75 anos da estreia do Diamante Negro!

Há 75 anos, Leônidas da Silva estreou pelo Tricolor em um clássico e em um estádio lotado! Superando todos os adversários e todas as desconfianças, ele transformou o São Paulo em um dos grandes clubes do Brasil. Conheça, abaixo, um pouco mais da trajetória do grande craque são-paulino!

Leônidas foi anunciado como jogador do São Paulo via rádio no dia 1º de abril de 1942 ao custo de uma transferência no valor de 200 contos de réis. Uma verdadeira fortuna (para se ter ideia, a loteria federal – prêmio máximo à época – do dia 4 de abril era no montante de 300 contos).

Ou seja, da mesma forma que ninguém acreditava ganhar na loteria, ninguém acreditou que Leônidas havia sido contratado de fato.

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A dificuldade de aceitação não se dava somente pela quantia de dinheiro envolvida – então a maior negociação da história do futebol sul-americano –, mas pelo fato de que, ainda que Leônidas fosse o melhor jogador brasileiro em todos os tempos, tendo levado a Seleção à semifinal da Copa do Mundo na França, em 1938, se tornado artilheiro da competição e conquistado o apelido de Homem-Borracha pela sua extrema habilidade com a bola nos pés, o craque estava sem atuar nos gramados, de modo oficial, há quase um ano.

Por problemas legais com a junta de serviço militar, o atleta ficou afastado do Flamengo e muitos consideravam que ele já estava acabado para o futebol. Contudo, Leônidas ainda era Leônidas, o que para aquele período significava ser o homem mais famoso do país, superando até mesmo Getúlio Vargas e ficando atrás somente, e talvez, de figuras quase mitológicas, como santos e afins.

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Como uma verdadeira estrela de cinema (aliás, em 1951 o jogador chegou a realmente atuar nas telas de cinema, no filme Suzana e o Presidente), Leônidas foi o primeiro atleta brasileira a virar garoto propaganda. Não foi de se estranhar, então, todo o inusitado dessa contratação.

Mas, quando “a ficha caiu”, também não foi de espantar a tremenda recepção que o jogador teve, por parte dos são-paulinos e da população em geral, quando no dia 10 de abril, às 20h, chegou à cidade de São Paulo e, na velha Estação do Norte, no Brás, foi carregado nos ombros por uma multidão de mais de dez mil pessoas que o conduziram até a sede do Tricolor, na Rua Dom José de Barros.

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Reza a lenda que, uma senhora dos arredores, ao ver tamanha comitiva a desfilar pelas ruas da cidade, teria dito, impressionada: “Mas será o Benedito? ”. Imaginando tratar-se de uma procissão. A frase, posteriormente, se tornaria uma expressão popular.

Leônidas, contudo – e como era de se esperar – estava fora de forma e longe de condições de poder estrear tão prontamente pelo clube. A comissão técnica e os dirigentes do Tricolor prepararam, então, um cronograma, um plano de metas e uma dieta especial (com a primeira nutricionista contratada por um clube de futebol no Brasil) para recuperar o físico do atleta.

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Por mais de um mês, o craque passou por um condicionamento pesado, que envolvia até mesmo treinamento com pesadas malhas de lã sob sol a pino.

O Diamante Negro poderia ter retomado o ritmo de jogo atuando em partidas menores, mas todos envolvidos, inclusive o próprio jogador, queriam mostrar logo que Leônidas estava apto e nada melhor que um clássico para tirar quaisquer resquícios de dúvidas ou suspeitas sobre a qualidade e o empenho

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Então, no dia 24 de maio, no Pacaembu, em uma partida entre São Paulo e Corinthians, com mando deste último, Leônidas estrearia no Tricolor e revolucionaria não somente o clube, mas o futebol brasileiro como um todo, despertando um novo gigante nacional deste esporte.

Mas até mesmo gigantes devem dar um passo de cada vez, e tudo começou naquele Estádio Municipal de São Paulo lotado com mais de 70 mil pessoas (70.028, mais precisamente falando – marca que é o recorde do Pacaembu até hoje).

O jogo transcorreu muito aguerrido e movimentado, com Leônidas sempre marcado de perto por Brandão – ainda assim, o centroavante conseguiu encontrar espaço para fornecer a assistência para o gol de Lola, o primeiro do São Paulo no jogo. O Tricolor, que chegara a ficar atrás no marcador por duas vezes, virou o placar aos 36 minutos da etapa final com Teixeirinha.

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Contudo, faltando dois minutos para o fim da partida, o Corinthians empatou com Servílio. 3 a 3. Apesar da boa estreia, em termos de movimentação e participação em gols, a imprensa, de modo geral, condenou a atuação e a contratação de Leônidas. Rapidamente se espalhou pela cidade, como rastilho de pólvora, que o atacante era um “bonde de 200 contos” e que, se Leônidas era um diamante negro, este teria sido roubado e encontrado no bolso do marcador adversário.

Essa reação enervou tanto Leônidas, que guardou um rancor tão profundo em seu âmago, que ele prometeu a si mesmo, e a todos, que jamais seria questionado novamente por uma partida contra aquele rival. Nas palavras do próprio: “Se, de um lado, essas críticas me atingiram, certamente serviram-me de estímulo maior, tocando em meus brios de atleta e de homem e fazendo-me reagir para contraria os incrédulos e justificar a confiança dos que me haviam contratado.”.

Dito e feito. Até aposentar-se dos gramados, Leônidas voltou a atuar em 19 majestosos, do qual saiu vitorioso em 10, sem perder em outros quatro e marcando 11 gols!

