Souza revela chateação por não ter jogado final contra o Liverpool – Entrevista AT

Foto: Reprodução / TV Band

AT: Quando você veio da Portuguesa Santista o visual estava um pouco diferente. Como surgiu a ideia de pintar o cabelo?

Souza: O cabelo a gente fez uma aposta que se a gente passasse do Santos, faziam trinta e poucos anos que a Portuguesa Santista não ganhava do Santos, e a gente combinou que se vencesse, todo mundo tinha que pintar o cabelo. E aí a galera pintou, começaram a chamar a gente de diabo loiro, e mantemos o visual porque estava dando certo. Cheguei no São Paulo, já tinha tirado um pouquinho, mas ainda tinha o amarelo.  

AT: Como foi o primeiro contato com o São Paulo?

Souza: Eu soube do interesse no jogo que fiz contra o São Paulo, fiz um gol que eu fiz no Rogério Ceni, e ele me elogiou bastante, perguntou até quando eu tinha contrato. E depois passou, a gente nunca sabe se aquilo que a pessoa está falando vai ter continuidade, mas depois recebi algumas notícias que o São Paulo tinha interesse. Na época tinha o Lance que era um jornal muito forte daquela época, e surgiu de fazer uma matéria, não podia colocar a camisa do São Paulo, porque muitos times estavam querendo, mas nem pensei duas vezes, já coloquei a camisa para poder garantir a minha ida ao São Paulo, e depois fiquei sabendo por uma pessoa que eu trabalhava que estava tudo fechado, e aí eu vi que foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida.

AT: E esse amor pelo São Paulo já existia ou foi depois que chegou no clube?

Souza: Já era de antes são-paulino, tive proposta do Corinthians, Palmeiras, Santos, só como eu tinha um amor muito grande. Eu lembro de algumas coisas naquela pré-temporada, e uma das coisas a gente veio fazer um jogo treino no Nacional que fica de frente ao São Paulo, acabamos o treino e quando eu estava saindo, e o Rico já era do São Paulo, e eu disse pra ele no segundo semestre eu vou estar aqui. E coincidiu que no segundo semestre eu tive oportunidade, e não pensei duas vezes, era algo que eu tinha no meu coração se tivesse a oportunidade de vestir a camisa do São Paulo.

AT: Além do futebol em campo, você se notabilizou no São Paulo por defender o clube nas polêmicas, principalmente contra os maiores rivais. Com o Vampeta, por exemplo, sempre tinham os debates em semana de Majestoso. Como você assumiu essa posição no São Paulo?

Souza: Eu tinha muito confiança no time, e outra coisa sou são-paulino e não iria deixar ninguém falar algo que fosse contra a instituição. Então, são-paulino, nordestino ainda, a imprensa gostava desse embate, e aí eu assumi essa postura, o clube me dava respaldo, quem jogava comigo era muito parceiro e me ajudariam em um clássico.

AT: E ninguém tirava onda?

Souza: Não! Às vezes quem não gostava era o Muricy Ramalho, dia de clássico, a imprensa pedia um jogador, e geralmente me pediam, e o Muricy às vezes falava para o Juca Pacheco que era o assessor da época para não deixar eu ir, mas a imprensa pedia e eu sempre falava. O Vampeta sempre falava uma coisa, eu respondia, e assim vice e versa, alguém sempre deixava quicando aí era só bater.

AT: Falta esse tipo de jogador hoje em dia?

Souza: Falta um pouco, as redes sociais afastaram um pouco disso, apesar das redes sociais terem dado muita voz, muita gente se calou porque tem gente que não gosta de assumir a responsabilidade. Eu naquela época assumia, mas falta muito, acho que é uma coisa bacana em um clássico de promover o clássico, não com desrespeito, mas há uma falta muito grande de jogadores assim que valorizem os grandes jogos.

AT: Campeão Paulista, da Libertadores, Mundial de Clubes e bicampeão brasileiro, além de ter jogado também com a camisa 10 do São Paulo. Você revisita tudo isso na memória?

