiros – que, em 2023, votaram contra a possibilidade de uma eleição direta para Presidente. Nessa toada, enquanto a hierarquia não emanar das necessidades diretas da própria torcida, notícias como as de William e Moreira seguirão como rotina, com a eterna desculpa da vulnerabilidade pela questão financeira. O equilíbrio só virá com a real democracia. E Cotia só terá o devido valor quando respaldada por uma melhor curadoria, que respeite suas virtudes e sua incrível capacidade de afagar as carências de um clube que internamente não dá um dia de sossego ao torcedor..
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Pois é, Matheus: concordo plenamente com você, a base tricolor está jogada às traças faz tempo e já não é de hoje, podemos dizer, basicamente desde o terceiro mandato do JJ.
A história do São Paulo remete à base – vários jogadores integraram as categorias inferiores, antigamente existia desde o dente de leite aos aospirantes para chegar no profissional e foram importantes em várias conquistas [na Libertadores-92 São Paulo tinha 8 jogadores da base] e até parcerias, como foi feita durante anos com os Pequeninos do Jockey até a construção de Cotia – .
Mas desde o já citado e terrível – ridículo e absurdo, no mínimo – “desvio estatutário” – já que citou o Auŕélio 2x, que tal um fato jurídico? Isso feito pelo JJ foi equivalente a ABUSO DE AUTORIDADE – quando quem detém poder de comando se excede no exercício de suas funções: JJ influenciou o Conselho a votar nesse terceiro mandato ao dizer não haver quem fosse mais competente do que ele, cada um é livre para votar como quer e o fato dele ter sido advogado não lhe dá esse direito -.
As “diretorias”, sim, entre aspas mesmo, comemoram, como sua definição bem disse medalhões duvidosos e é por ai mesmo, mas se estamos quebrados financeiramente – e apesar do continente e da moeda diferentes, adivinha: o Barcelona que vencemos em 92 com 2 gols de Raí (e um golaço de falta no Zubizarreta) também está, porque apostava muito na base e passou a contratar demais, agora está comprometendo receitas futuras, que vai pagar sabe-se lá quando -.
Ou seja: base é investimento, não prejuízo: vou te dizer, Matheus que preferia que em vez do esforço que Muricy fez para trazer Sabino, subisse Lucas Loss ou Andrade e na época Matheus Belém merecia jogar mais – como também critiquei na época renovação do Ferraresi (fim de 2024) -,
Zubeldía chegou ao profissional em abril e Allan Barcellos assumiu sub-20 em frangalhos em maio: mas sem nem ver o que estava sendo feito, já soltou: “quero alguém do mercado e não da base” – nessa toada, Iba Ly, cotado para subir, foi para Inter, Negrucci e Hugo que seriam os próximos, foram preteridos por Santi Longo: Ruan veio, jogou pouco, Marcos Antônio foi bem, isso sem falar no começo do ano, como Bobadilla e Luiz Gustavo, por exemplo…
Enfim, pelo panorama dado, Cotia precisa se desvincular do São Paulo, fazer uma SAF e competir nos campeonatos sozinha, porque depender do clube não é fácil não…