Se tem um personagem fora das quatro linhas, da história recente do São Paulo, que a torcida sempre quer ouvir a opinião esse é Marco Aurélio Cunha, hoje Conselheiro Vitalício do clube.
Em 2020, Marco Aurélio concorreu das prévias da oposição para a candidatura à presidência do São Paulo Futebol Clube, mas perdeu o pleito para Roberto Natel, que consequentemente não venceu o agora presidente Julio Casares.
Porém o tom da entrevista exclusiva do conselheiro ao Arquibancada Tricolor, é justamente voltado a criticar a atual gestão do clube. Ao ser questionado sobre possíveis investidores que poderiam fazer um aporte financeiro no São Paulo, para amenizar a grave crise financeira que beira os R$700 milhões, Marco Aurélio foi enfático dizendo que ninguém vai colocar dinheiro em um clube sem poder ter ingerência, e que essa possibilidade hoje no tricolor é incompatível, por o clube não estar a venda, e que segundo ele existe um amadorismo no comando da gestão de futebol.
“Quem dirige o São Paulo, são amadores na gestão do futebol. E, portanto, essa coisa de investidor é nuvem de fumaça, pra poder tirar um pouco a pressão dos maus resultados.” – comentou MAC.
Entre outros assuntos Marco Aurélio Cunha criticou a continuidade que impera há anos no São Paulo, desde os tempos de Juvenal Juvêncio, lembrando que ele fez parte da diretoria do falecido presidente, e também de Leco, quando retornou ao Morumbi em 2016. Outro fato relatado é a promessa não cumprida até aqui do Presidente Julio Casares, em colocar profissionais especializados em setores de extrema importância do clube, delegando essas funções ao pessoal do social.
O conselheiro também falou das crises em torno do futebol, ao ser questionado sobre a insatisfação interna que já era notória, e que foi confirmada pelo áudio de Muricy Ramalho, vazado semana passada. Marco Aurélio diz que tanto o atual coordenador de futebol quanto o técnico Rogério Ceni têm nome e experiência suficiente para contornar os problemas do futebol, que atingem elenco e comissão técnica.
Marco Aurélio Cunha fez sucesso como superintendente de futebol na última grande fase vivida pelo Tricolor quando conquistou o Campeonato Paulista, Libertadores da América e Mundial de Clubes em 2005, e o Tricampeonato brasileiro nos anos de 2006, 2007 e 2008. Sempre em que a situação de bastidores, que acaba refletindo no campo, não é das melhores o nome de Marco Aurélio Cunha é lembrado pela torcida para contornar a crise, como aconteceu em 2016 a pedido do então presidente Leco.
Confira na integra a entrevista de Marco Aurélio Cunha ao Arquibancada Tricolor
AT: Você não está mais no São Paulo, mas é muito ligado ao clube, e a torcida vem passando vexames nos últimos anos, independente do título paulista. Como você vê essa situação?
Marco Aurélio Cunha: Eu sou conselheiro vitalício do São Paulo, embora licenciado, e que esse ano eu trabalhei no Avaí, e me licenciei para fazer o meu trabalho pessoal, e felizmente foi bem, o Avaí foi campeão estadual, subiu para a série A, improvável, mas conseguimos. O que eu vejo é que o São Paulo passa por uma crise política, é uma crise de gestão contínua, que veio com a saída do Juvenal, a gestão do Carlos Miguel, com uma renúncia, a interinidade do Leco, depois a eleição do Leco, e esperança de mudança que não houve, e agora o Casares que é uma continuidade da gestão do Leco, porque praticamente todo mundo que está na gestão do Casares fez parte da gestão do Leco. Então mudam-se pessoas, mas o pensamento continua o mesmo, e a social do São Paulo dirigindo o clube. A gente não está aqui para falar mal da social do São Paulo, pelo contrário sou sócio, uma social linda, mas se mistura o poder político com o poder executivo, tem que fazer o poder executivo, o melhor para o São Paulo, com pessoas como foi prometido na campanha do Casares, com profissionais de ponta em cada setor. Ao contrário disso a gente vê o futebol sendo dirigido por gente da social, a gente vê setor administrativo pelo social, então no fundo a social do São Paulo, dirige o São Paulo. Há pessoas boas na social? Claro que há, claro que há, mas não em áreas nevrálgicas como especialmente o futebol e o financeiro. Eu acho que ali nós temos que ter gente do mercado, trabalhando duro, pra poder mudar essa perspectiva. E em gerência organizada, essas coisas desse tipo.
AT: Ouvimos muitas especulações em empresas que possam vir com um aporte financeiro que possa melhorar a situação do São Paulo, mas tem a questão dos conselheiros que na visão da torcida atrapalha, que não aceita o dinheiro de fora. Você que conhece bem o São Paulo. Existe alguma empresa querendo investir no São Paulo?
