Ronaldo Luís: “O anjo da guarda Tricolor, é mais famoso do que meu próprio nome.” – Entrevista AT

Segundo pesquisas recentes, temos espalhados pelo Brasil mais de 17 milhões de torcedores são-paulinos, sendo a terceira maior torcida do país. Desses milhões, aqueles que tem 30 anos de idade ou menos, provavelmente só conhecem o período mais vitorioso da história do São Paulo por intermédio dos pais, irmãos, amigos mais velhos, ou se pesquisar na internet.

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Acompanhe a íntegra da entrevista exclusiva do Ronaldo Luís ao Arquibancada TricolorAT: Ronaldo o que está fazendo da vida atualmente aos 55 anos?AT: Você foi um dos jogadores na década de 90 que elevaram a denominação de atletas de Cristo. Como você vê a relação dos jogadores hoje com a religião?AT: Você citou um exemplo positivo com o Euller. Mas na sua época existia algum tipo de preconceito com atletas de cristo?AT: Ronaldo Luís, 109 jogos com a camisa do São Paulo e olha o desempenho, duas Libertadores, dois mundiais, Supercopa, Copa Conmebol, Paulista. Talvez o torcedor mais jovem do São Paulo não conheça a sua história, mas você literalmente está marcado no clube né?AT: E o apelido de “anjo da guarda”, por salvar gols em cima da linha. Tem ideia de quantos gols salvou nos tempos de São Paulo? Seria o da final do mundial de 1992 o mais importante?AT: Telê Santana é até hoje ovacionado pela torcida do São Paulo. E todo jogador que atuou com ele tem ele como um pai, apesar do estilo de cobranças fortes. Pra você quem foi Telê Santana?AT: Na década de 90, qual atacante era mais difícil de enfrentar?AT: Um jogador que é da sua posição, que é o Reinaldo. Escutamos torcedores de outros times dizendo que gostaria do Reinaldo nas suas equipes, mas no São Paulo a torcida pega muito no pé dele, muito criticado, sempre quando o time está em crise, ele é um dos jogadores que os torcedores mais cobram. É difícil tirar esse estigma quando a torcida pega muito no pé?AT: Você acompanhou o início do Rogério Ceni no São Paulo, depois ele ganhou tudo. Hoje ele já tem uma carreira como treinador, iniciou no próprio clube, teve sucesso no Fortaleza, foi campeão no Flamengo, e agora a expectativa de fazer um bom trabalho como treinador do São Paulo. Acredita que esse ano a temporada do São Paulo pode ser melhor e o Rogério pode alcançar esse objetivo?AT: Nos últimos anos vemos no São Paulo, jogadores que de certa forma não teriam futebol para estarem no clube, e quando um jogador com potencial como o Ademir é oferecido não é dada a importância. Difícil né?AT: Gostaria que mandasse um abraço para os leitores do Arquibancada Tricolor que sempre lembram de você.

Portanto, se ouvirem falar em o “Anjo da Guarda Tricolor”, não irão ligar o apelido ao ex-lateral esquerdo Ronaldo Luís, nem entender o motivo, mas o primeiro título mundial conquistado pelo São Paulo, que em 2022 completará 30 anos, tem muito desse anjo da guarda. Quando a partida contra o Barcelona estava empatada em 1 x 1, foi ele quem salvou o que seria o segundo gol dos Catalães. Segundo o próprio Ronaldo Luís, em sua passagem pelo Tricolor, foram salvas 15 bolas em cima linha.

Hoje aos 55 anos, Ronaldo Luís é comentarista do Alterosa Esporte da TV Alterosa, afiliada do SBT em Minas Gerais, onde representa o América MG, clube pelo qual foi revelado. Outra atividade do ex-lateral esquerdo é ministerial, pastor da Igreja Batista Getsêmani, na região da Pampulha em Belo Horizonte.

