Em um cenário de amadorismo, clubes quebrados, moeda fraca e tantos outros problemas históricos no futebol brasileiro, é até difícil citar a palavra esperança. No entanto, a novidade das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) pode ser um caminho muito interessante, e deveria ser discutida no São Paulo, pra ontem.
Primeiro, é preciso tirar a ilusão de um ricaço despejando bilhões de dólares para que sejam contratados reforços caríssimos. Nenhum empresário do mundo usaria o dinheiro como fazem clubes de futebol, principalmente os brasileiros. Pessoas do mundo dos negócios querem lucro, não há nada de errado nisso, e, se bem administrado, o São Paulo pode ser muito lucrativo.
As SAFs são resultado de uma discussão iniciada há muitos anos que culminaram na Lei Federal 14.193/2021, que regulariza a figura do clube-empresa no Brasil.
E o São Paulo?
Nossos ilustres conselheiros, talvez ocupados na piscina, não iniciaram qualquer movimento ou discussão aberta sobre a possibilidade de uma SAF no São Paulo. A lei foi sancionada em agosto de 2021 e segue um ensurdecedor silêncio no clube sobre o tema.
Vejo a possibilidade com bons olhos. Primeiro, para iniciar no clube uma receita antiga, mas que se perdeu em alguma gaveta do Morumbi: gastar menos do que arrecada, honrar compromissos e pensar a longo prazo. Ninguém investiria num clube sem respeitar esse bê-á-bá.
Passando três ou quatro anos assim, respeitando suas limitações financeiras, cortando custos, avaliando seu patrimônio (vender o CT de Guarapiranga? Unificar o CT profissional e de base em Cotia? Vender ao menos a parte social? Ter um elenco profissional e adequado a essa realidade?), o São Paulo voltaria a ser o gigante que nos acostumamos.
Com as contas em dia, estrutura adequada e com a história que temos, aí sim a SAF entraria na fase do investimento para grandes conquistas. Portanto, iniciar a discussão no clube seria inclusive uma forma de modernização, de tirar a administração do conselheiro para gestores qualificados.
Isso significa milagre e que com a SAF, vamos sair ganhando de todos? Evidentemente, não, mas eu prefiro lutar (e correr o risco de perder) no caminho certo, do que continuar insistir nas estratégias falidas que o São Paulo adotou nos últimos 15 anos.
*A opinião do colunista não reflete a opinião do site