A grama do vizinho é mais verde?

Se você é clubista o suficiente para achar que tudo o que estamos passando é só uma fase ruim e excesso de sorte dos outros, eu lhe convido a não ler este texto.

Este post traz números, fatos, dados com fontes e não foi baseado em achismo ou como alguns podem dizer, “pagando pau” para rivais. Neste caso, vou usar como exemplo, o time campeão brasileiro.
Muitos podem dizer que eles estão na boa só por conta da Crefisa que jorra dinheiro nos cofres deles para a compra de jogadores e claro, há um pouco de verdade, mas há mais coisas.

Aporte financeiro

Sim, o primeiro passo foi dado com uma injeção de grana nos cofres do clube. O Palmeiras estava colecionando vexames há anos e nem figurava mais entre os clubes de ponta do país, no que se refere a disputas de títulos.

Paulo Nobre foi eleito presidente do clube, e teve atitude que poucos teriam, ao emprestar dinheiro ao clube (com juros baixos) em troca de autonomia para comandar a instituição.

Isso contrariou muita gente e muitas brigas aconteceram, ainda mais no primeiro mandato, quando o clube quase foi rebaixado pela 3ª vez, em 2014.

Um novo estádio

Curiosamente, no ano em que o time quase caiu, aconteceu o que talvez seja hoje a maior fonte de renda do clube, o novo estádio.
Em um acordo tido por muitos como obscuro, a empresa WTorre investiu R$ 630 milhões na reconstrução do estádio, com total autonomia para rever os valores através de naming rights, operações de comidas e bebidas, além do estacionamento.

Patrocínios no estádio, comercialização dos camarotes e espaços VIPs, além das receitas de shows e eventos “extra-futebol”, são geridos pela construtora durante 30 anos de contrato.

Há um incômodo, pois como a construtora administra as datas de shows e tem a prioridade, isso obriga o clube a jogar no Pacaembu em algumas oportunidades, mas o clube é recompensado financeiramente.

E o clube, como ganha nisso?

Como o Palmeiras não conseguia receitas com o antigo estádio, foi um ótimo acordo para o clube. Ainda que uma briga tenha surgido na época da construção, em relação às cadeiras cativas, pois cada parte tinha um determinado número a ser comercializado, o saldo é positivo.

O Palmeiras tem um percentual progressivo (iniciado em 20% e aumentando 5% a cada 5 anos) nas receitas de aluguel de shows e eventos, além de reter integralmente a bilheteria dos jogos e venda de cadeiras cativas que lhe cabe.

Sócio-Torcedor

Com o estádio se tornando uma importante fonte de renda, o programa Avanti se tornou mais atrativo e garantindo casa cheia na grande maioria das partidas.

Houve um salto no número de inscrições do programa, de acordo com o site Futebol Melhor, no qual 130.696 registros são contabilizados ao clube (dados de Nov/2018), sendo o 3º maior no país.

Cenário mais atrativo a marcas

Com dinheiro em caixa, vindo do aporte inicial de Paulo Nobre e uma boa gestão das finanças, um time com qualidade para brigar por títulos e uma casa moderna, o cenário ficou atraente.

Toda essa combinação atraiu o interesse de grandes marcas para patrocinar o time e o moderno estádio, permitindo assim, que os valores fossem elevados.

A chegada de uma co-gestora

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A Crefisa, que estava negociando um acordo com o São Paulo em 2014, mudou seu rumo para o Palmeiras (até mesmo pelo fato dos proprietários da empresa torcerem para o clube).

Com um cenário mais promissor do que a bagunça administrativa e denúncias de corrupção da gestão Aidar, não era difícil optar pelo clube verde.

A empresa logo se tornou o principal combustível financeiro para que o clube montasse bons elencos e, talvez com o aprendizado da era Parmalat, passasse a investir também na infra estrutura e base.

Seu CT na Barra Funda, vizinho do outrora mais moderno do Brasil, São Paulo, foi modernizado e isso se estendeu para o CT do futebol de base, revelando alguns bons valores para o futuro.

Problemas à vista

Claro que nem tudo são flores, mas são problemas que podem ser corrigidos. A influência da Crefisa e sua proprietária é cada vez maior no Palmeiras, inclusive com uma candidatura ao conselho e futuramente, presidência do clube.

Tudo isso gera uma turbulência política e ameaças de saída do clube, o que impactaria seriamente as finanças da instituição, mas talvez, com menos gravidade que a saída da Parmalat, no passado.

Segundo relatório financeiro anual do Itaú BBA, que analisa a situação dos clubes brasileiros, o Palmeiras teve um aumento nas receitas de TV, patrocínios, bilheteria e venda de atletas, o que vem garantindo o aporte de verbas para investimento no elenco ao invés de pagamento de dívidas ou despesas correntes.

Com isso, o endividamento bancário foi reduzido e o empréstimo com o ex-presidente Paulo Nobre, foi quitado integralmente.

Resultados em campo

Neste período entre 2014-2018, o clube coleciona um aproveitamento de 71% como mandante e a conquista de três importantes títulos: a Copa do Brasil de 2015 e os Brasileirões de 2016 e 2018.

Mais dinheiro em caixa

Em 4 anos, o Allianz Parque recebeu quase 4 milhões de torcedores, gerando uma renda superior a R$ 260 milhões, que vão integralmente para o clube, como mencionado acima.

O clube saiu de uma média de público no Brasileirão de 2012 (último na 1ª divisão antes do início das obras do Allianz) de 11.983 torcedores para 19.755 em 2014 (ano da inauguração), chegando em 31.417 torcedores em 2018.

Esses números contrariam o argumento que se trata de um modismo ou movimento favorável de torcedores pela novidade de um estádio novo.

O que podemos tirar disso tudo?

O São Paulo precisa se movimentar. O clube que era conhecido por ser pioneiro, moderno e ousado, hoje parou no tempo em vários aspectos.
Seja na gestão de seus bens, investimentos em modernização de infraestrutura, departamentos e profissionais, mas especialmente na busca por parcerias para gerar novas receitas.

Sem dinheiro em caixa, é impossível competir em alto nível e montar equipes que possam disputar títulos.

Esse fato, gera um ciclo de problemas, pois a administração do São Paulo acaba tomando decisões erradas pelo calor do momento ou pressão da falta de títulos e não dá continuidade a trabalhos ou muda os rumos com uma frequência alucinante.

É preciso ser humilde em reconhecer o momento, aprender com outros exemplos, assim como outros clubes fizeram conosco nos bons tempos, para que possamos voltar a ser um protagonista na disputa de títulos.

A soberba que corre inclusive na cabeça de alguns torcedores, que a essa altura do texto (se é que conseguiram chegar) devem estar me xingando por ressaltar pontos de um rival, é um dos fatores que colaboram para que nossos dirigentes pensem de forma cada vez mais imediatista e errada.

Pés no chão, humildade e aprendizado. Ou não sairemos dessa por muitos anos.

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