Aliás, nos tempos de jogador, Ronaldo Luís fez parte de um grupo de jogadores evangélicos intitulados atletas de Cristo, denominação essa que começou na década de 70, mas que ganhou força nos anos 90 com ele, Muller, Clebão ex-Palmeiras, Marcelinho Carioca ex-Corinthians e tantos outros. Nos dias atuais não é usada mais essa nomenclatura aos jogadores evangélicos, porém muitos deles em suas entrevistas sempre procuram exaltar o nome de Deus.

Para Ronaldo Luís, o comportamento do atleta no uso as redes sociais acaba sendo um termômetro em relação às cobranças dos torcedores quando as coisas não vão bem dentro de campo, algo que não existia há 30 anos. Especialista na posição, para o ex-lateral esquerdo, a situação de Reinaldo, atual titular do São Paulo vai de encontro com esse novo momento da relação torcida e jogador. Para ele o camisa 6 Tricolor abusa ao expor suas farras nas redes sociais, e quando a crise bate as cobranças em cima dele acabam sendo maiores, além do fato de Reinaldo ter que ocupar uma posição que sempre foi de grandes nomes na história do Tricolor.

Obviamente, é impossível fazer uma comparação dos últimos quatro anos do São Paulo, onde apenas o Campeonato Paulista de 2021 foi conquistado, com os anos de 1992 a 1995, em que Ronaldo Luís e companhia, comandados por Telê Santana, conquistaram nada menos do que 17 títulos. Se fizermos uma breve análise, a cobrança vinda das arquibancadas é sustentada em grandes glórias que realmente estão no passado, como o período de 2005 até 2008, quando o Tricolor dominou o cenário brasileiro com seis títulos importantes.

Acompanhe a íntegra da entrevista exclusiva do Ronaldo Luís ao Arquibancada Tricolor

AT: Ronaldo o que está fazendo da vida atualmente aos 55 anos?

Ronaldo Luís: Sempre é bom falar com o torcedor são-paulino, essa sintonia até hoje, apesar de tantos anos que saí do São Paulo, a história fica e continuará. Das minhas atividades aqui em Belo Horizonte a principal delas é ministerial, sou pastor auxiliar na Igreja Batista chamada Getsêmani, sou responsável por uma das congregações da igreja, que é na região da Pampulha, perto do Mineirão. Então minha principal atividade hoje é essa. Como segunda atividade, eu participo de um programa esportivo na filial do SBT, que é o Alterosa Esporte, da TV Alterosa, onde, na bancada democrática, temos três defensores dos clubes América MG, Cruzeiro e Atlético MG, e substituo duas vezes por semana o titular que defende o América MG. E algumas atividades paralelas, palestras onde falo um pouco da minha história, palestras motivacionais e realizações de sonhos.

AT: Você foi um dos jogadores na década de 90 que elevaram a denominação de atletas de Cristo. Como você vê a relação dos jogadores hoje com a religião?

Ronaldo Luís: Esse grupo começou nos anos 70 com João Leite, Baltazar, e aí veio alcançando outros atletas, o Silas, o Jorginho, o Batista aqui no Atlético, o Paulão, o Clebão que jogou no Palmeiras. E eu comecei em 1990 aqui no América, e realmente consolidou a minha conversão em São Paulo em 93, na Assembleia de Deus no bairro do Bom Retiro, de uma certa forma para me aproximar mais do Muller, quando eu falei que era atleta de cristo ele acabou me levando para a igreja. Eu vejo com bons olhos, eu falo que todo lugar da sociedade tem as pessoas que levam a sério o que estão fazendo, e outras que não levam a sério, uns levam para o lado espiritual, outros levam talvez pelo lado de, vou falar que sou atleta cristão para ser contratado, porque graças a Deus o testemunho de muitos atletas, manifestou o interesse de alguns clubes de contratar jogadores que são chamados atletas de Cristo, pelo comportamento. Para você ter uma ideia quando o São Paulo foi contratar o Euller, o saudoso Marcio Aranha, veio me perguntar sobre, aí eu falei: Você quer saber o Euller como jogador ou como pessoa? Pelo fato de conhecer ele há muito tempo, e por ter começado no América MG também, e eu disse: O Euller como ser humano é uma pessoa assim e assado, e é um atleta de cristo como eu. Aí ele disse: Não precisa falar mais nada não, se é atleta de cristo como você pode trazer. Então eu vejo assim, alguns dão um bom testemunho, levam a vida como está na palavra de Deus e outros acabam deturpando, tem alguns que deixam a desejar. Mas temos muitos que levam a sério no caso do Ederson, o Santos goleiro do Athletico PR, o Cássio agora também, aqui no Atlético MG o Hyoran tem um testemunho fantástico, o Mariano, inclusive eles frequentam a igreja onde sou pastor, o Juninho do América MG, o Ademir que foi para o Atlético MG, Keno, entre tantos outros. O clube que contata um atleta cristão de fato, é um clube que não vai ter problema com esse atleta não, exatamente devido ao temor a Deus.

