Pintado: “Eu imaginei que encontraria um São Paulo que eu deixei, e isso não existe mais” – Entrevista AT

Um dos símbolos do time comandado por Telê Santana, que em 2022 comemora 30 anos da conquista da primeira Libertadores, o ex-volante e hoje treinador Pintado, tem uma história de amor ligada ao clube.

Conteúdo
“O tempo passou, as coisas mudaram…”Confira a entrevista exclusiva de Pintado ao Arquibancada TricolorAT: Pintado você surgiu na base do São Paulo ou veio do Bragantino?AT: Pintado, o Arquibancada Tricolor entrevistou o Palhinha recentemente, e foi perguntado se realmente o Telê Santana treinava à exaustão. Ele até disse que chegou ir embora com algodão no nariz de tanto cabecear. E repetimos a pergunta a você. Muito se fala que ele pegava você para aprimorar o passe e fazia com que ficasse chutando bola na parede. Mito ou verdade?AT: O lance do gol de falta do Raí na final do Mundial de Clubes de 1992, o gol do título, tem uma foto emblemática sua gritando. E em algumas entrevistas você disse que gritava que era pra ele fazer o gol que seria o do título. Você tinha muita convicção naquele momento?AT: Falamos muito de união no futebol, e além de ter sido jogador você também é treinador, e aquele time comandado pelo Telê Santana era muito unido. Mas ocorria brigas no elenco?AT: Aquele São Paulo do Telê Santana era realmente imbatível?AT: Esse ano de 2022 completou-se 30 anos da conquista da primeira Libertadores do São Paulo. E até os dias de hoje vemos muita identificação da torcida com aqueles jogadores. Em sua opinião, o porquê de tanta identificação, mesmo depois de tanto tempo?AT: Pintado, você era um volante, camisa 5, o responsável pela sustentação de marcação no meio de campo. Mesmo assim, chegou a marcar algum gol pelo São Paulo?AT: Você sempre foi um jogador aguerrido e a torcida gostava demais de você.AT: Depois de tantos anos fora do São Paulo você retornou ao clube e teve uma passagem na comissão técnica em 2016. Na época o Bauza disse que não havia sido consultado, depois teve a polêmica com Cueva, e a sua demissão que você já revelou não ter tido mágoas, não foi tão amistosa. Teve muito ruído nessa sua passagem?AT: Em uma outra entrevista sua, você disse que o único São Paulo que você conhecia era o São Paulo campeão. Nos últimos 10 anos o único título foi o Campeonato Paulista de 2021. E o Pintado e companhia da era Telê Santana, representavam demais a torcida, a camisa. Hoje em dia, falta representatividade em campo no São Paulo?AT: Com a experiência que você tem de campo e extracampo, você enxerga um cenário melhor para o São Paulo nos próximos anos? Esse, na teoria, é mais um ano que vai brigar para não cair?AT: Pintado você já dirigiu como treinador diversas equipes, e em 2017 como interino você comandou o São Paulo em três partidas. Na sua carreira como treinador, você pensa um dia voltar para o São Paulo, ter a oportunidade como técnico?Você pode ouvir a entrevista na íntegra aqui:

Com rápida passagem na base do Bragantino e revelado pelo Tricolor, o eterno camisa 5 conquistou dois Campeonatos Paulistas (1985 e 1992), duas Libertadores da América (1992 e 1993), além do Mundial de Clubes (1992).

O sucesso o levou para o Cruz Azul (MEX), e de lá sua carreira se desenvolveu em outros clubes, até a aposentadoria e o início como técnico. Após 23 anos, em abril de 2016, o ídolo retornou ao clube, para fazer parte da comissão técnica fixa, mas bem diferente daquele São Paulo da década de 90, ele encontrou um clube com jejum de quatro anos sem título, crises internas vastamente expostas, e um time que não encantava.

“O tempo passou, as coisas mudaram…”

Nessa nossa função no Tricolor, Pintado trabalhou com Edgardo Bauza, que não havia sido consultado sobre sua contratação. Com a saída do argentino para comandar a seleção de seu país, vieram André Jardine, Ricardo Gomes e Rogério Ceni, em sua primeira passagem, todos tendo Pintado como auxiliar.

Ao assumir o time interinamente após a demissão de Rogério Ceni, Pintado teve problemas com meia peruano Christian Cueva, que não teria aceitado ficar na reserva em um clássico com o Santos.

Mesmo distante do clube desde sua saída em julho de 2017, o ídolo analisa que os problemas que o São Paulo vem sofrendo dentro e fora de campo, é uma cultura que se instalou no Morumbi há alguns anos. Para ele é nítido que qualquer são-paulino tenha a percepção dos anos perdidos pelo Tricolor, em que novas histórias poderiam ter sido escritas.

