Volante adaptado como zagueiro no título Paulista de 98, Capitão acredita que, um volante raiz, possa melhorar o meio campo: “Um cara que arrepia, que quando chegar lá no Miranda, chegar lá atrás na defesa, os caras já chegam cambaleando”.
Um dos caras mais queridos no futebol, de um nome peculiar, Oleúde José Ribeiro, e um apelido que não veio por ser capitão de um time, mas que está totalmente ligado a função, a alcunha de Capitão expressa bem a liderança que pregava em campo nos seus 18 anos de carreira e 10 clubes por onde passou.
Origem do apelido
O apelido surgiu devido ao sucesso que fazia com a imprensa no seu primeiro time, o Cascavel no Paraná, devido ao diferente nome, Oleúde, que segundo ele confundiam com Hollywood. E para segurar o ímpeto do então garoto, o treinador passou a chama-lo de Capitão, já que o querido mineiro de Conselheiro Pena havia sido criado em outra cidade paranaense, em Capitão Leônidas.
Em campo o maior destaque na carreira, mesmo sem ter ganho nenhum título é pela passagem na Portuguesa, Capitão é um dos maiores ídolos da história da Lusa, e jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube. Mas depois de ser campeão no Verde Kawasaki no Japão, foi no São Paulo que ele conquistou seu primeiro título no futebol brasileiro, o Campeonato Paulista de 1998, aos 32 anos de idade. Com 61 jogos com a camisa do São Paulo, Capitão teoricamente não tem nenhum gol marcado pelo Tricolor, fato que ele contesta:
“Mas eu fiz um gol sim! O gol que eu fiz pelo São Paulo importantíssimo, no Veloso, contra o Palmeiras, de pênalti (risos). É que não conta né, mas nós fomos no Brinco de Ouro, e lá o jogo foi para o s pênaltis, aí o pênalti decisivo foi eu que bati. Daí eu falei para o Veloso: eu não quero aparecer na foto com você. Veloso para um canto e eu mandei no outro (risos). Ficou a decisão nos meus pés e ganhamos, foi muito importante.”.
A simplicidade de um jogador de marcação, estilo raiz que desfilou durante a carreira inteira, é algo que Capitão pede ao atual São Paulo, segundo ele falta um jogador com essas características no meio campo, para dar uma sustentação ao sistema defensivo, e impor respeito ao adversário.
“No meu ponto de vista, ele precisa dar só uma ajeitadinha naquela zaga do São Paulo, e o setor de meio de campo, o São Paulo precisa de um volante pegador, um volante raiz mesmo. Como você me fez a pergunta, um volante raiz, um cara que arrepia, que quando chegar lá no Miranda, chegar lá atrás na defesa, os caras já chegam cambaleando. Se não tiver um cara no meio de campo que impõe respeito, não que não esteja pondo, mas tem hora que precisa bater, não é ser desleal, você tem que, o cara olhar pra você e dizer: aqui não vai dar para encarar. Igual a um Chicão no São Paulo, Felipe Melo no Palmeiras, aí o São Paulo realmente vai chegar aos títulos que está buscando com facilidade.”.
Esse é o Oleúde ou simplesmente Capitão, um cara do bem que agrega ao futebol, e que teve sua carreira carimbada como jogador do São Paulo. Confira abaixo a entrevista exclusiva que Capitão concedeu ao Arquibancada Tricolor.
AT: Capitão, você tem a consciência de que você é um cara muito querido no futebol?
Capitão: Realmente hoje eu tenho, tenho participado de alguns jogos festivos, e onde eu estou indo, as pessoas vem com aquele carinho, me abraçar e me agradecer pelo meu trabalho, aí eu comecei a perceber que realmente o pessoal tem um carinho grande por mim, então eu fico muito grato por esse trabalho realizado.
AT: Você tem uma história muito bonita na Portuguesa, teve uma passagem pelo futebol japonês e o São Paulo foi o primeiro grande clube da sua carreira, não que a Lusa não fosse, até porque quando vocês foram vice-campeões brasileiros (1996), a Portuguesa estava no patamar dos grandes clubes do Brasil. Mas uma equipe de grande expressão no cenário nacional. Como você recebeu esse convite na época?
