O dia 27 de março é especial para os torcedores são-paulinos. Há 14 anos atrás, em 2011, Rogério Ceni escreveu mais uma importante página da sua história como jogador do Tricolor Paulista, marcando o centésimo gol da sua carreira. Tal acontecimento já era histórico por si só, uma vez que Ceni se consolidou de forma isolada como o goleiro que mais marcou gols na história do futebol (posto que ele ocupa até hoje), mas o feito teve um ingrediente especial: o gol 100 foi marcado em um competitivo Majestoso.
O São Paulo, naquela época comandado pelo técnico Paulo César Carpegiani, vinha de uma boa sequência no Campeonato Paulista, apesar da derrota por 3 a 2 para o Paulista dias antes do clássico. Ceni marcou o seu gol 99 neste jogo, fazendo com que os ânimos da torcida se inflamassem ainda mais na espera pelo embate contra o Corinthians. Em caso de vitória, o Tricolor poderia voltar a brigar pelo primeiro lugar na classificação do campeonato, além de quebrar um jejum de vitórias contra o seu arquirrival, que já durava quatro anos.
Apesar do mando de campo ser são-paulino, o Majestoso foi disputado na Arena Barueri, pois o Morumbi estava recebendo o show da banda de rock Iron Maiden. Porém, para além do fator campo, a expectativa em torno do possível centésimo gol do goleiro artilheiro sair naquela partida tomava conta não somente da torcida, mas do elenco Tricolor. Em entrevista antes do jogo, o zagueiro Alex Silva comentou sobre a possibilidade:
“Seria bom demais ele marcar o centésimo no domingo. Do jeito que o Rogério tem estrela, vai sair no domingo sim. Seria melhor se fosse no Morumbi, mas para nós são-paulinos será uma coisa importante que vamos lembrar para o resto da vida”.
E realmente lembrariam. Chegado o dia, os torcedores compareceram em peso na Arena: ao todo, mais de 17 mil pessoas foram acompanhar o clássico. O São Paulo entrou em campo com a seguinte escalação: Rogério Ceni; Rhodolfo, Alex Silva, Miranda e Junior Cesar; Rodrigo Souto (Casemiro), Jean, Carlinhos Paraíba, e Ilsinho (Marlos); Fernandinho (Rivaldo) e Dagoberto. Time preparado, era hora de começar o jogo.
O primeiro tempo foi marcado por um leve controle do Corinthians no início, que dominava o lado direito com Alessandro e Dentinho. No entanto, o time não conseguiu ameaçar de fato a defesa são-paulina. Na reta final da primeira etapa, após algumas tentativas fracassadas de marcar por parte do time, Dagoberto anotou o primeiro gol do jogo aos 39 minutos, depois de receber a bola próxima à área de ataque. O chute certeiro acertou o canto esquerdo do gol defendido por Julio Cesar, levando a torcida do São Paulo à loucura.
A segunda etapa reservaria momentos épicos naquela tarde de domingo. O Corinthians de Tite voltou a campo de forma mais ofensiva, e o empate quase saiu aos dois minutos, quando o meio-campista Jorge Henrique tentou marcar após receber um cruzamento de esquerda. Rogério, atento, fez uma defesa precisa, impedindo o gol adversário. No entanto, foi aos sete minutos que a história começou a ser escrita: após Fernandinho ser derrubado na área por Ralf, a torcida tricolor logo começou a gritar ensandecida, pois já sabia quem seria o batedor daquela falta.
Ao som de “É o melhor goleiro do Brasil”, Ceni se encaminhou para a área de onde a falta seria batida. O meio-campo Carlinhos Paraíba, que estava próximo dele, lembra que o craque sugeriu que fosse ele a fazer a cobrança. No filme do centésimo gol, Paraíba recordou:
“Na hora da cobrança, o Rogério me chamou e disse: “Carlinhos, a bola passa na lateral da barreira, o goleiro não está olhando, faz a cobrança”. Eu olhei, vi que a bola passava, mas não quis arriscar. Falei: “Bate, patrão”. E ele bateu e marcou o gol”.
Ceni beijou a bola, a posicionou e bateu uma cobrança perfeita no canto direito do gol corintiano que marcou para sempre a sua carreira já multi-vitoriosa. Depois de furar a barreira e não dar chances para Julio Cesar aos nove minutos, o goleiro artilheiro tirou a camisa e correu para perto do público, que também não conteve a euforia perante o momento histórico que acontecia. Todos os jogadores do São Paulo acompanharam o capitão do time na comemoração, enquanto fogos de artifício eram soltos ao redor de uma Arena Barueri em festa. Parecia final de campeonato.
O então árbitro Guilherme Ceretta de Lima teve a missão de mostrar o cartão amarelo ao goleiro do São Paulo depois do gol, e revelou que fazer isso em meio àquele momento especial foi um tanto constrangedor:
“Eu tinha que cumprir a regra, independentemente da situação. Obviamente, se eu pudesse escolher e a regra me permitisse, eu não daria o cartão. Era um momento histórico. Fiz a coisa certa. Se não tivesse aplicado o cartão, nós estaríamos conversando sobre o erro”, afirmou Ceretta, que até hoje guarda a bola chutada por Ceni na partida.
O Corinthians ainda conseguiu diminuir com Dentinho aos 22 minutos da etapa final, e apesar de acumular chances no fim do jogo, a vitória tricolor foi consumada em meio à festa do gol 100. Tabu de quatro anos quebrado, clássico vencido, história escrita.
Entrevistado logo após o jogo, em meio a uma multidão de repórteres, Rogério Ceni declarou: “Foi como tinha que ser. De falta, como eu queria, e num gol que definiu um jogo importante como foi o de hoje.” Ele dedicou a marca histórica para as filhas, o pai, e sobretudo, para a nação são-paulina.
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