Ser uma mulher que gosta de futebol é algo muito natural pra mim. Afinal, desde que eu me conheço por gente, a minha quarta-feira (ou quinta-feira) à noite é hora de assistir jogos; de domingo (ou sábado) à tarde, então, nem se fala. Sair com a camisa do meu time já faz parte do vestuário e ir ao estádio é como estar em casa – e estas são apenas algumas das coisas que esse esporte proporciona para quem faz dele uma paixão.
Eu não gosto de futebol em um nível normal; é algo que beira o absurdo. Pois, como costumo dizer: “Nunca será só futebol“. Acredito fortemente nessa afirmação. Só quem entra em um um estádio e sente aquela energia contagiante entende que aquilo não é um mero esporte. A vontade de chorar aperta, a alegria toma conta e a emoção de estar ali faz tudo ter sentido.
Lembro-me, como são-paulina que sou, da primeira vez que entrei no MorumBIS. Confesso que sou pé-frio e vi o São Paulo perder, mas eu não estava ligando muito, não. Eu estava realizando o sonho de ver o meu time jogar pela primeira vez dentro do estádio e era isso que importava. Esse dia resumiu muito bem o que é ser uma torcedora que apoia em todo e qualquer momento.
Por ser mulher, eu sei bem o que é viver tudo muito intensamente. Ser dedicada em todo e qualquer aspecto e ter que fazer valer a minha voz.
Por muitas vezes, vi mulheres sendo abordadas com “Para de falar de futebol e vai lavar a louça“, “Futebol é coisa de homem” e coisas nesse sentido. Não é querer generalizar, mas já o fazendo, esse tipo de pensamento é típico de “torcedores” que têm um pensamento tão pequeno que nem deve ser considerado – pessoas que não têm certeza nem de si mesmos.
Quando ‘dou as caras’ aqui no Arquibancada Tricolor em alguma live às vezes os comentários preconceituosos aparecem vindo de alguns indivíduos, porém isso não me afeta mais. No entanto, é minha missão combater este tipo de pensamento pequeno de quem é pequeno.
Nós, mulheres, temos que ter liberdade de ir ao estádio e nos envolver com o futebol sem o menor resquício de medo de sermos assediadas ou desrespeitadas. Afinal, isso é o básico que um ser humano pode querer. Seria utópico pensar em uma realidade como essa?!
Mulher, torça pelo seu time; ame-o com todas as suas forças e jamais o abandone; tenha voz, mostre tudo o que você sabe e faça valer o seu lugar. E se passar por uma situação de abuso ou violência: DENUNCIE. Peça ajuda.
Se você sempre foi respeitada e nunca teve nenhum tipo de problema, não pense que isso acontece com todas. Procure ter empatia com as demais e lutar por uma causa nobre que é a mulher ter o direito de estar onde ela quiser sem medo de ser feliz. Porque lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na arquibancada torcendo pelo time, xingando juiz e cornetando jogador. (risos)
Homem, respeite. É tão simples e fácil. Uma mulher dentro do estádio só está ali para torcer e ter a mesma liberdade que você tem. Pregue, pratique e faça valer o respeito. Cobre do seu círculo de amigos e não permita que nenhuma torcedora passe por constrangimentos, momentos desagradáveis e, até mesmo, de violência. DENUNCIE.
Futebol é algo tão universal, abrangente e acolhedor, que são justamente essas características que o fazem tão maravilhoso. O que foge disso pode ser qualquer outra coisa, mas não futebol. É por isso que lutamos, torcemos e nos engajamos.
Ser uma mulher que gosta de futebol e ama o São Paulo Futebol Clube é parte do que eu sou. Está na minha essência e representa uma grande parte das minhas escolhas. É algo pelo qual prezo e que tem um valor inestimável. Meu coração é vermelho, branco e preto; minha casa é o MorumBIS e a minha história é ser tricampeã do Mundo. E isso ninguém tira de mim.
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
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Por espaços igualitários, seguros e de respeitos para as mulheres onde elas quiserem! Minha paixão pelo SPFC foi um presente que ganhei da minha mãe, uma torcedora apaixonada pelo nosso soberano, já em seu ventre.
Parabéns pela coluna, Vanessa: verdade que sendo homem não passei nem metade dos problemas que as mulheres passam – embora eu critique quem acha que torcer é só saber escalação do time, estar presente ao estádio, ser ou não sócio-torcedor (ou sócia-torcedora passando para o feminino), que quem vê na TV e compra uniforme do time, não torce, essas babaquices, porque torcer não tem regra e cada pessoa torce do seu jeito -.
Cheguei a ler relatos de pessoas no twitter – saí de lá em 2021 excluindo minha conta e não sinto falta nenhuma – e cheguei a ouvir torcedores tricolores que “mulher não ia ao estádio, reclamava muito com isso de não ter uniforme para elas”.
Rebati: em todas as vezes que fui – olha que parei de ir ao MorumBIS em 2018 para os jogos do masculino, voltei uma vez para o jogo do feminino em 2019 e depois várias vezes fui ao ginásio ver nosso basquete: a maioria presente era FEMININA.
E sim, nas vezes que tiveram esse movimento dos uniformes no twitter – fui um dos que apoiou, dizendo que não só as mulheres vão mais que os homens, mas possuem estaturas e corpos diferentes dos homens, por isso os uniformes não podem ser os mesmos -.
Lamentavelmente, a parte da violência contra a mulher ainda está longe de acabar, assim como tantas outras e a conivência de nossa (in) justiça facilita a vida dos bandidos e impossibilita a vida e liberdade das vítimas.