Gritos de guerra, bandeirões, grandes mosaicos, uniformes, recepções calorosas: todas essas características e ações ajudam a definir as torcidas organizadas, que cumprem um papel extremamente importante no apoio incondicional aos seus respectivos times do coração. No Brasil, as primeiras torcidas organizadas iniciaram suas atividades na década de 1930, sendo que o São Paulo Futebol Clube foi pioneiro no segmento. A Torcida Uniformizada do São Paulo, também conhecida como TUSP, além de ser reconhecida como a primeira organizada do país, também ajuda a contar a história do tricolor paulista.
O ano em questão é 1939. O São Paulo, que estava prestes a completar sua primeira década de história, já contava com uma grande base de torcedores, que acompanhavam os jogos do time de forma assídua. Naquele ano, o estudante Manoel Raymundo Paes de Almeida, de então 18 anos, decidiu criar, junto de outros torcedores universitários, o Grêmio São-Paulino. O grupo se reunia do bairro da Mooca para acompanhar o andamento dos jogos e novidades sobre o time, ainda sem muitas pretensões de identidade coletiva, como estamos habituados atualmente.
No entanto, com o tempo, as atividades do grupo se expandiram e tomaram novas proporções. Com isso, o grêmio passou a se chamar Torcida Uniformizada do São Paulo (TUSP), uma vez que os seus participantes usavam uma emblemática camisa branca com o escudo do time do São Paulo em seu centro, acompanhada do nome Grêmio São Paulino ao seu redor. Tratava-se de um feito inédito. Os torcedores que faziam parte do grupo marcaram presença nos jogos, já que eles se organizavam previamente e compravam uma área determinada da arquibancada dos estádios que recebiam os confrontos do tricolor.
Apesar do pouco tempo em atividade, a TUSP já mostrava sua força e entusiasmo, fazendo festas nas arquibancadas e cantando hinos e frases de apoio ao time. Em declaração para o livro “São Paulo FC – Saga de um Campeão”, do escritor Ignácio de Loyola Brandão, Manuel Raymundo conta uma experiência vivida com a organizada:“O Grêmio São-Paulino surgiu na Moóca, em 1939. Fazíamos tudo com entusiasmo e por nossa conta. Lembro-me do primeiro espetáculo que demos no Pacaembu. Uma festa maravilhosa, com serpentinas e confetes. Fizemos depois uma magnífica “marche aux flambeaux” (marcha à luz de tochas), em 1943, quando a moeda caiu em pé e o São Paulo foi campeão. Montamos um carro alegórico, com uma moeda gigante de pé, e fomos, em cortejo de automóveis, buscar a Taça dos Invictos de A Gazeta Esportiva”.
O desempenho de Manoel Raymundo na torcida organizada e a sua paixão pelo São Paulo o levaram a assumir cargos de grande relevância dentro do clube. Em 1941, com apenas 20 anos, ele foi eleito Membro do Conselho Deliberativo. Além disso, também atuou como diretor de Futebol do time e até chegou a comandar a equipe em algumas partidas de forma interina, entre 1958 e 1961. Raymundo também foi uma das figuras centrais na construção do estádio do Morumbi.
Com o passar dos anos, outros times do estado e do país passaram a fundar suas próprias torcidas organizadas, criando um movimento que se mantém até os dias de hoje. A TUSP, que no início da década de 70 era comandada por Hélio Silva, começou a passar por um momento de turbulência devido a desentendimentos entre a sua liderança. Durante a disputa da Libertadores da América de 1972, novas discordâncias envolvendo a direção da organizada levaram à saída de membros importantes, como Newton Ribeiro, Ricardo Rapp e Rinaldo Cardoso, que juntos fundaram a Torcida Independente no mesmo ano. Apesar de desgastes, as atividades da Torcida Uniformizada do São Paulo se encerraram apenas em 1995.
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