AT: Você citou um exemplo positivo com o Euller. Mas na sua época existia algum tipo de preconceito com atletas de cristo?

Ronaldo Luís: Até hoje tem, não é só naquela época não. Na verdade, o cristão é perseguido onde vai, porque vai muito na contramão do mundo, que prega uma coisa e Deus prega outra. Por exemplo, essa questão da homofobia, que o cristão é homofóbico, o cristão não é homofóbico, a gente não vai associar a algo que a palavra de Deus amaldiçoa. Então essas questões de homossexualismo, de leviandade é uma coisa que a palavra de Deus condena, não é o pastor, as pessoas que condena isso. É muito comum associar o atleta a orgias, bebedeira, farra, mulherada, essas coisas todas, ao cristão verdadeiro ele não vai associar essas coisas, e aí para muitos treinadores esses caras não presta, o cristão não vai chegar junto, joga contra o Clebão para você ver se ele não chega junto. Tem treinadores que quando fala que é atleta cristão ele, ao menos que seja um cara de nome, ele não vai querer, esse cara é um atleta cristão, não gosta da farra, não gosta de beber, então está fora dos meus padrões. Mas eu vejo sim que há uma discriminação grande, não sei se é a palavra correta, mas existe uma certa resistência, por parte de imprensa, por parte de dirigentes de clubes, treinadores, até treinador cristão não é muito fácil encontrar espaço, parece que o treinador tem que ser louco, e para algumas pessoas isso tem valor, para outras claro que não, mas eu vejo que até hoje existe preconceito sim.

Ronaldo Luiz - Foto: Reprodução Internet
Ronaldo Luiz – Foto: Reprodução Internet

AT: Ronaldo Luís, 109 jogos com a camisa do São Paulo e olha o desempenho, duas Libertadores, dois mundiais, Supercopa, Copa Conmebol, Paulista. Talvez o torcedor mais jovem do São Paulo não conheça a sua história, mas você literalmente está marcado no clube né?

Ronaldo Luís: Eu nunca contei quantos jogos eu tenho no São Paulo, sinceramente não, mas vejo vários veículos de comunicação falar que foi tanto, uns colocam que eu parei de jogar futebol com 28 anos, e na verdade eu parei de jogar futebol com 35 anos, parei no América MG em 2012. Eu gosto de contar os títulos pelo São Paulo a partir de cada ano, o primeiro ano meu no São Paulo, nós ganhamos cinco títulos, Campeonato Paulista, Libertadores, Mundial e os dois torneios na Espanha Teresa Herrera e o Ramón de Carranza. Em 93 foram seis títulos, sendo a Libertadores novamente, antes da Libertadores, nós tivemos a conquista do Troféu Santiago de Compostela, em um quadrangular, ganhamos também Santiago do Chile, também foi um quadrangular, a Supercopa, a Recopa e o Mundial, foram seis em um ano e cinco no outro, só ai foram 11. Em 94 nós ganhamos a Conmebol, com o expressinho do São Paulo, e a Recopa Sul-Americana, só aí foram 13, ganhamos alguns torneios, Cidade Guadalajara do México, Troféu Cidade de Barcelona, Troféu Cidade de Los Angeles, e ganhamos também um torneio que teve entre os times campeões mundiais brasileiros, Flamengo, Santos, São Paulo, Grêmio na época, e nós ganhamos esse torneio também, então foi mais um em 95. Então posso dizer que foram 17 títulos em quatro anos de São Paulo. 