Souza: Agora depois que parei sim, no começo era muito rápido, costumo dizer que o futebol não da tempo pra você parar e analisar as coisas que fez. Eu vejo hoje, porque geralmente quem me para na rua, Souza campeão do mundo, então no momento eu sabia que era um feito muito grande, mas não tinha a dimensão do que era aquilo. Eu vejo muito hoje, então a ficha meio que caiu agora, porque depois que eu parei de jogar, olho pra trás e a gente vê as coisas que teve a oportunidade de conquistar, e fico muito orgulhoso de ter vencido, conquistado títulos marcantes, por um time que sou torcedor desde infância.

AT: Você ficou chateado por não ter jogado a final do Mundial de Clubes? Rolou isso?

Souza: Rolou! Rolou sim porque o Paulo Autuori me chamou antes do jogo, tinha feito o primeiro jogo muito bem, e ele me chamou disse que era pra me preparar. Mas eu era muito jovem, torcedor, eu queria estar dentro de campo, muita gente viu isso de uma maneira errada, ninguém nunca viu de outra maneira: pô o cara é jovem, queria jogar, queria defender as cores do clube. Não foi algo que foi uma coisa bacana minha, porque o mais importante não era eu jogar, mas o time conquistar o título, mas eu era jovem e serviu como experiência para o decorrer da minha carreira.

AT: O Presidente Juvenal Juvêncio gostava de presentear os jogadores. É verdade que você ganhou um cavalo?

Souza: Ganhei um cavalo em um clássico contra o Corinthians, mas foi um presente de grego. Sou nordestino, estava achando que o cavalo seria criado como o meu tio criava, o cavalo iria pra rua, comer capim na rua, nos lugares. Mas esse cavalo tinha que ter um lugar especifico pra guardar ele, então me deu um prejuízo grande, custava caro manter o cavalo, e eu não sabia disso. Lembro que em uma semana que ele ficou em Campos do Jordão em um aras do Turíbio Leite, fiquei devendo R$3.000, e aí tive que me desfazer do cavalo, porque estava dando mais gastos que meus filhos.

AT: Hoje a sua opinião como comentarista. Porque você acha que o São Paulo vem tendo tanta dificuldade dentro e fora de campo nessa última década e meia?

Souza: Não vejo como questão de estrutura do clube, que parou no tempo ou porque começou chamar o clube de soberano. Quando eu cheguei no São Paulo faziam 10, 11 anos que o clube não participava da Libertadores, tudo é uma questão de ciclos, o Palmeiras passou por isso, Corinthians passou por isso, o Santos está passando por isso. Claro, quando você tem um time estruturado, bem dirigido; acredito que assim, o ruim ganhar, você acaba se empolgando muito, esquecendo de algumas coisas, principalmente de colocar os pés no chão, vivenciar as coisas, não fazer besteira. Eu acho que o São Paulo pecou muito nisso, os presidentes que passaram deixaram muito a desejar nisso, em manter a humildade do clube, manter a referência, e não querer aparecer, se aproveitar da grandiosidade do clube para poder se beneficiar. Acabou acontecendo muito isso com os presidentes que passaram antes do Júlio Casares, espero que ele fazer o contrário disso tudo, entender que a instituição é mais importante do que o individual, para que o São Paulo volte a ser referência de novo, em todos os sentidos, volte a ser grande, e volte a ser o São Paulo que todo torcedor já conhece.

AT: Como está sendo pra você essa nova fase de comentarista de TV?

Souza: Tem sido um aprendizado bacana, diferente né, a gente está dentro de campo, tem o feeling mais aguçado, mas é diferente você formar opinião, lidar com as redes sociais, muitas vezes você da uma opinião imparcial, e apesar de todo mundo saber que eu sou são-paulino, tem que ser imparcial, e as vezes o torcedor não entende isso. Do outro lado o torcedor rival, não entende que por muitas vezes você está dando uma opinião, não com o coração, mas com seu feeling de ter vivido dentro de campo. Mas tirando isso está sendo um aprendizado muito bom, estou gostando muito, agradeço a Band pela oportunidade que está me dando, e espero crescer estudar e melhorando a cada dia. Isso é o grande segredo do ser humano, humildade, aprender, e melhorando a cada dia.

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