Uma referência na história do clube, volante aguerrido e cheio de amor pelo São Paulo. Confira abaixo na íntegra, a entrevista exclusiva que Pintado concedeu ao Arquibancada Tricolor, muitas histórias como as cobranças de Telê Santana, o grito em Raí antes do gol do título da Libertadores em 1992, as brigas nos vestiários, e muito mais sobre o atual momento do Tricolor.

Confira a entrevista exclusiva de Pintado ao Arquibancada Tricolor

AT: Pintado você surgiu na base do São Paulo ou veio do Bragantino?

Pintado: Eu sou de Bragança, comecei aqui no Bragantino, fiz aqui pouco tempo na categoria de base, também não tinha muita estrutura, mas comecei no Bragantino, que eu sou da cidade.

AT: Pintado, o Arquibancada Tricolor entrevistou o Palhinha recentemente, e foi perguntado se realmente o Telê Santana treinava à exaustão. Ele até disse que chegou ir embora com algodão no nariz de tanto cabecear. E repetimos a pergunta a você. Muito se fala que ele pegava você para aprimorar o passe e fazia com que ficasse chutando bola na parede. Mito ou verdade?

Pintado: (risos), Além de outras coisas, sempre tinha a cobrança do Telê, tinha o Telê no pé da gente, como dizíamos, ele ficava muito no pé cobrando a gente, treinamento à exaustão, a exigência para que pudéssemos melhorar o que tinha de deficiência, e melhorar o que tinha de bom. Era uma exigência muito grande, não tinha horário, esse papo de que está cansado. Ah! Não vou fazer porque estou cansado. Não tinha isso com ele não. Tinha que fazer, tinha que ficar com ele, não podia ser com um auxiliar, ele ficava junto com a gente, isso era muito bacana.

AT: O lance do gol de falta do Raí na final do Mundial de Clubes de 1992, o gol do título, tem uma foto emblemática sua gritando. E em algumas entrevistas você disse que gritava que era pra ele fazer o gol que seria o do título. Você tinha muita convicção naquele momento?

Pintado: Na verdade a confiança era no time, era no Raí, a confiança era no momento que a gente estava passando, um jogo muito importante. Então o que eu podia acrescentar, o que podia oferecer para os meus companheiros dentro de campo de jogo, assim como eles ofereciam pra mim, essa troca que a gente tinha de confiança em momentos importantes, principalmente nos momentos de dificuldade. Quando um companheiro estava com dificuldade, quando iria para um momento importante, pênalti, falta, momentos importantes do jogo, estávamos sempre juntos. E aquilo pra mim foi uma luz, que eu falei: faz o gol, que é o gol do título. Eu tinha certeza que se saísse aquele gol, a gente iria conseguir o título.

AT: Falamos muito de união no futebol, e além de ter sido jogador você também é treinador, e aquele time comandado pelo Telê Santana era muito unido. Mas ocorria brigas no elenco?

Pintado: Muito!!! No vestiário normalmente, eu com o Palhinha, com o próprio Raí, e ele pedia para que a gente ficasse no pé dele, ele era um cara meio frio até, porque a característica do craque. Com o Muller, muitas vezes a gente discutiu, com o Cafu, mas a gente sabia que era sempre para o bem do time, para nós, era uma discussão saudável, de amigos, de quem se quer bem e isso é importante.

AT: Aquele São Paulo do Telê Santana era realmente imbatível?

Pintado: Foi o time que construiu decidindo, o time se fortaleceu nas decisões, ganhando títulos, e isso tem um valor muito grande para uma equipe construir o futuro vencedor, você precisa vencer título, as finais, e aquele time foi construído assim.

Libertadores 1992 09 | Arquibancada Tricolor
O time do São Paulo na final da Libertadores de 1992 contra Newell’s Old Boys

AT: Esse ano de 2022 completou-se 30 anos da conquista da primeira Libertadores do São Paulo. E até os dias de hoje vemos muita identificação da torcida com aqueles jogadores. Em sua opinião, o porquê de tanta identificação, mesmo depois de tanto tempo?

Pintado: Primeiro porque aquilo foi vencido por amor ao São Paulo, nós ganhamos pelo São Paulo, para o São Paulo, antes de pensar individualmente, antes de pensar nas pessoas, a gente pensou na instituição, no clube, a gente queria ganhar pelo São Paulo, queria ganhar para o São Paulo, e sabíamos que esse título engradeceria ainda mais o São Paulo, isso ficou muito marcado. Nunca foi por dinheiro, nunca foi por um prêmio, a gente nem discutia premiação naquele momento, então foi realmente por amor a uma instituição, por amor ao clube, e isso o torcedor lê muito rápido, muito fácil, era muito claro, que aquele time jogava por amor à camisa.

AT: Pintado, você era um volante, camisa 5, o responsável pela sustentação de marcação no meio de campo. Mesmo assim, chegou a marcar algum gol pelo São Paulo?