Capitão: Eu já vinha na expectativa de poder me transferir para um outro clube, como você disse eu tive uma passagem pelo Verde Kawasaki, no Japão, fui campeão da J-League, e o São Paulo tinha despertado o interesse em me contratar, o Corinthians já tinha me procurado duas vezes, mas a Portuguesa não quis liberar, o Santos cheguei a conversar, o Clodoaldo me ligou em duas oportunidades, e não foi possível. Então eu estava naquela expectativa de a qualquer momento, e quando eu recebi esse convite do São Paulo eu fiquei muito feliz, porque era um sonho também meu jogar no São Paulo. Quando eu entrava no túnel assim, quando iria jogar contra o São Paulo, eu não falava pra ninguém, só para a minha esposa e meus filhos, ai eu ficava imaginando aquelas listras no túnel, vermelho, branco e preto, já imaginou eu entrando aqui com a camisa do São Paulo? E Deus me abençoou e realizou esse sonho no São Paulo e fui campeão, o São Paulo estava cinco anos sem título, e o presidente falou: olha nós precisamos de um jogador com a sua característica aqui, e quando perder você vai dar entrevista, e quando ganhar quem vai dar entrevista serão os garotos que são mais jovens. Eu falei que tudo bem, eu aceito, está tudo certo (risos).
AT: Tinha essa história né!? Olha você vai dar entrevista quando perder porque você é mais experiente. E deu certo. Acho que você deu poucas entrevistas né?
Capitão: Eu realmente dei poucas entrevistas, porque graças a Deus pegamos um plantel maravilhoso, a gente vinha ganhando todos os jogos, e o time era muito bom, de muita responsabilidade, todos interessados em alcançar o título, e graças a Deus ele me poupou de dar essas entrevistas mais complicadas (risos). Como ele tinha dito: o time é um time jovem Capitão, então a gente precisa tirar a responsabilidade grande e o peso de cima deles, então você, o Marcio Santos que está aqui, um pouco mais experiente, e vocês assumirem essa parte, no momento que ter a cara para bater, vocês deixarem eles ficarem mais escondidos, só na boa. Eu falei: estamos juntos, e deu tudo certo, graças a Deus.
AT: No São Paulo você teve uma mudança de posição. Era volante e passou a jogar de zagueiro. Como é que foi essa mudança para você?
Capitão: Então, eu no Japão tinha jogado como zagueiro, fui como volante, depois acabei mudando para zagueiro, porque a gente vinha ganhando, mas estava tomando alguns gols. Ai o treinador era o Nelsinho Baptista, e ele pediu pra eu fazer essa função, eu fiz, fui bem, fui campeão da Copa Nabisco e campeão da J-League. E depois fui para o São Paulo, o Dario Pereira era o treinador ainda, e nós ficamos sete jogos invictos, sem perder, e perdemos um jogo só para o Palmeiras, perdemos de 1 x 0, com 10 jogadores em campo, no Pacaembu, jogo a noite, ai eles tiraram o Dario Pereira e trouxeram o Nelsinho Baptista. A gente vinha ganhando, de 2 x 1, ganhava de 3 x 1, mas sempre tomava gol, quase todas as partidas tomava um gol, igual está acontecendo no São Paulo nos dias de hoje, o São Paulo faz e toma, faz e toma, só que a gente ganhava. Daí o Nelsinho Baptista veio para o São Paulo, e nós fomos jogar contra o Santos, o Muller estava no Santos, jogo lá em Presidente Prudente, jogo muito difícil, o Muller estava desarrumando nosso sistema defensivo, e terminou o primeiro tempo, o Nelsinho falou: você vai marcar o Muller, vai jogar na defesa igual a gente fez no Japão. Da pra fazer? Falei: faço, tranquilo. O Marcio Santos vai ficar como libero, você segue ele individual. Aí o time acertou, não deu mais correria, foi zero a zero o jogo, ele falou: daqui pra frente vai ser zagueiro. Então ai eu falei: meu Deus zagueiro. E comecei a ficar um pouco preocupado, umas duas semanas raciocinando sobre isso; falei assim: tem que pensar agora como zagueiro, não posso pensar na zaga pensando que sou um volante, tem que tirar isso da minha mente que eu sou volante, agora sou zagueiro, pensar como zagueiro. E aí eu fiz isso ai, deu certo, e com o Marcio Santos a gente começou a conversar, ele gostava de fazer aquela linha de impedimento, falei: Marcio, não dá pra fazer. Ele não gostava de dar aqueles piques longos. Eu falei: vamos fazer o seguinte, eu pego dos dois lados, quando a jogada estiver se desenhando no setor de meio de campo, ela se define se é para a esquerda ou direita, ai eu troco o lado e pego, a bola vai no Serginho vou fazer a cobertura, a do Zé Carlos, e a bola alta sua responsabilidade. E ele entendeu isso e eu também, ai deu certinho a dupla de zaga, a gente foi a defesa menos vazada, e conseguimos um título maravilhoso.
