Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves

Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC

Gestão durou 5 anos e o presidente comentou que houve problemas com a arrecadação do último ano devido a pandemia

O jornalista Rodrigo Capelo, especialista em finanças de clubes, publicou em seu blog no GE um levantamento sobre a situação financeira do São Paulo. Segundo ele, os números que resumem o legado do ex-presidente, após cinco anos, são catastróficos.

Leco em entrevista com PVC (também do GE) comentou que a equipe deixou de arrecadar 150 milhões de reais devido a pandemia. Mesmo assim, Leco afirma que trouxe de volta patrocinadores que lhe deram condições para investir e competir em alto nível.

“Fizemos um enorme esforço de recuperação de crédito, de imagem e de patrocinadores. Isso nos permitiu fazer a reestruturação financeira: mudamos o perfil da dívida, tornamos o clube mais equilibrado” – disse o então presidente.

Porém, os números do balanço apontam para um problema financeiro. Entre faturamento e endividamento, o clube está muito distante de um equilíbrio e apresenta a maior dívida que a equipe registrou em 20 anos. E segundo o estudo do jornalista, a pandemia não pode ser usada como desculpa já que os problemas começaram antes.

Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves
Balanços financeiros

As receitas do clube tiveram ajustes a serem realizados. Como a temporada terminou em fevereiro de 2021, os valores foram postergados e por isso não aparecem no balanço de 2020.

O São Paulo não escreveu nada. O blog estima que o impacto é próximo a R$ 28 milhões, verba direcionada ao quarto lugar do campeonato, com base em apuração noutras fontes. O rendimento do time na Copa do Brasil também contribui já que a equipe foi até as semifinais na temporada 2020 (resultado bem melhor que a de 2019 onde parou na terceira rodada).

Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves
Balanços financeiros

O São Paulo viu a quantidade de patrocínios aumentar nos últimos anos, porém, não viu o valor financeiro ficar maior. Entre 2019 e 2020, a gestão do ex-presidente perdeu 5 milhões de reais em patrocínios e publicidades do futebol.

Patrocínios (apenas futebol)
  • R$ 35 milhões em 2016
  • R$ 57 milhões em 2017
  • R$ 23 milhões em 2018
  • R$ 21 milhões em 2019
  • R$ 16 milhões em 2020

O clube perdeu 46 milhões de reais entre 2019 e 2020. A pandemia explica um pouco desse valor já que a gestão financeira do clube perdeu bilheterias, sócios-torcedores e quadro social, principalmente.

Para levantar as finanças, o São Paulo precisou recorrer a base de Cotia. Os jogadores lançados no clube rapidamente foram vendidos por valores bons mas que poderiam ser maiores com o passar do tempo.

Vendas de Cotia ajudam o clube

  • R$ 75 milhões por Antony para o Ajax
  • R$ 32 milhões por David Neres para o Ajax
  • R$ 24 milhões por Gustavo Maia para o Barcelona
  • R$ 2 milhões por Vitor para o Gil Vicente
  • R$ 2 milhões por empréstimos e mecanismos de solidariedade

Porém, os valores que o clube fez com vendas não chegaram nem perto do valor estimado. Segundo uma fonte revelou ao jornalista Rodrigo Capelo, o clube tinha a pretensão de arrecadar R$ 541 milhões em 2020. Na verdade, conseguiu apenas R$ 348 milhões.

Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves
Balanços financeiros

A diretoria de Leco buscou vencer uma taça no fim do mandato. Foram cinco anos de gestão e nenhuma taça e com o desespero da aproximação do fim da gestão, a equipe do presidente buscou reforçar o elenco em 2019 com as chegadas de Hernanes, Pato e Dani Alves. Com isso, o clube inchou sua folha salarial mas ainda assim fracassou nas competições que disputou.

Em 2020, o plano era reduzir. Mas assim, como o plano de vencer uma taça fracassou, o plano de reduzir a folha também fracassou. O clube fechou o ano com 200 milhões de folha de pagamento e ainda com algumas dívidas ao elenco.

Em 2020, houve:

  • R$ 25 milhões em receitas
  • R$ 33 milhões em despesas

Na prática, significa que o futebol profissional (financiado por torcedores) é usado pela política são-paulina para sustentar as atividades sociais e esportes amadores (praticados por associados e conselheiros).

Com dívidas bancárias (entre juros sobre dívidas, taxas bancárias e variações cambiais). No fim das contas, o resultado líquido aponta para um déficit (prejuízo) de R$ 130 milhões. Antes de a temporada começar a diretoria são-paulina projetava um superávit (lucro) de R$ 69 milhões.

Entre os custos existem alguns itens sem “efeito caixa” – ou seja, eles são registrados no balanço por motivo contábil, mas não têm desembolso.

O que isso significa na prática? Pense nas suas finanças pessoais. Se os seus gastos são maiores do que toda sua renda, falta dinheiro. Além de não conseguir pagar as dívidas que venciam, você ainda fez novas dívidas por causa do buraco nas contas. Este é o São Paulo de Leco.

Entenda como é a dívida do Tricolor

Tentando a taça, a gestão de Leco acabou piorando a situação. O presidente alegou em entrevista que “mudou o perfil da dívida” e que “tornou o clube mais equilibrado”, porém, quando analisado o tipo e a data de pagamento da dívida o entendimento é que a gestão piorou as contas do clube.