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O sinal de que a vinda de Leônidas foi abençoada e que sua passagem pelo Tricolor daria certo veio na terceira partida do centroavante pelo clube. Contra o Palestra (14/06), Leônidas marcou o único gol do São Paulo na partida de maneira espetacular e tão particular, marca registrada do jogador – um gol de bicicleta -, que levou o locutor Geraldo José de Almeida à loucura (arquivo de Luiz Ernesto Kawall, do Museu da Voz):

A contratação de Leônidas e a era de ouro por ele desencadeada podem ser consideradas um marco de consolidação do São Paulo como um clube verdadeiramente grande. Com Leônidas como estrela maior, a “moeda caiu em pé” e o time ganhou cinco campeonatos paulistas em sete anos (1943, 1945, 1946, 1948 e 1949), sendo reconhecido aonde fosse com a alcunha de “Rolo Compressor”, definitivamente estabelecendo-se como potência do futebol nacional.

Ficha do jogo

estreia

CORINTHIANS 3 X 3 SÃO PAULO
Competição: Campeonato Paulista de 1942 – 1º Turno
Data: 24 de maio de 1942
Local: São Paulo (SP) Estádio Municipal de São Paulo – Pacaembu
Árbitro: Jorge Gomes de Lima “Joreca” (futuro técnico do São Paulo)
Renda: 244:414$000 Réis
Público: 70.281 pagantes

SPFC: Doutor; Fiorotti e Virgílio; Waldemar Zaclis, Lola e Silva; Luizinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Teixeirinha e Pardal. Capitão: Fiorotti. Técnico: Conrado Ross

Gols: Lola, 30/1; Luizinho, 15/2; Teixeirinha, 36/2

Rival: Joel; Agostinho e Chico Preto; Jango, Brandão e Dino; Jerônimo, Milani, Servílio, Eduardinho e Hércules. Técnico: Rato

Gols: Jerônimo, 10/1; Servílio, 3/2; Servílio, 43/2

Leônidas da Silva 

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Centroavante

  • Jogos disputados pelo SPFC: 212 (137V, 36E, 38D)
  • Estreia: 24/05/1942 (São Paulo 3 x 3 Corinthians)
  • Último jogo: 23/12/1950 (São Paulo 2 x 1 Nacional)
  • Gols Marcados no SPFC: 144 (8º maior artilheiro do clube)
  • Nascimento: 06/09/1913. Rio de Janeiro (RJ).
  • Falecimento: 24/01/2004. Cotia (SP).

 Títulos conquistados no SPFC:

  • Campeonato Paulista de 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.
  • Taça dos Campeões Estaduais Rio de Janeiro-São Paulo: 1943, 1946 e 1948.
  • Taça Cidade de São Paulo: 1944.
  • III Olímpíada Tricolor: 1944.
  • Taça Coletividade Brasileira, Paraguai: 1945.
  • Taça Cia. Internacional de Capitalização: 1946.
  • Taça Argemiro Ribeiro de Oliveira, Barretos: 1946.
  • Taça Cid de Mattos Vianna, Minas Gerais: 1946.
  • Taça Amizade, Rio de Janeiro: 1946.
  • Taça Governador Octávio Mangabeira, Bahia: 1947.
  • Taça Castelões, Ribeirão Preto: 1947.
  • Taça Dr. José Ribeiro Fortez, São Joaquim da Barra: 1948.
  • Troféu Casanova, Barretos: 1948.
  • Taça Corante Wilson, Paraná: 1949.
  • Pentagonal Rio-São Paulo – Taça R. Monteiro: 1949.
  • Taça Presidente Cícero Pompeu de Toledo, Bauru: 1949.
  • Troféu Filhos de Araçatuba, Araçatuba: 1949.

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Citações

Alfredo Foni, zagueiro da Seleção Italiana campeã mundial em 1938
“Foi como um presente dos céus saber que Leônidas não jogaria. Verdadeiro artista, malabarista da bola, era o jogador que surpreendia a todos”.

Eduardo Galeano, escritor e jornalista
“Tinha o tamanho, a velocidade e a malícia de um mosquito”.

Armando Nogueira, escritor e jornalista
“A bola era a lua cheia de graça de Leônidas da Silva”.

Mário Filho, escritor e jornalista
“Leônidas não explicava nada. Quando a gente estava arregalando os olhos para ver se via, a mágia já estava feita”.

Nelson Rodrigues, escritor e jornalista
“Um jogador rigorosamente brasileiro, brasileiro da cabeça aos sapatos. Tinha a fantasia, a improvisação, a molecagem, a sensualidade do nosso craque típico”.

Jose Poy, ex-jogador e técnico
“Entre Pelé e Leônidas existe uma diferença, a mídia eletrônica”.

Agnelo de Lorenzo, antigo funcionário e 1º historiador do São Paulo
“Leônidas era um senhor jogador, resolvia sozinho. Tanto que ele ia embora pra casa e os marcadores iam atrás dele, quatro ou cinco, de tão atormentados”.

Dona Catharina, cozinheira do São Paulo nos anos 40
“Leônidas era uma maravilha! Ele comia lá em casa também, junto com outros jogadores. Mas ele queria comer sozinho, ele comia na cozinha mesmo”.

Caxambu, ex-goleiro do São Paulo sobre uma vez que enfrentou Leônidas:
“No último minuto de jogo teve uma penalidade que o Leônidas bateu e eu defendi. Até hoje ele não gosta que eu fale nisso, porque ele fez três gols em mim, na verdade, mas esse pênalti que eu defendi foi meu maior galardão”.

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