Confira o primeiro artigo desta série, sobre o endividamento líquido do São Paulo, e o segundo artigo, sobre o endividamento de curto e longo prazo.
Como podemos observar, o futebol brasileiro, a cada ano que passa, fica mais competitivo. E o aspecto financeiro tem feito a diferença no que diz respeito à solidez e qualidade das equipes. Em um mercado que as SAFs e clubes empresa têm ganhado cada vez mais espaço, as equipes que não se reestruturarem financeiramente têm grandes chances de ficarem para trás e isso pode ser um caminho sem volta.Neste artigo, iremos abordar a questão do endividamento do São Paulo. Analisaremos o histórico do clube nos últimos 20 anos e explicaremos alguns conceitos sobre despesas financeiras.
Despesas Financeiras
Além da necessidade de quitação do principal da dívida obtida, o devedor precisa ainda arcar com os juros da dívida contraída, o que chamamos de despesas financeiras.
Essa diferenciação entre principal e juros é importante. Imagine que você pegou um empréstimo de R$ 50 mil (principal) para comprar um carro com juros de 10% ao ano. Desse modo, no primeiro ano, pagou R$ 5 mil de juros. Nesse caso, se você pagou apenas esses R$ 5 mil, sem nenhuma parcela relativa ao valor principal, você continuará devendo ao banco os mesmos R$ 50 mil. Assim, embora tenha desembolsado R$ 5 mil, não houve nenhuma diminuição na sua dívida.
É isso que acontece com os R$ 90 milhões pagos em despesas financeiras pelo São Paulo em 2023 que em nada servem para efetivamente reduzir a dívida (principal) do clube. Para diminuir o endividamento do clube, além dos R$ 90 milhões, o clube precisa desembolsar valores adicionais relativas ao principal. Grosso modo, é como se o clube tivesse que pagar R$ 110 milhões para efetivamente diminuir a sua dívida em apenas R$ 20 milhões.
Podemos observar que, de 2016 até final de 2018, o clube apresentou uma redução em seu endividamento bancário e empréstimos com terceiros. Do final de 2015 até final de 2018, o clube apresentou uma redução de quase 40% em seu endividamento bancário em valores corrigidos, o que contribuiu para a queda nas despesas financeiras no período.
Ademais, um fator econômico contribuiu para a melhoria dos números do São Paulo: o país teve uma queda na taxa SELIC, que saiu de 14,25% em agosto de 2016 para 6,5% em março de 2018, o que acaba impactando positivamente os balanços dos clubes que tem seu endividamento bancário basicamente atrelado ao CDI. O clube observou, durante esse período, uma redução de quase R$ 200 milhões em seu endividamento líquido e uma redução significativa nas despesas financeiras.
Posteriormente, observamos o caminho inverso. Tivemos uma elevação muito grande dos juros pagos pelo clube em virtude do aumento do endividamento bancário que aconteceu principalmente durante o ano de 2019.
Nos anos de 2021 e 2022, o clube acabou se beneficiando novamente de uma redução da SELIC, que chegou a atingir 2%, e da redução do endividamento de curto prazo, conforme citamos anteriormente, o que fez com que os juros pagos ao longo do ano fossem reduzidos, até crescerem novamente em 2023, com o aumento da taxa SELIC.
Relação Endividamento / Receita (índice)
Por fim, uma última análise que gostamos de fazer com relação à saúde financeira do clube, é acompanhar a relação endividamento / receita total do clube. Esse índice mostra a capacidade do clube em quitar suas dívidas ao longo do tempo.
Muitas vezes o fato do clube aumentar seu endividamento de um ano para o outro não quer dizer que a situação piorou, pois pode ser que a capacidade de geração de receita aumentou ainda mais, e vice versa. Em outras palavras, se a receita sobe 50%, ainda que o endividamento suba 10%, o fato do clube ter um faturamento maior faz com que a dívida seja mais “pagável” do que era antes.
Abaixo podemos observar como esse índice vem se comportando ao longo dos últimos 20 anos:
Como citamos anteriormente, todos os indicadores mostram que a situação vinha melhorando até final de 2018. Apesar do clube não estar elevando suas receitas de forma significativa e não ter logrado êxito nas competições esportivas, de 2015 a 2018, o São Paulo vinha reduzindo seu endividamento de forma consistente.
Em 2019, pelos motivos que já explicamos acima, essa relação saiu de 0,64 para 1,24, aumento de 100%. Ou seja, se o clube não tivesse despesas nenhuma ao longo do ano, ele precisaria de mais de um ano de receitas para quitar suas dívidas. Isso foi potencializado em 2020 devido à pandemia.
Observamos o contrário nos 3 primeiros anos da gestão Casares, em que apesar de não termos observado uma redução significativa do endividamento líquido, o fato do clube ter aumentado suas receitas fez com que esse índice apresentasse uma redução, embora possivelmente esse quadro possa se alterar em 2024.
Finanças Tricolor começou em junho de 2017 com o objetivo de realizar análises detalhadas e independentes das demonstrações financeiras do São Paulo e, assim, disseminar o conhecimento sobre as finanças do clube para a maior quantidade possível de torcedores, na medida em que a saúde financeira do clube permite melhores resultados desportivos.
A equipe do Finanças Tricolor é formada por um Administrador com especialização em Finanças e um Advogado com mestrado em direito tributário que trabalham juntos na pesquisa e desenvolvimento dos estudos apresentados no perfil.
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