É claro que fica sempre muito fácil falar qualquer coisa ruim depois de um fracasso e eliminações, mas eu queria compartilhar aqui, algo que sempre falo nas Lives Pós-Jogo em nosso canal no YouTube.
Como sempre, não acho que seja tudo tão simples, culpando apenas um vilão ou sacando do bolso a solução mágica para resolver os problemas do São Paulo que vem de muitos anos.
Se eu pudesse resumir o que penso, separo em três partes: Imagine um bolo com três grandes pedaços.
Esse grande bolo, carregado de culpa, na minha visão, tem esses três grandes pedaços, que são a receita do fracasso do time atual do São Paulo, e curiosamente, dos últimos anos.
Pedaço 1: Jogadores / Elenco mal montado

O São Paulo tem um elenco com muitos jogadores medianos, de nível mais do que questionável e é mal montado para as necessidades técnicas que possui. Os reforços que chegam não elevam o nível do time ou são oportunidades de mercado que não suprem as principais deficiências.
Há diversos jogadores que nem deveriam ter sido cogitados no clube, mas foram trazidos ou como solução (caros e que não mostram nada em campo), como apostas (que não são e nunca serão protagonistas) ou sem qualquer critério técnico (Marcos Guilherme, por exemplo).
Não temos grana para contratar? É verdade, mas o pouco que o São Paulo ainda tem, é muito mal utilizado e investido em peças que não vão resolver.
Pedaço 2: Treinador

Rogério Ceni é um treinador em desenvolvimento, não está na primeira prateleira de treinadores do país, mas, assim como Crespo, foi escolhido porque não havia outras opções melhores disponíveis. No caso de Ceni, nem dá pra dizer que foi uma aposta, pois ele foi contratado por sua ligação com o clube.
Comparo sempre sua trajetória com a de Muricy, que assumiu o time do São Paulo depois de Telê, mas ainda não estava pronto e retornou ao clube dez anos depois, quando já havia construído uma carreira em outros clubes, para vencer aqui.
Torço muito por Rogério, acho que seria sensacional ele levantar um título como treinador, mas ele tem muitas teimosias, conceitos que em campo não se mostram efetivas e este jogo de ida da semifinal contra o Atlético-GO simbolizou muito um castigo por uma das insistências: A expulsão de Igor Gomes, que desmoronou o time.
Eu sou contra demissões no meio de temporadas, acho que podem causar efeitos mais desastrosos do que benéficos, muitas vezes, mas como sempre comentei, Ceni não seria a minha primeira opção quando Crespo saiu.
Ele ainda pode se tornar um grande treinador e vencedor, como foi como jogador, mas acho que deveria ter passado mais tempo desenvolvendo sua carreira antes de voltar ao Morumbi.
Pedaço 3: Diretoria / gestão

Aqui um “pedaço” muito importante da culpa de tudo o que acontece neste clube há anos e que tem a ver com os outros dois primeiros pedaços citados acima.
Quando você tem uma diretoria que deve dinheiro e em postura, jogadores não respeitam e fazem o que bem entendem, pois não sentem o peso do comando. Vide as saídas mais recentes de Crespo e Diniz, que foram determinadas quando o elenco parou de jogar como antes.
Contratações erradas, populistas ou então por “oportunidades de mercado”, que na verdade são parte de acordos obscuros à visão do torcedor que não enxerga transparência, colaboram muito para um elenco mal montado e de nível mediano.
Além disso, situações não investigadas, manobras em estatuto para perpetuação no poder, foco em questões políticas ao invés da gestão do futebol, marcam a administração de clubes que são condenados a campanhas ruins e rebaixamentos.
Fora das quatro linhas, um clube parado no tempo, defasado em estrutura e profissionais, contamina também parte da torcida que acaba se acostumando com o cenário e entende que o melhor a ser feito, está sendo feito.
A receita do fracasso do São Paulo FC é a soma desses três grandes pedaços do grande bolo de culpa e não adianta mexer ou tentar “limpar” apenas um deles, mas sim o todo. E isso, infelizmente, eu não vejo que vá acontecer nos próximos anos.
Eu concordo com você. Sabemos que esses anos desastrosos são oriundos do que começou a ser plantado ainda na gestão do Juvenal, quando ele emplacou a ideia de que somos “Soberanos”. O clube acabou sendo endividado cada vez mais com o passar dos anos. Nenhum presidente teve culhão para fazer o que precisa ser feito e sempre utilizaram os treinadores como um escudo: aquele que no final das contas recebe a responsabilidade pelo fracasso da temporada.
Nesse cenário, olhando o todo, acabo sendo mais brando com os treinadores. O que cai muito nas costas deles são algumas teimosias. Como não lembrar do Diniz que se recusava a escalar o Luan? Como não citar o Ceni com Igor Gomes e Nestor? A responsabilidade dos treinadores acaba recaindo mais pelas decisões de campo/treinamento, do que pelo cenário.
Agora os jogadores. A partida de ontem me deu um forte sentimento de “já vi esse filme”. Refiro-me ao Brasileirão de 2020 onde os jogadores entregaram um título que estava nas mãos. A mesma coisa acontece agora. Quando comparo os dois times, vejo figuras repetidas como Reinaldo, o próprio IG, e, inclusive o Luciano. Sim, eu sei, boa parte da torcida é fã dele, mas eu tenho minhas dúvidas. Ele claramente rivaliza com o Calleri, tanto que não saem gols de um trabalho em conjunto deles. Pela valorização da torcida ele deveria ser um líder no elenco para conduzir o time para o título e não sinto ele assumindo esse papel. Dispensá-lo? Claro que não. Mas poderia ser mais do que é.
Coltando a falar do RC, ele deveria ser mais pragmático em diversas situações. Em outras precisa tirar o freio de mão do time. Ele trava muito os jogadores, algo que sentia vendo o próprio Flamengo comandado por ele. Enfim, sabemos que falta subir alguns degraus na evolução do treinador. O que me deixa inconformado é que o Muricy deveria ser um “tutor”, alguém que colocasse certos limites a essa carta branca que o Ceni tem. Salvo engano o Juvenal dava seus pitacos com o próprio Muricy.
Enfim, seguimos torcendo (e sofrendo), acreditando que voltaremos um dia a sorrir e comemorar!
Saudações Tricolores!