Marco Aurélio Cunha: Eu estou estudando a sociedade anônima de futebol. Estou envolvido com gente, investidor que tem interesse em adquirir clubes aqui no Brasil. O problema que isto não é investidor, põe o dinheiro e deixa outros brincarem com seu dinheiro, isso não acontece em lugar nenhum, não tem conselheiro que barre isso. Você acha que alguém vai barrar, se vier um aporte financeiro substancial, com gestão autônoma? Claro que não! O problema é que primeiro, o São Paulo não está a venda. Porque o ativo do São Paulo, quanto custa o São Paulo, sua história, suas conquistas, seu estádio, Cotia, é número inatingível, uma proposta de qualquer coisa nesse sentido. Então o São Paulo é um clube que dificilmente terá uma sociedade anônima de futebol, nesses moldes, a não ser só o futebol. E obviamente ninguém vem por dinheiro gratuito né, o cara vem aqui e joga lá 50 milhões e assiste, ele vai dirigir o dinheiro dele. E o clube está preparado pra alguém fazer isso? Creio que não! Até porque quem dirige o São Paulo, são amadores na gestão do futebol. E, portanto, essa coisa de investidor é nuvem de fumaça, pra poder tirar um pouco a pressão dos maus resultados. É muito mais fácil você vir e comprar o América MG, que é um clube pequeno, enxuto, comprar clubes que não tem essa…comprar o Red Bull Bragantino que foi adquirido dessa forma, e aí sim você mensura melhor o valor da marca, que ainda não tem um peso de um Corinthians, de um Santos, de um Palmeiras, e você consegue passar para ser sociedade anônima do futebol. Agora investidor: olha vim aqui dar o meu dinheiro pra vocês brincarem, isso aí é uma ilusão, ninguém vai fazer isso, obviamente não. Entendeu? O que se faz é buscar dinheiro, com juros mais baixos, participação em lucro, essa é a saída que o São Paulo pode ter, não estou lá para discutir quais são as ideias que estão sendo propostas, mas isso é ilusão, é aquela coisa do conto da carochinha. Não existe, ninguém tem dinheiro para brincar, o sujeito que é milionário, ele é milionário porque ele não joga dinheiro errado, os milionários, os fundos são ricos porque eles sabem trabalhar com o dinheiro, eles colocam dinheiro onde vai haver lucro, e obviamente você tem lucro se você dirigir seu próprio dinheiro, se você tiver autonomia pra isso, e obviamente um clube de futebol está longe disso.
AT: O que aconteceu esses dias com o Muricy Ramalho com o áudio vazado, a insatisfação que existe em torno do futebol. Quando você era um dirigente você blindava tudo isso. Está faltando um nome que possa ser uma parede para o elenco e comissão técnica?
Marco Aurélio Cunha: Mais nome que o Muricy tem? Mais nome que o Rogério tem? Quem sou eu para me comparar aos dois. Mas é uma questão de época também, na minha época não havia tanta rede social, não havia tanto vazamento, não havia ingerência de pessoas de fora pra dentro. Jogador não ficava publicando fotinho na rede social, e a relação era muito mais próxima e muito mais comprometida. Havia menos empresário participando de gestão, hoje empresário empresta dinheiro para time de futebol. Como é que faz? Como é que você vai ter autonomia sobre isso? É outra época, há de se dizer isso. Mas acho que sim, falta um pouco mais de imposição, de limites, de conhecer o futebol de uma maneira global, porque você é respeitado quando você já tem muitos serviços prestados. Não quero repetir, mas acabei de vir do Avaí que foi campeão estadual e subiu onde Cruzeiro e Vasco não subiram. Da pra comparar o Avaí com Cruzeiro e Vasco? Não dá! Mas subiu o Avaí. Porque? Meses de salários atrasados, três meses de salários atrasados, imagem atrasado, é você comprometer o grupo a fazer uma missão e termina-la. Quase como esses filmes aí, e a gente conseguiu. Eu fiquei lá até setembro, e voltei pelo falecimento da minha mãe, mas continuei de alguma maneira incentivando, apoiando o presidente, a gestão, um monte de falhas, mas a gente fechou o time. Então as vezes você pega o time separa da confusão, e vai embora fortalecendo o grupo, cobrando, tirando quem não serve, trazendo gente melhor, você chega no resultado. Agora se ficar tudo ao Deus dará, ninguém sabe quem manda, sabe que a pessoa que está comandando não tem o respaldo suficiente aí vaza pelos dedos mesmo os resultados.
AT: O São Paulo faz frente ano que vem, as grandes equipes que hoje estão na ponta?
Marco Aurélio Cunha: Não sei responder, acho que para os três maiores Flamengo, Palmeiras e Atlético MG, acho difícil né! Mas pode fazer, o futebol é imprevisível, o futebol tem um lado imponderável muito bom, time dispara vai embora. O Botafogo, por exemplo, estava morto na Série B, o Enderson Moreira veio, acertou o time, as contratações no inicio que ainda não estavam afirmadas deram certo como o Chay, enfim, o Botafogo fez 70 pontos no campeonato e ganhou uma série de partidas e virou o campeão. Então isso existe, você larga mau, pega uma embalada vai bem, pode ser campeão, isso acontece, é o futebol. Agora na probabilidade é pequena, isso é superação, isso não é planejamento, na superação qualquer um pode ser campeão, no planejamento, está difícil.
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