Pintado: Ah eu fiz três gols, na minha passagem.

AT: Você sempre foi um jogador aguerrido e a torcida gostava demais de você.

Pintado: Eu tinha consciência da minha responsabilidade, e a minha não era fazer gol, era defender, e pra quem tivesse um time ofensivo, a gente tinha que defender ali atrás, nosso setor defensivo era muito consciente e sem vaidades, não queria aparecer. A gente sabia quem iria aparecer, ter contrato melhor, tudo a mais seriam os atacantes, quem fazia os gols que era importante. Então essa nossa característica do setor defensivo do São Paulo, sem vaidade, defendendo para que pudesse ser uma equipe ofensiva, isso marcou muito.

Pintado no São Paulo em 2016 - ge.com
Pintado no São Paulo em 2016 – ge.com

AT: Depois de tantos anos fora do São Paulo você retornou ao clube e teve uma passagem na comissão técnica em 2016. Na época o Bauza disse que não havia sido consultado, depois teve a polêmica com Cueva, e a sua demissão que você já revelou não ter tido mágoas, não foi tão amistosa. Teve muito ruído nessa sua passagem?

Pintado: Primeiro que eu estava preparado para enfrentar algumas adversidades, e o mais importante é que eu nunca voltei porque alguma pessoa era minha amiga, porque eu gostava de algumas pessoas, eu voltei porque eu tenho uma história, eu queria construir algo pelo São Paulo, então essa foi a minha ideia. Eu sou um cara que não consigo ver as coisas erradas e não falar, minha maneira de ajudar é pontuar onde está errado, tentar fazer algo quando eu vejo que está errado, ou, até para que me corrijam se eu estiver vendo algo que eu imagino que está errado, e as pessoas veem que está certo, eu tenho a humildade de reconhecer. A maior característica que passou por aquele grupo (1992), foi a falta de vaidade, eu imaginei que encontraria um São Paulo que eu deixei, e isso não existe mais. O tempo passou, as coisas mudaram, isso é normal a gente entende, mas eu sempre lutei pelo São Paulo, para o São Paulo, e não conseguiria fazer diferente.

AT: Em uma outra entrevista sua, você disse que o único São Paulo que você conhecia era o São Paulo campeão. Nos últimos 10 anos o único título foi o Campeonato Paulista de 2021. E o Pintado e companhia da era Telê Santana, representavam demais a torcida, a camisa. Hoje em dia, falta representatividade em campo no São Paulo?

Pintado: É porque não dá tempo de você ter um grande ídolo no São Paulo, hoje o grande ídolo não são os jogadores, é o treinador. Então um jogador que inicia um bom trabalho, que pode construir essa identidade com o torcedor, ele rapidamente é vendido porque faz parte do negócio, do futebol de hoje em dia, então é difícil de construir essa identificação, essa identidade com o torcedor. E isso não é bom, a gente já sabe que isso não é bom, mas também a necessidade do clube financeira, faz com que isso tenha que acontecer.

AT: Com a experiência que você tem de campo e extracampo, você enxerga um cenário melhor para o São Paulo nos próximos anos? Esse, na teoria, é mais um ano que vai brigar para não cair?

Pintado: Mas isso não é de hoje que a gente identifica, já tinha falado que isso é uma realidade, o São Paulo está atrás hoje de pelo menos de seis ou sete clubes no Brasil. E quando você fala seis ou sete são clubes do tamanho do São Paulo, que estão à frente, porque o São Paulo teve um tempo de praticamente de inatividade, muito mais preocupado em fazer negócios, ou, a necessidade de fazer negócios fez com que o São Paulo parasse no tempo e não construísse nada. Até o São Paulo se reconstruir, outras equipes passaram na frente do São Paulo, e hoje vai ser difícil o São Paulo ganhar algum título importante, porque está iniciando talvez um novo momento, que a gente espera isso traga títulos mais do que nada.

AT: Pintado você já dirigiu como treinador diversas equipes, e em 2017 como interino você comandou o São Paulo em três partidas. Na sua carreira como treinador, você pensa um dia voltar para o São Paulo, ter a oportunidade como técnico?

Pintado: Primeiro eu sou profissional, acho que todo treinador de futebol no Brasil sonham um dia em treinar uma equipe, um clube como o São Paulo, mas hoje o São Paulo está muito bem representado, o Rogério Ceni deveria ter um contrato mais longo, pra poder solucionar algumas dificuldades, alguns problemas do São Paulo. Então nesse momento eu não tenho nenhuma ideia, principalmente porque tem um grande treinador no comando e não tenho essa expectativa de voltar para o São Paulo no momento.

Você pode ouvir a entrevista na íntegra aqui:

Ouça aqui o áudio da entrevista exclusiva de Pintado para Wagner Vieira ao Arquibancada Tricolor

Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.

Compartilhe esta notícia