Raí pode ter acabado com a carreira de Jardine

A coluna Tricomentando é escrita pelo Lyncon Pradella e será publicada semanalmente, com muita polêmica! Confira o índice da coluna.

A categoria de base e o profissional são dois mundos completamente diferentes. Ainda mais no São Paulo, onde a gestão de jovens jogadores é feita excepcionalmente bem, ganhando vários títulos, enquanto o profissional está jogado às traças há anos, acumulando apenas vexames.

A prova maior disso é a possível destruição da carreira de Jardine causada pela péssima administração de Raí

O vitorioso treinador do sub-20 foi alçado a assistente técnico em 2018, com a chegada de Aguirre. Acredito que deva ter sido um bom aprendizado, uma vez que compartilhou ideias com um grande técnico como o uruguaio e aprendeu a lidar com o topo da tabela e com sua derrocada. Além disso, passou duas semanas estudando na Europa. Aprimorou seus conhecimentos. Era convicto que Jardine, algum dia próximo, seria o treinador do Tricolor.

Ninguém esperava que esse dia fosse tão próximo assim. Faltando apenas cinco jogos para o fim do Brasileirão e com o São Paulo AINDA no G4, Raí tomou a pior decisão da sua vida e a que iniciaria o desastre na carreira de Jardine: demitiu Aguirre. A explicação? “Para tentar fazer o grupo reagir e não perder a vaga direta na Libertadores”. Pronto. O jovem treinador era alçado ao comando do time, ou melhor, alçado aos leões.

Com ideias de jogo totalmente opostas ao do uruguaio e sem tempo para treiná-las, Jardine optou corretamente por manter o time igual e fez pequenas mudanças. Mas não foi suficiente para fazer o elenco “reagir”. A equipe do Morumbi perdeu a vaga direta para o torneio mais importante e, de quebra, André Jardine ganhou o selo de culpado.

Fim de 2018. Raí, nos bastidores, junto ao Leco, tenta viabilizar a contratação de Cuca. Por culpa do destino, o ex-treinador são-paulino sofreu um ataque cardíaco e não pôde assumir. Raí, então, se vê obrigado a continuar com Jardine. Ele não apostou no jovem treinador.

Em seguida ocorre mais um grande erro do ídolo e agora Diretor de Futebol. Se você opta por manter um jovem treinador, sem experiência no profissional, você precisa dar condições para que ele consiga trabalhar sem pressão, pelo menos no começo. O que aconteceu, entretanto, foi o contrário.

Com uma pré-temporada curta e uma decisão logo à frente, São Paulo viaja para a Florida Cup para jogar contra clubes europeus no auge físico e técnico. Para que? Para apenas sair de lá com uma crise instaurada.

Sim, um torneio que vale absolutamente nada conseguiu gerar pressão em Jardine. Tudo o que ele não precisava e que Raí tinha que evitar.

Outro erro que colocou Jardine na berlinda foi a liberação de Luan para o Sul-Americano sub-20. Na base, a dupla de volantes do treinador era Luan e Liziero. Os dois juntos faziam exatamente o que ele pedia porque ambos tinham as características para seu esquema. Sem Luan, Jucilei, que já vem mal há tempos, ficou com a vaga. Contra o Talleres ele foi o pior em campo e responsável direto pelos dois gols sofridos.

Voltando, chega o Paulistão. Outro torneio que não deveria valer mais que um treino tático a cada jogo. Mas lembram da pressão que a Florida Cup causou? Ela foi fundamental para que Jardine cedesse e colocasse os titulares nas primeiras cinco partidas. Raí não blindou o treinador. Raí não ficou ao lado dele. O Diretor de Futebol baixou a cabeça e deixou Leco e companhia tumultuar o ambiente. Resultado? Liziero machucado contra o Guarani. Ou seja, os dois jogadores fundamentais que fariam o estilo de jogo de Jardine dar certo, Luan e Liziero, estavam fora do jogo mais importante do ano. Tudo porque Raí não esteve convicto no trabalho de Jardine em momento algum. Liberar Luan foi a prova disso.

Com esse péssimo planejamento, o São Paulo chegou a Córdoba com um elenco desgastado pela quantidade de jogos feito pelo Paulista. Jucilei, onde era pra ser Luan, e Hudson, onde era pra ser Liziero, não funcionou, como todos sabiam. Hudson foi o melhor em campo, mas acabou correndo por ele e pelo companheiro de posição que estava perdido. Foi expulso e o Tricolor voltou para São Paulo com um placar quase irreversível.

Não estou defendo Jardine de toda a culpa. Ele tem seu mérito. Algumas escalações erradas, algumas substituições erradas. Mas, de todos, é o menor dos culpados. Agora, certamente ele será demitido. Um novo treinador virá e o ciclo que se repete há 10 anos continuará. 0 perspectiva para que o São Paulo mude.

Enfim, na base, onde a gestão é realmente profissional, Jardine conquistou inúmeros títulos (com Luan e Liziero de dupla). Ao subir, encontrou uma panela de pressão e um Diretor de Futebol que fez um dos piores planejamentos que já vi e que pode ter acabado com sua promissora carreira de treinador.


Lyncon Pradella. Nasci, cresci e morrerei são-paulino. Jornalista que não esconde o amor pelo clube. Meus ídolos: Ceni, Lugano, Mineiro, Dagoberto e Hernanes.

*As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não refletem a opinião do site

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Foto: Divulgação / SPFC

*Excepcionalmente, a coluna Tricomentado está sendo publicada nesta quinta-feira.

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