O clube fechou 2020 devendo R$ 393 milhões a pagar em período inferior a um ano. Ou seja, as chamadas dívidas de curto prazo que Julio Casares comentou ao longo das primeiras entrevistas estavam na casa dos quase 400 milhões de reais e com isso o clube não conseguia “respirar” financeiramente.

Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves
Balanços financeiros

O São Paulo poderia recorrer a empréstimos bancários, porém, a gestão Leco firmou contrato com alguns bancos e por isso o time ficou “sem crédito na praça”. Essas eram as dívidas bancárias do São Paulo em 31 de dezembro de 2020:

  • R$ 11 milhões ao Banco Tricury (a pagar em 2021)
  • R$ 11 milhões ao Banco Rendimento (a pagar em 2021)
  • R$ 1 milhão ao Banco Daycoval (a pagar em 2021)
  • R$ 6 milhões ao Banco Daycoval (a pagar em 2023)
  • R$ 600 mil ao Banco Inter (a pagar em 2021)
  • R$ 20 milhões ao Banco BMG (a pagar em 2021)
  • R$ 21 milhões ao Banco Bradesco (a pagar em 2021)
  • R$ 6 milhões ao Star Football Finance Fund (a pagar em 2021)
  • R$ 43 milhões ao BHP Asset Management (a pagar em 2021)

Outra fonte que poderia ajudar o clube era empréstimos com empresários. O clube se comprometeu a efetuar os pagamentos em 2020 e por isso, já foi acionado na Justiça duas vezes por André Cury.

  • R$ 16,5 milhões a André Cury (a pagar em 2021)
  • R$ 5 milhões a Carlos Leite (a pagar em 2021)
  • R$ 800 mil a Fabio Mello (a pagar em 2021)

O Tricolor também teve problemas com obrigações trabalhistas e dos direito de imagem. Além disso, teve problemas para honrar os vencimentos com a equipe.

Assim como teve problemas para quitar as transferências que realizou de 2019 a 2020. Alguns clubes chegaram a acionar o clube na FIFA e a equipe quase entrou no mecanismo Transferban (sanções que as entidades de prática desportiva podem sofrer em razão do descumprimento ou violação do Regulations on the Status and Transfer of Players – RSTP. Essa punição administrativa aplicada pela FIFA versa sobre a impossibilidade de os clubes realizarem novas contratações em razão de pendências financeiras na transferência de outros atletas).

Em 2019, havia:

  • R$ 98 milhões a pagar para outros clubes por aquisições de atletas
  • R$ 35 milhões a pagar por intermediações em vendas de atletas
  • R$ 33 milhões a pagar por intermediações em aquisições de atletas

Em 2020, havia:

  • R$ 66 milhões a pagar para outros clubes por aquisições de atletas
  • R$ 65 milhões a pagar por intermediações em vendas de atletas
  • R$ 40 milhões a pagar por intermediações em aquisições de atletas
Gestão de Leco deixa o São Paulo com problemas financeiros graves
Balanços financeiros

Além dessas, existem as dívidas não provisionadas. O clube  tem ações judiciais (cíveis e trabalhistas) movidas contra ele em andamento. O São Paulo possui R$ 129 milhões em processos em que seu departamento jurídico considera a derrota apenas “possível”. Isso significa que o endividamento pode ficar ainda maior.

  • R$ 28,5 milhões para Prefeitura de São Paulo
  • R$ 8,5 milhões para o Sindicato de Atletas de São Paulo
  • R$ 13 milhões para a Receita Federal
  • R$ 28 milhões em ações trabalhistas de atletas
  • R$ 13 milhões em ações trabalhistas diversas
  • R$ 38 milhões em ações cíveis diversas

Previsão para o futuro

O time está em uma situação similar a uma pessoa que estourou o cartão de crédito. O time tem dívidas recorrentes para pagar, porém, os juros das dívidas passadas são tão altos que o clube não consegue nem quitar o valor dos juros e nem fazer o pagamento total das dívidas do mês.

O presidente Julio Casares buscou adequar o setor financeiro do clube. Fez dois empréstimos com prazo de pagamento para 2022 e busca pagar o valor de R$ 393 milhões.

No mais, o clube ainda tinha R$ 65 milhões a receber no curto prazo por jogadores vendidos. Sabe como é: a receita aparece toda de uma vez ali nas transferências, mas as vendas são parceladas, então ainda tem dinheiro para entrar das negociações feitas recentemente.

Entre os valores a entrar e o débito, o clube se encontra com um problema de R$ 328 milhões. O time tem poucas opções para resolver esse problemas: vender mais jogadores para conseguir dinheiro rápido, tentar mais alguma coisa em empréstimos, implorar aos credores para que tenham paciência e não levem suas insatisfações para a justiça. Se nada disso der certo, vira calote, multa e ação judicial. Com juros, claro.

Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, deixou um São Paulo muito pior do que encontrou. Após mais de cinco anos no poder, o cartola investiu como nunca e deixou um legado que levará anos para ser desfeito. Mesmo se tivesse sido campeão, teria causado um estrago enorme.

Se Julio Casares não começar uma reestruturação (de verdade) para já, o futuro tricolor pode se tornar ainda mais sombrio.

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