AT: E o apelido de “anjo da guarda”, por salvar gols em cima da linha. Tem ideia de quantos gols salvou nos tempos de São Paulo? Seria o da final do mundial de 1992 o mais importante?

Ronaldo Luís: Só no São Paulo foram 15 vezes, e no mundial foi mais importante, porque muitos tem aquela bola que eu tirei como um gol, talvez se a gente tivesse tomando o segundo gol, praticamente 45 minutos do primeiro tempo, vai para o vestiário com 2 x 1, não sei se teríamos força de voltar e talvez reverter o placar, mas foi em um momento importantíssimo, onde aquela bola nos deu muita força para voltar para o segundo tempo, então vou dizer que sem dúvida nenhuma foi o mais importante, é o que todo mundo fala né, até porque poucas pessoas lembram, uma semana depois contra o Palmeiras, no segundo jogo da final em 92, já no finalzinho do jogo, então foram 15 vezes. Na Conmebol mesmo, nós fomos jogar contra o Sporting Cristal do Peru, havíamos ganhado no Morumbi por 3 x 1, e fomos jogar lá contra eles, e nós empatamos em 0 x 0, eu defendi uma bola no primeiro tempo, e uma no segundo tempo, então só em uma partida foram duas vezes. Eu participei de um programa com o Palhinha, Amoroso e o Silas, e eu lembrei o Amoroso que em 1994, a gente até perdeu esse jogo para o Guarani no Brinco de Ouro por 1 x 0, gol do próprio Amoroso, e aí naquele jogo eu duas vezes tirei a bola que o Amoroso chutou. E eu perguntei se ele lembrava, e ele disse que lembrava, porque ele tinha batido o Zetti e eu estava no gol, as duas bolas que ele bateu eu tirei. Ele falou: Não tem jeito não, passa do Zetti tem você, então foram 15 vezes. E hoje todo mundo fala, lembra do Ronaldo, lateral esquerdo do São Paulo? O anjo da guarda! Ah! Sei quem é! Então quer dizer, o anjo da guarda tricolor é mais famoso do que meu próprio nome. Mas é legal associar um feito desse ao meu nome e ficou marcado, e já é uma marca registrada, está no meu Instagram @ronaldoluis_6 e estou aí patenteando essa marca para futuramente escrever um livro.

AT: Telê Santana é até hoje ovacionado pela torcida do São Paulo. E todo jogador que atuou com ele tem ele como um pai, apesar do estilo de cobranças fortes. Pra você quem foi Telê Santana?

Ronaldo Luís: Eu não vou fugir do pensamento dos outros não, até porque se eu fui para o São Paulo eu agradeço a Deus por ele, que foi ele que pediu a minha contratação. Quando realmente foi oficializada a minha contratação pelo São Paulo, comecei a receber telefonemas do pessoal da imprensa de São Paulo, olha nós não conhecemos você aqui em São Paulo, mas o que temos escutado sobre você é muito forte, está chegando aqui com uma responsabilidade muito grande, você tem sido colocado pelos dirigentes do São Paulo com a principal contratação. Mas o Telê foi uma pessoa importante na minha carreira, então porque não o chamar de pai também, até porque como o meu pai, eu fui um filho muito obediente, nunca comprometi minha idoneidade no São Paulo, sempre procurei fazer aquilo que me foi direcionado. Até o dia que eu cheguei um pouco atrasado no CT, eu era solteiro na época, e o Telê falou que o jogador solteiro que morasse no CT, até meia-noite ele entrava, mas depois não entraria, e eu acabei indo em um aniversário do pessoal da igreja na Rua Turiassu, perto do Parque Antártica, e eu tinha acabado de comprar um carro, um Tempra, e estava mostrando para o pastor que queria comprar um Tempra, acabei me envolvendo com a conversa, quando eu fui olhar no relógio era 0h15, eu sai desesperado, atrasado 15 minutos, estou lascado. Mas como eles me conheciam, sabiam que eu não iria pra farra, não bebia, essas coisas todas, aí os vigilantes e porteiros do CT me deixaram entrar, e no dia seguinte eu fui conversar com o Telê para falar com ele que eu cheguei atrasado, eu assumi a minha culpa, ele me xingou pra caramba (risos), mas a minha atitude com ele só trouxe mais credibilidade, em relação aquilo que o Telê pensava de mim. Mas nós fomos jogar contra o Santos no dia seguinte na Vila, perdemos de 1 x 0, ele chegou no vestiário e disse: Está vendo fica chegando atrasado (risos). Ele sempre me respeitou muito, a cobrança dele era muito natural, os resultados eles demonstraram que o Telê tinha razão em chamar nossa atenção, a cobrança dele era sempre para melhor, então eu via isso com bons olhos, e o pai que ama de fato, como diz a bíblia, o pai corrige o filho que ele ama, e o Telê fazia isso. 