AT: Na linguagem dessa molecada de hoje em dia, você era um zagueiro raiz, era assim que você se definia? Jogava sério, duro na marcação, sem maldade, esse era seu estilo?
Capitão: Sim esse era meu estilo! Um jogador, zagueiro raiz mesmo, porque para você ser um vencedor precisa ser dessa forma. Quando já estava encerrando a carreira eu ouvia muitos, principalmente os empresários, começa a chegar nos jogadores: não você tem que deixar fulano correr pra você; você tem que jogar pra você. Então isso acaba você querendo aparecer, aí você acaba não aparecendo, o time vai mal, você acaba também não atingindo os objetivos, a valorização que você queria. Muitas pessoas falavam pra mim: como que você vai correr atrás de um jogador, treinador mandou você marcar o jogador individual. Eu falava: tem duas coisas ou eu marco o jogador e a gente ganha o jogo ou então eu não marco, jogo pra mim, e a gente perde o jogo. O que você acha? Qual que é mais viável? Entendo que é viável cumprir a minha missão, e dar conta do recado. Então, sempre deu certo, nas equipes que eu passei também sempre fui titular, devido a isso, me ajudou muito, e graças a Deus, e hoje me considero vencedor dentro do futebol.
AT: No São Paulo foram 61 jogos, você não marcou nenhum gol. Você foi campeão no Japão, mas aqui no Brasil o primeiro título foi no São Paulo, o Paulista de 98. Foi especial para você?
Capitão: Foi muito especial! Mas eu fiz um gol sim! O gol que eu fiz pelo São Paulo importantíssimo, no Veloso, contra o Palmeiras, de pênalti (risos). É que não conta né, mas nós fomos no Brinco de Ouro, e lá o jogo foi para o s pênaltis, ai o pênalti decisivo foi eu que bati. Dai eu falei para o Veloso: eu não quero aparecer na foto com você. Veloso para um canto e eu mandei no outro (risos). Ficou a decisão nos meus pés e ganhamos, foi muito importante. Mas eu vibrei muito com esse título, eu vinha buscando já sempre estávamos chegando perto, e deu certo. Um dia o falecido Dener até brincou, ele saiu foi para o Grêmio e foi campeão, depois voltou para a Portuguesa e falou: Capitão você quer ser campeão você tem que sair da Portuguesa, apenas uma brincadeira. E eu fui para o São Paulo deu certo, ganhei um título, fui para o Japão, ganhei título, voltei e na Portuguesa fui vice-campeão brasileiro, não deu certo, mas foi maravilhoso esse título levantado pelo São Paulo, foi muito bom.
AT: Quando você chegou no São Paulo, o Rogério Ceni tinha assumido a titularidade há pouco tempo. Como era o Rogério naquela época e como você vê ele como técnico?
