É sempre difícil avaliar a temporada por um jogo que não vale rigorosamente nada. Mas quando o São Paulo começou o jogo com 30 segundos entregando o primeiro gol de graça, num erro crasso do Sabino, ficou difícil entender como que a gente reagiria a esse jogo. Uma vez que não vale nada, mas ainda assim é o São Paulo em campo e a gente espera que o time jogue bem, não faça besteiras e não cometa erros dessa natureza.
Fato é que o São Paulo, depois de uns primeiros 10 minutos um pouco hesitantes, foi melhor do que o Cruzeiro na primeira etapa e, sobretudo, na segunda etapa. O São Paulo fez uma partida mais organizada do que eu esperava a essa altura do ano. Estamos falando no dia 15 de janeiro de 2025, uma semana de treinamentos, e o time mostrou algum padrão.
Muito porque Zubeldia manteve o sistema 4-2-4, esse maldito sistema 4-2-4, que exige e sobrecarrega dos dois volantes uma participação física e técnica o tempo inteiro. Do primeiro tempo, acho que precisamos destacar a partida que fez o Marcos Antônio, jogador que flerta com a corneta apressada e descabida, tão apressada quanto descabida, da torcida. Marcos Antônio se apresentou o tempo inteiro durante o jogo, foi acionado muitas vezes para iniciar jogadas no corredor central, encontrou muitas vezes Ferreira pelo lado esquerdo, tentou fazer o jogo combinado com o Lucas e Luciano no meio de campo.
É bem verdade que tem uma dificuldade muito grande na hora de finalizar, às vezes parece ter medo de arriscar para o gol. Talvez pela falta de autoconfiança, afinal ainda vai se firmando como uma peça importante no plantel, mas é um jogador muito técnico, muito inteligente. E quando ele decide tocar de maneira vertical, invariavelmente clareia jogadas.
No primeiro tempo, conseguiu quebrar a marcação do Cruzeiro e o São Paulo conseguiu ter alguma vantagem numérica naquele setor, jogando em progressão. E o Luciano… bem, o Luciano foi o Luciano. 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024 e agora em 2025: Luciano fazendo gols. Em uma belíssima metida de bola do Ferreira, esse jogador que é muito inconstante, ele encontrou o Luciano, que deu de raspão suficiente na bola para o Cássio engolir um quase peru ou Turkey, se a gente quiser falar o idioma do país do jogo.
Luciano continua sendo um jogador que aparece quando precisamos, embora tenha sido injustamente criticado pela transmissão que falou que ele fazia uma partida “apagadíssima”. Tanto não fazia que a chance mais clara até o gol de empate havia sido uma cabeçada do Luciano para defesa do Cássio. No mais, André Silva muito discreto, com uma presença de área. De negativo, mesmo, não gostei das partidas de Sabino, Arboleda e Igor Vinícius no primeiro tempo do São Paulo. Lucas e Moreira me agradaram
Já no segundo tempo, para mim, o São Paulo foi muito melhor que o Cruzeiro, deveria e merecia ter vencido. William Gomes poderia ter passado uma bola para o Erick que sairia na cara do gol, o próprio Erick jogou bem e quase fez um golaço de fora da área para a ótima defesa do goleiro reserva do Cruzeiro. E o Ferraresi, jogador tão subestimado por boa parte da torcida e tão subutilizado pelo Zubeldia, mostrou que a lateral direita é sim uma carência, mas o senso de urgência talvez não seja tão grande. Por ser inteligente, sério e por jogar com tanto comprometimento, o venezuelano consegue quebrar um galho considerável ali naquele setor.
O São Paulo, no segundo tempo, teve a volta da espetacular dupla de volantes: os queridaços Pablo Maia e Alisson. E isso já provoca um déjà-vu de felicidade para o torcedor. Ambos foram a coluna cervical do São Paulo campeão da Copa do Brasil e ver os dois juntos – embora estivessem visivelmente fora de ritmo – nos faz relembrar de um tempo bom. O meio de campo, aliás, que também teve a presença do Oscar, foi um esboço do que deve ser o time titular. Falando sobre o camisa 8, o primeiro passe na cabeça do Calleri… quem não sorriu está mentindo porque era exatamente esse tipo de jogador que precisava o meio campo do São Paulo. Um jogador criativo, com toque de bola, com domínio de bola, que encontrasse espaços improváveis, que não errasse passes simples e o camisa 8 mostrou uma mobilidade até maior do que se esperava. Boa notícia.
Mas, como o futebol é essa little box of surprises, a grande notícia da noite, na opinião deste humilde colunista, chama-se Enzo Dias. Se no seu vídeo de highlights e outros compilados feitos para impressionar e eu não tenha me animado em nada, ontem ele mostrou, duelando com o Fagner – o jogador mais violento do futebol brasileiro do século 21 – que é um casca de ferida. É o típico argentino, o estereótipo de um hermano: briguento, chato, competitivo, milongueiro. E fez boa partida.
Do ponto de vista ofensivo, conseguiu barrar o Fagner e criar pelo lado esquerdo. Do ponto de vista defensivo, fez bons desarmes, foi um jogador que mastigou o tempo inteiro os avanços do Cruzeiro por aquele setor. Então, a melhor notícia da noite, surpreendentemente, chama-se Enzo Dias.
Portanto, o saldo é mais positivo do que negativo e – a julgar pelos 30 segundos iniciais, que foram terríveis – acho que os são-paulinos e são-paulins acordam nessa quinta-feira um pouco mais animados do que estávamos antes do jogo.
Lucca Bopp é escritor e host do podcast Boppismo, que recebe grandes personalidades do esporte e do entretenimento. São-paulino fanático, Lucca defende as cores do Tricolor no podcast “Os 4 Grandes” e é responsável por redigir textos publicitários para campanhas de grandes marcas.
Confira minhas colunas anteriores aqui no Arquibancada Tricolor.
*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site
Receba notícias do SPFC no WhatsApp e Telegram.
Siga-nos no Instagram, no YouTube e no Twitter.
Bopp, vejo que nem esses amistosos toscos contra times brasileiros fora do país e muito menos o paulista – apesar dos R$ 5 milhões do campeão desde 2017 – não valem rigorosamente nada.
A avaliação: mais do mesmo tomar gol no início do jogo, vamos ver como time reage com jogo valendo, até porque o argumento de “preparação mais longa” só quem está na D ou sem calendário, teve tempo para se preparar da forma adequada -.
Pior de tudo: estamos nas quartas da Copinha e vai desfalcar nosso time – jogar uma eventual semi com time sub-17 seja contra Criciúma ou Ferroviária é pedir para tomar goleada -.
Oscar: jogar 47min em jogo que não vale nada? Fácil, todos aliviam porque querem vê-lo jogar, mais ou menos como “rachão” que centroavante é goleiro, zagueiro é juiz e por aí vai…
Vê-lo em jogo que vale mesmo, a história vai mudar: verdade, né? Fagner é o mais violento jogador – em atividade – do futebol brasileiro, afinal, um que não era “fichinha” também, Felipe Melo, aposentou mês passado, 41 anos.
Enzo Díaz te confesso que prefiro esperar também, mas preferia Felipe ou Marques Rickelme na lateral-esquerda disputando vaga com Patryck e Mateus Alves em vez de Oscar.