AT: Na década de 90, qual atacante era mais difícil de enfrentar?

Ronaldo Luís: Naquela época tinha atacante, hoje não tem ninguém né cara. Os caras falam que o Gabigol é o cara, não engraxava nem a chuteira dos nossos na época, com todo o respeito que eu tenho aos atletas atuais. Tinha muitos, o Almir era muito chato, chamado atacante de beirada, era do meu lado, minha estreia no São Paulo foi contra o Santos, eu peguei o Almir numa fase espetacular, tinha o Sérgio Araújo, o próprio Renato Gaúcho, Maurílio que jogava no Palmeiras, reserva do Carlinhos Sabiá, mas pô, esse cara dava um trabalho do caramba, o Marcelinho Carioca começando, Paulo Nunes, Marcelo Ramos começando a carreia 18 para 19 anos, tinha um ponta-direita no Bahia chamado Naldinho, corria, só peguei ponta veloz, Fabinho que jogava no Corinthians, Tupãzinho, tinha muitos, é muita gente. Hoje não tem muito, os próprios treinadores não jogam mais assim, naquela época tinha os atacantes origem, os caras vinham e partiam com tudo, e estou falando de quem atacava do meu lado.

AT: Um jogador que é da sua posição, que é o Reinaldo. Escutamos torcedores de outros times dizendo que gostaria do Reinaldo nas suas equipes, mas no São Paulo a torcida pega muito no pé dele, muito criticado, sempre quando o time está em crise, ele é um dos jogadores que os torcedores mais cobram. É difícil tirar esse estigma quando a torcida pega muito no pé?

Ronaldo Luís: A maneira mais fácil de trazer a torcida para o seu lado é o desempenho dentro de campo. O Rogério Ceni parou de jogar em 2015, e até hoje o São Paulo não teve um goleiro que substituísse o Rogério, ou pelo menos que a torcida fale que esse aí substituiu o “M1TO”. Eu cheguei no São Paulo quem que era o titular absoluto? Nelsinho! Não era aquele lateral agudo, era um lateral mais cadenciado, mais como segundo meia, do que como lateral de fato, mas era um cara que tinha nome, então eu cheguei para substituir o Nelsinho, graças a Deus cheguei e encaixei bem, porque meu treinador de base sempre falou, você sempre vai se dar bem porque você tem personalidade. Depois de mim tivemos o Marcos Adriano, depois veio o André Luís, que era um jogador muito agudo, um jogador que sempre tinha um apoio muito forte, veio o Serginho depois, Fábio Aurélio, aí o Júnior e vários outros, enfim, o São Paulo teve uma safra de laterais muito boa, por isso que talvez a cobrança seja grande. Eu vejo o Reinaldo, como jogador de médio pra cima, não vejo de médio pra baixo, mas como a torcida do São Paulo é extremamente exigente por ter em várias posições, jogadores que se destacaram demais, então, os que vieram para substituir, os caras já vêm com essa responsabilidade, de ter que fazer algo para poder também marcar no São Paulo. O Reinaldo não é mal jogador, mas sempre a torcida o pega para cristo, e o que ele precisa fazer é manter uma regularidade. Saindo um pouco do assunto, mas acho que o atleta se expõe muito na internet, e o Reinaldo eu acho que ele se expõe muito, postando algumas coisas que comprometem o Reinaldo como atleta, por exemplo, no final de ano ele postou em vários lugares com pessoas, farras. O torcedor hoje está muito mais próximo do jogador por causa da rede social, o cara posta uma coisa aqui, o torcedor vai lá e o cara está aqui, o time perdendo e ele rindo à toa, e isso vai causando uma certa aversão do torcedor com o jogador. Se ele se resguardasse mais, expor menos a sua imagem, colocar uma foto com a família dele na praia, isso é normal, mas não expor as farras que fica fazendo, isso aí compromete muito o jogador. Aí vão dizer: Pô ninguém tem nada haver com a vida do atleta. Realmente, só que o atleta precisa entender que hoje o cara representa um clube, uma nação, e os torcedores hoje, do São Paulo, principalmente, que é um torcedor que acostumou demais com vitórias e vitórias, ficou muito tempo sem vencer campeonato. Eu falei que em 4 anos o São Paulo levantou 17 títulos, então é muita coisa, e o São Paulo não pode passar muito tempo sem vencer. Então vem de um jejum muito grande (lembrando que o São Paulo foi Campeão Paulista 2021), e a cobrança automaticamente é muito maior.