Capitão: Ele é um cara legal, inteligente. Eu fui muito bem recebido por todos os jogadores. No dia que sai da Portuguesa chorei muito, você está na sua casa, eram 11 anos e meio na Portuguesa, e de repente eu saio assim, e como que vou ser recebido lá, serei mais um, é Denílson, Serginho, o França, Dodô, o Raí, Rogério Ceni, e companhia limitada, Zé Carlos, então você chega e pensa eu sou mais um. Mas eu cheguei lá algo que me deixou muito feliz também foi a imprensa, quando eu cheguei lá estava toda a imprensa que fazia o São Paulo, e vi também um carinho dos próprios repórteres com a mina pessoa, estar fazendo essa cobertura da minha chegada, apresentação no São Paulo, e fui recebido de braços abertos, todos vieram me abraçar, todos os jogadores foi um negócio tremendo. Então me senti em casa, foi algo assim que realmente acabei me entregando dentro de campo, nos treinamentos, para que eu pudesse realizar um trabalho bom e não decepcionar quem estava esperando o Capitão. Sobre o Rogério Ceni que você me perguntou, o Rogério Ceni é um cara bacana, quando nós fomos para o último coletivo para estrear no Campeonato Paulista, choveu muito, frio, e não treinamos como vinha treinando, aí ele pediu uma reunião lá no vestiário, o treinador autorizou, falou: ninguém se troca. A gente molhado; ele falou: olha se for para começarmos o campeonato dessa forma é melhor passar lá na secretaria e pedir para rescindir o contrato e ir embora porque vai ser uma vergonha. Eu lembro que no Japão o Rui Ramos falou a mesma coisa, bem parecido assim: se for para a gente jogar da forma que a gente está jogando o coletivo aqui, melhor ir embora. E a gente foi campeão, a quatro rodadas já estávamos classificados para a final, e no São Paulo não foi diferente. Ele como técnico, eu estou torcendo muito por ele, onde ele passou fez história, no Fortaleza, no Flamengo foi campeão. No meu ponto de vista ele precisa dar só uma ajeitadinha naquela zaga do São Paulo, e o setor de meio de campo, o São Paulo precisa de um volante pegador, um volante raiz mesmo, como você me fez a pergunta, um volante raiz, um cara que arrepia, que quando chegar lá no Miranda, chegar lá atrás na defesa, os caras já chegam cambaleando. Se não tiver um cara no meio de campo que impõe respeito, não que não esteja pondo, mas tem hora que precisa bater, não é ser desleal, você tem que, o cara olhar pra você e dizer: aqui não vai dar para encarar. Igual a um Chicão no São Paulo, Felipe Melo no Palmeiras, aí o São Paulo realmente vai chegar aos títulos que está buscando com facilidade.
AT: Você nunca pensou em ser treinador? O que anda fazendo da vida agora?
Capitão: Eu fiz meu curso como treinador, já estive na categoria de base da Portuguesa, no Sub 15, fui vice-campeão da Copa Nike, tive no Campeonato Paulista, um campeonato bom, alguns jogadores que eu aprovei já se profissionalizaram, estão jogando por toda parte do Brasil. Depois estive no São Bernardo também, no “Tigrinho”, no Sub 17, fiz um trabalho maravilhoso lá também, trabalhei também no Água Santa, como treinador no Sub 20, um trabalho muito bom lá, respeitado por todos. Depois quando o Água Santa se profissionalizou eles me chamaram para ser coordenador, no primeiro ano, a gente foi vice-campeão contra a Matonense, subimos logo de cara, e depois eu sai, tive algumas propostas, o Mauá me convidou para ser treinador, outros clubes me convidaram, mas eu vi que não iria ter aquele material humano que eu iria precisar. E ai quando você é contratado, o Capitão foi contratado, e se você não tem aquela matéria-prima pra realmente dar aquele tempero que você precisa, ai ninguém quer saber, o cara foi jogador, será que o cara não entende de futebol, o time não está jogando, as vezes estão faltando algumas peças para as coisas engrenar um pouco melhor. Então eu preferi esperar, aguardar um pouco mais, estou em casa com a minha esposa, meus filhos estão encaminhados graças a Deus, trabalhando, eu fico só administrando as minhas coisas por enquanto, mas se surgir algumas coisas que valem a pena com certeza irei.
AT: Capitão, muito obrigado pela sua entrevista, pelo seu papo. E pedir para você deixar uma mensagem para os leitores do Arquibancada Tricolor.
Capitão: Eu que agradeço pelo convite, um grande abraço a todos os leitores da Arquibancada Tricolor, e tem que sempre acreditar nesse time, a equipe é boa, o plantel é bom, dar aquele apoio para o treinador. Quando o jogador tem as costas quentes com o treinador ele consegue jogar muito mais. E se o treinador tem as costas quentes com a torcida, aquela confiança, a gente apostar nele, ele também vai render melhor ainda, e as coisas irão fluir, e os títulos chegarão como estamos aguardando. Grande abraço a todos vocês.