Crespo é substituído por Ceni, que pode ter a última grande chance na carreira | OPINIÃO

Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC

Chegou ao fim a inconsistente ‘era Crespo’ no São Paulo. Dentre um título, que o põe na história do clube como o treinador que encerrou o árduo jejum de quase uma década sem conquistas, e eliminações vexatórias na Libertadores e Copa do Brasil, a passagem do argentino divide opiniões.

Indo direto aos números, foram 53 partidas no comando tricolor, com 24 vitórias, 19 empates e dez reveses – 57,23% de aproveitamento. A situação ainda piora quando analisando o passado recente: desde o dia 26 de agosto, o início de um período de dez
jogos até sua demissão, são sete empates, uma vitória e duas derrotas, incluindo a eliminação para o Fortaleza EC pelas quartas de final da copa nacional.

O trabalho, no entanto, começou alegre. Com apenas um desar, a melhor campanha na fase de grupos do Campeonato Paulista e discutivelmente o futebol mais bem jogado do País à época, Hernán Crespo liderou o São Paulo em campanha praticamente irretocável no estadual, coroada com título que não vinha desde 2005 para cima do rival Palmeiras.

Mas o desempenho da equipe caiu. Também evidenciado pelos números, o argentino sofreu com a aparentemente má afeição física dos jogadores, que logo acumularam-se em 28 desfalques no período de março ao início de julho. O destacável, ainda, é que apenas noves desses estiveram fora de ação por problemas que não musculares, conforme levantamento do jornalista Alexandre Giesbrecht, trazendo à tona justificáveis questionamentos em direção ao preparo físico dos atletas.

Por um outro lado, é justamente o trabalho do treinador encontrar soluções para tais empecilhos, ainda lembrando que a equipe de apresto físico tinha respaldo de Crespo. Portanto, parte desse problema de lesões também cai na conta do treinador, bem como da diretoria contratante.

Ao mesmo pé, faz-se necessário atribuir as devidas ratificações em direção à brusca queda de rendimento de atletas que antes desempenhavam funções até certo modo impactantes e de suma importância no modo da equipe atuar. Daniel Alves, Pablo, Tiago Volpi e algumas crias de Cotia passaram a ser alvos de críticas vindas da torcida.


Hernán Crespo, contudo, seguia bancado. Muito em função do crédito conquistado com o comprometimento, ética e declarações de orgulho em defender o clube, o treinador até era passível de crítica, mas pouco balançava… até que os resultados passaram a acompanhar a queda de desempenho.

O São Paulo avançou nas oitavas da Libertadores com vitória sobre o Racing, que não só não permaneceu invicto para o time no Morumbi no jogo de ida, como também quebrou um recorde do clube de nunca ter perdido para uma equipe argentina em seus domínios, com derrota por 1 a 0 na fase de grupos. Mesmo assim, contando com atuação de gala do recém-promovido da base Marquinhos e Emiliano Rigoni, até hoje principal jogador do time, bateu o rival sul-americano por 3 a 1 no jogo de volta.

E muito disso cai, claro, na conta do argentino. No entanto, fato é que as atuações não eram tão sólidas, respaldadas pelo posicionamento aquém do que se planejava no Brasileirão somado às atuações ruins do ‘time B’ em parte da fase de grupos da competição continental. A pressão logo atingiria o pico com a primeira derrota e eliminação para o Palmeiras na Libertadores, com placar agregado em 4 a 1 nas quartas de final.

Dito tudo isso, Crespo merecia mais tempo? Os últimos 40 dias foram todos voltados ao Campeonato Brasileiro, sem qualquer evolução no plano de jogo da equipe, ainda que Calleri e Gabriel Neves tenham sido contratados. A sombra de Rogério Ceni, sem dúvida alguma, foi grande e influenciou na decisão de demissão da diretoria, que tem justificativas para tanto.

Assim, qualquer análise voltada à saída de Crespo deve vir relacionada à ascensão de Ceni, um dos antigos desejos do presidente Casares, no mercado. Junto à figura de um treinador com possivelmente a última grande chance da carreira, vem a figura do maior ídolo da história do clube, ainda que com alguns ressentimentos divididos por parte da torcida no pós-Flamengo.

E o São Paulo não deve brigar para contra o rebaixamento. Tem time melhor e prognóstico mais positivo do que Chapecoense, Sport Recife, Grêmio FBPA, Santos FC, SC Ceará, Cuiabá, Juventude e Bahia – e potencialmente um treinador melhor. O início de trabalho de Ceni, entretanto, será sob pressão. E resta saber se o ex-goleiro artilheiro terá competência no cargo para substituir o homem que tirou o São Paulo da fila.


Valentin Furlan

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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