AT: Você acompanhou o início do Rogério Ceni no São Paulo, depois ele ganhou tudo. Hoje ele já tem uma carreira como treinador, iniciou no próprio clube, teve sucesso no Fortaleza, foi campeão no Flamengo, e agora a expectativa de fazer um bom trabalho como treinador do São Paulo. Acredita que esse ano a temporada do São Paulo pode ser melhor e o Rogério pode alcançar esse objetivo?

Ronaldo Luís: O Brasil vive uma febre, a moda agora é contratar treinador de fora, até o dia que eles não fizerem nada, aí irão mudar. Veio o Jorge Jesus e fez um bom trabalho no Flamengo, se pegar os jogadores que ele tinha, fazer um bom trabalho é obrigação, tem a qualidade do treinador, não podemos tirar o mérito, o respeito do jogador brasileiro com profissional de fora é maior, do que com os brasileiros, em minha opinião. O Rogério Ceni foi para o Fortaleza com um orçamento bem inferior aos demais clubes, com qualidade técnica inferior aos chamados clubes grandes, e fez história e mudou a mentalidade do Fortaleza. Se hoje o Fortaleza é o que é, vou dizer com toda garantia, tem muito a mão do Rogério Ceni ali, isso eu te garanto. O DNA do Rogério é vencedor, então ele chegou lá e plantou aquilo que de fato ele vivia pelo São Paulo, títulos e mais títulos. Foi muito bom o São Paulo não ter mandado o Rogério Ceni embora, porque agora ele vai poder fazer um trabalho, ele montando o elenco, parece que as peças que ele tem pedido estão chegando, aí depois poderemos avaliar melhor o trabalho dele no São Paulo, porque quem está montando o elenco é ele. Na minha opinião as contratações que o São Paulo fez, obviamente o tempo é quem vai dizer se foi bacana, ou não, mas são jogadores que tem tudo para despontarem no São Paulo, o Nikão, por exemplo, já vem um bom tempo como um dos grandes jogadores do futebol brasileiro, o próprio Alison, que eu sempre gostei muito dele, até jogando pelo Cruzeiro. Ah! o Rafinha está velho. Não será um segundo Daniel Alves? Espero que não, o Rafinha não é besta de chegar lá e fazer a mesma bobagem que o Daniel Alves fez, porque já viu a reação da torcida em relação ao Daniel Alves, ele pode chegar e ser um cara diferenciado no São Paulo, pela experiência que ele tem. O cara jogou mais de 10 anos na Europa, campeão da Liga dos Campeões, acho que ele pode agregar, tomando como exemplo o que o Daniel Alves fez no final, já que no início estava bacana. O Rogério Ceni não é uma promessa mais, já é campeão brasileiro, com toda dificuldade, criticas que ele teve, ele é campeão pelo Flamengo, na minha opinião eu acho que ele pode fazer um grande trabalho no São Paulo, tem muitas boas ideias, e particularmente eu torço muito por ele, porque o Rogério Ceni é um amigo que eu tenho, um cara que a gente está sempre se falando. O São Paulo veio jogar aqui em Belo Horizonte e eu falei com ele sobre o Ademir, que eu ofereci para o São Paulo, e o pessoal não deu muita ênfase. Ele falou comigo: Ronaldo, eu pedi o Ademir no Flamengo, os caras riram de mim lá.

AT: Nos últimos anos vemos no São Paulo, jogadores que de certa forma não teriam futebol para estarem no clube, e quando um jogador com potencial como o Ademir é oferecido não é dada a importância. Difícil né?

Ronaldo Luís: Vou falar pra você os jogadores do América MG que eu ofereci para o São Paulo. No início dos anos 2000, eu liguei para o Marcio Aranha, e falei surgiu um jogador aqui que ele encaixa perfeitamente no São Paulo, o Fred, ele falou vamos dar uma olhadinha, eu falei contrata ele que é dinheiro em caixa, aí o Fred foi para o Cruzeiro, arrebentou lá. Ai o Marcio Aranha me liga, vê quanto o América quer no passe do Fred, falei agora é do Cruzeiro, te garanto que não pedem menos de 10 milhões de dólares. Ofereci o Wagner, canhoto que foi campeão brasileiro pelo Fluminense, o Danilo, lateral direito que jogou no Santos, ele está no Juventus, eles não quiseram, ofereci Moisés que jogou no Palmeiras, falei é um jogador que tem a cara do São Paulo, um jogador cadenciado, habilidoso, não quis, a Portuguesa pegou, vendeu para o exterior, o Palmeiras pegou e o cara foi campeão brasileiro. Sei que foram nove jogadores do América MG para o São Paulo e eles não pegaram nenhum, e todos vingaram nos times que foram jogar. Recentemente um garoto que surgiu no América MG, agora ele já está com 25 anos, um zagueiro chamado Taigor, zagueiro canhoto, 1,87 de altura, muito bom jogador, quando o Rogério assumiu o São Paulo, eu falei tem um zagueiro canhoto, coisa que não se vê ultimamente, me lembra o Bordon jogando. Esse garoto não ficou no América porque o pai dele não teve paciência para poder esperar o dinheiro chegar, o América MG ofereceu um contrato, o pai não quis, ele começou a ir para clubes pequenos, ele está há cinco anos na praça, ele não pegou nenhum time de primeira divisão ainda, mas é um jogador que tem quatro títulos, sendo que ele teve cinco acessos, em cinco anos, praticamente todos os anos ele ganhou título, esse cara cheira a título. E mais um jogador que estou oferecendo que daqui a pouco vai aparecer em outro clube.

AT: Gostaria que mandasse um abraço para os leitores do Arquibancada Tricolor que sempre lembram de você.

Ronaldo Luís: Fala galera, vocês que são leitores do Arquibancada Tricolor, aqui é o anjo da guarda, o Ronaldo Luís, quero mandar um abraço a todos vocês. Primeiro agradecer pelo carinho que vocês sempre me deram quando estive no São Paulo, é bem provável que muitos de vocês não eram nem nascidos ainda, mas a história ela fica, ela conta por si só, graças a Deus eu tive uma passagem muito vitoriosa pelo Tricolor Paulista, e a maior prova disso é que eu estou no hall da fama, no caminho dos ídolos como um dos melhores jogadores da história do São Paulo, sou grato a Deus e a vocês pelo carinho de sempre, pelo respeito, a reciproca é verdadeira, parte do campo para a arquibancada e vice versa. Um abraço para todo mundo, e que Deus possa abençoar a vida de vocês e proteger a família de vocês nessa pandemia, se Deus quiser em breve vamos estar livres, que todos tenham um ano feliz, abençoado, muita saúde e prosperidade, muita paz para todo mundo. Valeu!

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